Adriana Barbosa: 'No Brasil, empreendedor que erra perde investimento'
Enquanto em países como os Estados Unidos muitos empreendedores são valorizados depois de terem falido ou descontinuado um negócio, no Brasil acontece o contrário: quem erra, diminui as chances de receber investimentos no futuro. Falta no país a visão de que o erro pode tornar o empreendedor mais experiente e até mais preparado para estar à frente de um empreendimento.
A análise é de Adriana Barbosa, diretora executiva da Preta Hub e fundadora do Festival Feira Preta, maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina. "Em outras culturas, o investimento vem porque você errou, inclusive. Aqui não, quanto menos você errar, mais você tem possibilidades de receber investimento, e vice-versa", diz ela, em participação no Divã do CNPJ, do canal UOL.
Diferente de outras culturas empreendedoras, tipo Estados Unidos, e não é porque 'Ai, o Estados Unidos é melhor', não é uma comparação. O fato é que, aqui, a gente só celebra o sucesso, a gente não fala do erro. É muito difícil te chamarem pra falar do seu fracasso. Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta
"No caso do empreendedor negro, é pior ainda. Ele é o que menos recebe crédito, porque não pode se dar o luxo de errar", critica Barbosa.
Barbosa diz que, em sua organização, a mensagem que ela transmite aos colaboradores é a de que as melhores soluções, muitas vezes, só surgem depois de muitas falhas. Para ela, o erro de um integrante deve ser "corresponsável".
"Digo para os meus colaboradores 'se tem um lugar onde você pode errar, é aqui', mas esse erro será corresponsabilizado. Eu vou estar junto com você, mas a sua tomada de decisão precisa ser junto comigo. É um erro nosso", diz ela.
Em 2024, o Festival Feira Preta reuniu mais de 60 mil pessoas e fez circular mais de 7 milhões de reais. A iniciativa começou com 40 empreendedores na Praça Benedito Calixto, em São Paulo, em 2002, com o objetivo de vender produtos de empreendedores negros e, com o passar do tempo, se tornou um festival com conteúdo, produtos e serviços diversos.
Em 2016, porém, Barbosa diz ter enfrentado uma crise: "Eu quebrei legal, estava muito ruim de grana (...) E veio um empreendimento dizendo 'quero comprar a Feira Preta, quero ser sócio'. Eu perguntei quais eram os parâmetros. Era um investidor que queria colocar dinheiro e disse 'vou investir e, depois de três anos, você sai'. Eu não quis. Estava capenga, mas repensei e não quis vender daquela forma".
Não estou falando que a gente não tem que errar. Quem experimenta, erra. Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta
Barbosa conta que já fez alguns investimentos e um deles deu errado. Era um foodtruck chamado "Preta Trucker", inspirado na gastronomia africana. "Sou apaixonada por gastronomia e fiquei com esse empreendimento por mais ou menos um ano, com sócios, mas acabou não vingando".
A fundadora da Feira Preta diz que ainda tem vontade de empreender, mas que hoje é menos destemida do que antes. "Uma questão que pega na vida pessoal é o volume de trabalho. Não é só dinheiro, você começa a avaliar 'vale a pena? Eu vou ter energia pra tocar essa história?'".
Assista o Divã de CNPJ completo no Canal UOL:
O videocast é exibido toda segunda-feira, às 18h30, no Canal UOL e no YouTube do UOL. A versão em áudio do programa também fica disponível nas plataformas de podcast. O programa completo com Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta, já está disponível no YouTube do UOL:
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