Bolsa cai e dólar sobe quase 2% com chance corte de juro menor

Depois de três pregões consecutivos batendo recordes, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou esta quinta-feira (22) em baixa. O Ibovespa teve queda de 0,95%, indo a 135.173 pontos, com o mercado apostando num corte de juros menor que o esperado nos Estados Unidos. Falas mais amenas de Gabriel Galípolo, diretor do Banco Central (BC), também estão sendo usadas como justificativa, principalmente para alta do dólar, que terminou o dia em uma alta forte, de 1,98%, com a cotação do comercial indo a R$ 5,591. O dólar turismo estava cotado a R$ 5,806 (venda).

O que aconteceu

A Bolsa caiu e o dólar subiu porque o mercado já alimentava a possibilidade de um corte de juros nos EUA de meio ponto percentual. Mas isso parece que não vai mais acontecer. As esperanças de um corte de 0,50 pontos se fortaleceu ontem pela manhã, com a revisão dos números de emprego americanos.

O mercado se animou quando o Bureau of Labor Statistics (BLS) publicou que a economia americana havia criado 818 mil empregos a menos do que o último levantamento. Com isso, a possibilidade de um corte de 50 ponto-base tinha voltado à mesa, explica segundo André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.

No entanto, a ata da última reunião do Fomc, o Comitê de Política Monetária (Copom) dos EUA, botou panos quentes nessas chances. Divulgada na tarde de ontem, a ata mostrou que o Fed está operando de forma cautelosa.

Diretores até quiseram cortar a taxa em julho, mas a maioria preferiu andar mais devagar e deixar a baixa para o mês que vem. "O mais provável neste momento é que um corte mais brando de juro ocorra em setembro, de 0,25 pontos base", diz Galhardo. Desta maneira, os investidores decidiram hoje vender, para embolsar o que ganharam até agora.

O dólar subiu não só no Brasil. "A única moeda emergente a se valorizar em relação ao dólar nesta primeira parte da manhã foi a lira turca", diz o especialista.

Mais dados foram divulgados

O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto dos EUA, que engloba os setores industrial e de serviços, caiu de 54,3 em julho para 54,1 em agosto. Ou seja, atingiu o menor nível em quatro meses, segundo dados preliminares divulgados nesta quinta-feira. "Os dados reforçam a possibilidade de um pouso suave, ou seja, de um corte de juros menor, mais gradual. Com isso a curva de juros subiu aproximadamente 8 pontos base e consequentemente levou o dólar a apreciar no dia", explica Gustavo Zuquim, gestor de portfólio do AndBank.

E teve mais: os pedidos iniciais de seguro-desemprego da semana passada nos Estados Unidos chegaram a 232 mil. A expectativa era de alta, como aconteceu, mas para 231 mil. O dado veio acima do anterior de 228 mil (revisado de 227 mil), segundo divulgou o Departamento de Trabalho nesta quinta (22).Os dados colaboram ainda mais para que o Federal Reserve, o Fed (banco central dos EUA) corte a taxa em setembro, mas de forma suave.

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Outras pistas serão dadas amanhã, no Simpósio de Política Econômica de Jackson Hole. Entre hoje e 24 de agosto, o Fed reúne bancos centrais do mundo todo, inclusive do Brasil, numa vila turística e montanhosa no estado americano de Wyoming. Roberto Campos Neto, presidente do BC aqui, participa hoje à noite (21h) do encontro. O presidente do BC americano, Jerome Powell, discursa na sexta (23).

Galípolo

Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do Banco Central (BC) criticou como o mercado interpreta suas falas. Em evento da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), ele disse que muitas vezes parte do mercado acredita que há uma "correlação mecânica" entre a taxa de câmbio e a política monetária.

Para ele, isso não é real. Existem outras variáveis, além do câmbio, que contam para definição dos juros. "O cenário é desconfortável para o cumprimento da meta de inflação. Gostaríamos de observar uma melhora das variáveis que pressionam a inflação", disse ele.

Ele também disse que não dá dicas ou "guidances" sobre o que vai acontecer nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária). "Daqui até a próxima reunião, teremos duas medições do IPCA ( Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), dados do PIB e outras informações de mercado, sem contar variáveis externas. São elas que vão balizar a política monetária. E se for preciso subir juros, não vamos hesitar em fazer isso", afirmou.

Depois de ter assumido um discurso mais conservador ao longo dos últimos dias, Galípolo procurou diminuir o tom. Foi o que disse Galhardo, do Remessa Online. Mas houve quem aprovasse o discurso. "Ele afirmou hoje que existe uma possibilidade de alta de juros e que o comitê não hesitará em aumentar a taxa, se necessário", analisou Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos. Ainda hoje, o diretor fala mais tarde em outro evento, às 17h. Ele é cotado para assumir a presidência do BC no próximo ano.

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Então acabou a fase de alta da Bolsa?

Não. Segundo o banco J.P. Morgan, o Ibovespa pode ainda chegar a 143 mil pontos até o fim do ano. A previsão anterior (feita em junho) da instituição financeira americana era de 135 mil pontos. Isso deve acontecer, segundo o banco, porque o Produto Interno Bruto (PIB) também está em expansão. "O esperado para o ano está agora em 2,9%, acima dos 2,2% em junho", publicou o JP, que também prevê que o dólar fique em R$ 5,20 e a inflação chegue a 4,2%.

Além disso, o banco revisou para cima o parâmetro P/L do Ibovespa. A relação preço/lucro compara o preço da ação com o quanto ela lucra. É um parâmetro que mostra se o preço das ações está baixo ou alto. Na ponta do lápis, se um P/L é de 5 vezes, quer dizer teoricamente que o investidor levaria cinco anos para ter o retorno do total que investiu na ação. Quanto mais baixo o P/L, mais barato está o ativo.

O banco prevê que o valor das ações em geral tem como aumentar ainda mais. Ele estima que o P/L dos papeis do Ibovespa passou de 7,6 vezes em junho para 8,4 vezes agora. E deve continuar subindo.

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