Bolsa bate nova marca e dólar sobe com juro chinês

A Bolsa de Valores de São Paulo bateu novos recordes nominais nesta terça-feira (20), depois de fechar em alta de 0,23%, indo a 136.087 pontos. Mas o destaque do dia foi a subida da moeda americana frente ao real.

O dólar comercial fechou com valorização de 1,33%, a R$ 5,484. Já o dólar turismo ficou cotado a R$ 5,691. Problemas na China e no Japão influenciam a moeda aqui.

O que aconteceu

Na madrugada, o banco central da China manteve os juros de um e cinco anos estáveis em 3,35% e 3,85%, respectivamente. "Isso frustrou o mercado que esperava que o governo local diminuísse as taxas para dar estímulos à economia chinesa", explica Ariane Benedito, economista especialista em mercados de capitais. Como a China é o maior destino das exportações brasileiras, isso afetou o real, que perdeu valor.

E teve problema no Japão também

O real sentiu a alta do iene hoje. Nesta terça-feira, Banco Central do Japão (BoJ) interveio para valorizar o iene, que teve alta de 0,88% em relação ao dólar.

Além disso, o BoJ divulgou um documento falando em mais alta de juros. Nele, o banco diz que, por conta do envelhecimento da população, existe uma pressão salarial maior que os custos das matérias-primas como principal fator de inflação. Por isso, o BoJ não descarta novas altas de juros para conter os preços por lá.

Quando BoJ sobe juros ou o iene se valoriza, acontece uma fuga de dólares do Brasil. Isso porque muitos investidores desmontam as chamadas operações de "carry trade", para não perder dinheiro.

Tanto que outra moeda emergente, o peso mexicano, também caiu hoje. A divisa perdeu 1,62% nesta terça em relação ao dólar, uma vez que o México também é um dos destinos dos investidores que gostam de emprestar dinheiro a baixos custos no Japão e investir em mercados onde os juros são altos.

Bolsa cai de manhã e sobe à tarde

Já a Bolsa teve um dia de sobe e desce. Pela manhã, alguns investidores decidiram vender ações e, por isso, o índice caiu. A ideia era embolsar parte da alta dos últimos dias. Mas à tarde, os investidores voltaram comprando mais, e o Ibovespa foi para o azul. Desde que o mês começou, o Ibovespa acumula ganho de 6,60%. No ano, o ganho agora é de 1,42%.

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A expectativa de queda nos juros anima os mercados, pois mais dólares vêm para o Brasil. No último dia 15 de agosto, por exemplo, entrou R$ 1,29 bilhão de investidores no Brasil. Em agosto, já há um saldo positivo de R$ 4 bilhões.

Ainda tem espaço para subir?

Sim. Os recordes em pontos são nominais. Ou seja, não significa que o Ibovespa esteja no máximo histórico. Descontando a variação da inflação, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o Ibovespa ainda estaria muito longe do recorde real que foi em 20 de maio de 2008. Naquela época, o Ibovespa atingiu em pontos o que hoje corresponderia a 182.275 pontos.

De olho nos discursos

Hoje, em evento em São Paulo, falaram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad e o presidente do Banco Central, Campos Neto. Haddad afirmou que "não há razão nenhuma" para o PIB (produto Interno Bruto) do Brasil não crescer igual ou acima da média mundial. O ministro defende que o crescimento precisa ter qualidade. Para isso, ele avalia existir a necessidade de olhar para a formação bruta de capital, para os investimentos e para o mercado de trabalho. "Tudo tem que ser pensado de forma orgânica para manter a qualidade desse crescimento", declarou.

O presidente do BC disse que os diretores da autoridade monetária estão mais unidos. Segundo ele, "a equipe está focada e comprometida em levar a inflação para meta" após a divergência no encontro do Copom de maio gerar incertezas. "A gente entendeu que teve um problema que gerou um prêmio de risco que não foi bom para o Banco Central e nem para a economia", reconheceu.

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Além das falas no evento, uma entrevista do presidente do BC ajudou a conter a alta do dólar, segundo Ariane. "A gente sempre disse que se fosse necessário subir os juros, subiria. Mas não lembro de ter falado de alta de juros. O mercado já vinha colocando um pouco de expectativa de alta na curva", afirmou o executivo do BC, em entrevista ao jornal O Globo. Isso mostra que a aversão ao risco que faz o dólar subir vem de expectativa do mercado, e não de conjuntura econômica em si, explica a economista.

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