Acordo com credores é passo para Azul superar tempestade do setor aéreo

A companhia aérea Azul anunciou nesta segunda-feira (28) que fechou acordo com credores para melhorar sua situação financeira. O acordo é mais um passo da empresa na tentativa de deixar para trás a tempestade perfeita que se abateu sobre o setor desde a pandemia.

A dívida bilionária da Azul

O acordo prevê a contração de nova dívida de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,8 bilhões). Pelo acordo, os atuais credores fornecerão US$ 150 milhões com vencimento em 90 dias, e mais US$ 250 milhões após esse prazo, caso a empresa consiga atender a algumas condições. Há ainda a possibilidade de um crédito extra de mais US$ 100 milhões caso haja melhorias no fluxo de caixa da companhia.

Há possibilidade de conversão de US$ 800 milhões de dívida já existente em ações. Em comunicado ao mercado, a companhia ainda disse que está na mesa a possibilidade de converter parte da dívida atual em ações da empresa, caso haja melhora no fluxo de caixa da ordem de US$ 100 milhões por ano.

O novo empréstimo foi uma exigência de outro acordo firmado pela Azul com arrendadores e fabricantes de aeronaves. Pelo acordo, firmado no início de outubro, a Azul conseguiu reduzir cerca de US$ 550 milhões (R$ 3,1 bilhões) em dívidas com arrendadores em troca de uma participação acionária de 20% na empresa.

A situação financeira da Azul foi considerada 'insustentável' pela agência de classificação de risco Fitch. Em relatório divulgado em setembro, a agência destacou que a empresa tinha R$ 6 bilhões em dívidas de curto prazo, e apenas R$ 1,5 bilhão em caixa. Os acordos firmados até agora buscam tirar a empresa das cordas.

Tempestade perfeita no setor

A situação da Azul é semelhante à de outras empresas do setor. Em janeiro, a Gol pediu recuperação judicial nos Estados Unidos, com dívidas na casa dos R$ 20 bilhões. Ela trabalha agora para apresentar um plano de recuperação aos credores. A Latam entrou em recuperação judicial em 2020 e encerrou a recuperação em 2022.

O endividamento das companhias aéreas explodiu após a pandemia. A pandemia da covid-19 foi um período difícil para as empresas do setor, que deixaram de voar e aumentaram seu endividamento, que já não era pequeno, diz Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos.

A Azul está buscando reduzir o endividamento que foi herdado da pandemia. O setor aéreo opera com margens apertadas e já tinha um endividamento alto antes. Isso se agravou. E, como se não bastasse, temos uma crise global no setor, por problemas na cadeia de suprimentos. O setor passou por uma tempestade perfeita no pós- pandemia.
Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos

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Setor vive falta de aviões capitaneada pela crise na Boeing. A pandemia acabou, e a demanda por voos voltou, mas as empresas têm tido dificuldades em conseguir aviões. A crise da Boeing, que inclui graves problemas financeiros, atrasos em projetos e greve de funcionários, gerou problemas na cadeia do setor e reduziu a oferta de aviões no mercado.

Com menos aeronaves disponíveis, os acordos de arrendamento de aviões ficaram mais caros. Os acordos das companhias aéreas com os arrendadores de aviões encareceram, aumentando os custos para o setor.

O dólar alto também influencia a situação das aéreas que operam no Brasil. Isso porque as dívidas com os arrendadores são em dólar. Outro aspecto que influencia é o preço do petróleo.

Pior já passou?

Demanda por voos é recorde. A movimentação nos aeroportos do país em setembro foi a melhor para o mês desde o início da série histórica, segundo dados da Anac. Foram cerca de 10 milhões de passageiros no mês. "Tem uma demanda alta, mas a empresa não consegue aproveitar porque precisa de mais assentos. Ela conseguindo renegociar, recebe mais aviões e consegue aumentar sua receita", diz Silva.

Acordos podem indicar dias melhores no futuro. O acordo da Azul e a perspectiva de um plano de recuperação judicial da Gol podem indicar que a tempestade do setor começa a se acalmar. O preço do petróleo tem tido quedas, assim como o dólar. Ainda são melhoras tímidas no cenário, mas podem indicar que o pior já passou.

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Possibilidade de fusão entre Azul e Gol ganha fôlego. Com a situação financeira da Azul menos nebulosa, há uma expectativa de que as duas companhias avancem em um acordo de fusão. Uma possível união entre os negócios tem sido debatida há meses e é avaliada como positiva pelo mercado.

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