Ricos vigiados e só um partido no poder: China é socialista ou capitalista?

Sob liderança do Partido Comunista, mas com bilionários e empresas globais, a China combina elementos socialistas e capitalistas em um modelo que ainda divide especialistas — e desafia a ordem liderada pelos Estados Unidos.

O que aconteceu

A China combina elementos do socialismo e do capitalismo, mas não há consenso sobre o que predomina. O professor de relações internacionais Vladimir Feijó, da Uniarnaldo Centro Universitário, e o mestre em direito internacional Luís Fernando Baracho, da Universidade São Judas, classificam o regime como híbrido, com economia de mercado coordenada pelo Estado. Já o economista Osmar Visibeli, também da São Judas, rejeita essa leitura: para ele, a China não é uma economia de mercado, mas um sistema autoritário.

China construiu regime baseado em coletivismo, identidade cultural e centralização estatal, muito distante da proposta original de Karl Marx. "É um comunismo à la China", afirma Feijó. Para ele, o Partido Comunista substituiu o "mandato do céu" por uma autoridade moderna que promete prosperidade e estabilidade.

Na tradição chinesa, o "mandato do céu" (tianming) era a justificativa moral e espiritual para o poder imperial. Segundo essa crença, um governante só teria legitimidade enquanto assegurasse ordem, prosperidade e justiça. Se houvesse guerras, fome ou corrupção, isso era visto como sinal de que o céu havia retirado seu mandato — legitimando a substituição do soberano. O conceito foi usado por dinastias durante séculos e, segundo Feijó, foi incorporado simbolicamente pelo Partido Comunista Chinês como novo detentor da missão de garantir estabilidade e grandeza nacional.

China permite a iniciativa privada, mas nos limites traçados pelo Estado. "A autonomia das empresas é sempre condicionada pelos planos quinquenais do governo", diz Baracho. "Mesmo empresas privadas sabem que o Estado pode vetar decisões estratégicas."

A lógica de mercado seria incompatível com o controle exercido pelo Partido. É o que afirma Visibeli, que considera equivocado falar em modelo híbrido. "Inexiste lógica de mercado com intervenção estatal na concessão de crédito ou na definição de tarifas", afirma. Ele classifica o sistema como um mecanismo de poder que tolera o acúmulo de capital apenas quando subordinado aos interesses do Partido.

A China reconhece outros partidos políticos, mas o poder é concentrado no Partido Comunista. Além dele, existem oito partidos "democráticos" legalmente autorizados, como o Partido Democrático dos Camponeses e Trabalhadores e a Liga Democrática da China. Esses partidos, no entanto, não fazem oposição real: atuam sob a coordenação da chamada Frente Unida e cumprem função consultiva, sem autonomia para disputar poder. As informações são da embaixada da China no Brasil.

Na prática, o país funciona como um sistema de partido dominante. O Partido Comunista detém o controle total sobre o Estado, as Forças Armadas e o Judiciário, define todas as diretrizes políticas e econômicas e exerce poder de veto sobre qualquer decisão institucional. Embora a existência de outros partidos seja usada como sinal de pluralidade, o monopólio do poder permanece inquestionável.

Bilionários vigiados

Ascensão econômica individual é frequentemente vista com desconfiança pelas autoridades chinesas. "A ostentação é combatida como desvio de conduta", explica Feijó. Segundo ele, campanhas anticorrupção servem para reafirmar o controle ideológico e punir aqueles que extrapolam os limites tolerados pelo regime.

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A influência chinesa no mundo cresce sem imposição ideológica. Baracho observa que, ao contrário da antiga União Soviética, a China não busca exportar seu modelo. "Pequim quer aliados, não regimes iguais ao seu", diz. Por meio de investimentos, diplomacia e financiamento, o país projeta poder sem forçar a adoção de seu sistema político.

O futuro do modelo depende da aceitação interna — e ela pode estar mudando. Feijó chama atenção para uma mudança geracional: "As novas gerações de chineses já não aceitam esperar décadas por qualidade de vida. Querem conforto agora". Segundo ele, períodos de instabilidade econômica ou ameaça de guerra podem minar o pacto tácito que sustenta o poder do Partido Comunista.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do informado em versão anterior do título desta reportagem, o Partido Comunista não é a única legenda da China. A informação foi corrigida.

16 comentários

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Luiz Amado Garcia Pereira Dias

O que importa é que funciona, gerando prosperidade, equilíbrio e melhoria nas condições de vida de sua imensa população.

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Francisco Camilo de Campos

A China é uma ditadura capitalista. No entanto menos ditatorial que "Tramp" e USA.

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Rodrigo Lopes

Todo dia matéria paga a favor do Part. Comun. Chinês. A mão do uol nem treme mais 

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