Entenda a alta do dólar e saiba se vale a pena comprar a moeda

Acompanhar os movimentos do dólar nas últimas semanas pode ter deixado muita gente confusa. A moeda americana alcançou R$ 6 no início do mês e sofreu uma série de variações diárias. Na última quinta-feira (19), muita gente se assustou com a moeda atingindo R$ 6,30, mas, no fim do dia, o câmbio ficou em R$ 6,12.

Mas o que explica toda essa oscilação de preço? O UOL Economia conversou com especialistas para entender.

Para onde vai o dólar?

Essa é a pergunta que todos se fazem. E a resposta pode ser decepcionante: não dá para saber. Querer adivinhar o preço do câmbio pode ser uma cilada uma vez que o valor do dólar depende não só da política monetária feita pelo Banco Central, mas também de outros fatores, como explica Caio Camargo, estrategista de investimentos do Santander. Como decisões e falas políticas e ações e inações do governo frente à política fiscal.

Ação do BC é insuficiente. Quando o BC aumentou em um ponto percentual a taxa de juros na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deste ano, os títulos públicos e outros investimentos em reais se tornam mais atrativos devido ao maior retorno em relação a outras moedas, uma vez que a Selic atingiu o percentual de 12,25% ao ano. Isso tende a atrair capital estrangeiro, aumentando a demanda por reais, e, consequentemente, pressionando o dólar para baixo.

O que temos visto hoje é que só a taxa de juros não deve resolver sozinha a desvalorização do real por conta da questão fiscal.
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad Global

Política fiscal será imprescindível para a baixa do dólar. Todos os economistas ouvidos pela reportagem reforçam que, por trabalhar com expectativas, o mercado financeiro atua por meio de narrativas, ou seja, se não estiver claro como o governo lidará com as contas públicas nos próximos meses, é impossível saber se é seguro ou não investir no país, e isso interfere totalmente no valor da moeda americana no Brasil.

Política fiscal não agrada mercado

Decisão de corte foi mal recebida. Quando Fernando Haddad foi à TV anunciar um corte no Orçamento do governo federal que economizaria aos cofres públicos nos próximos dois anos cerca de R$ 70 bilhões, uma recepção negativa do mercado não era o que a equipe econômica esperava. Com o anúncio, o ministro disse também que o governo levaria ao Congresso Nacional um projeto de isenção do imposto de renda a quem recebe até R$ 5 mil. Novamente, a narrativa e a especulação entraram em cena.

[Assim como fez o BC, o mercado] precisaria ter um sinal mais forte na área fiscal, que se construísse uma situação em que sinalize estabilidade da dívida pública a longo prazo.
Samuel Pessôa, pesquisador associado do FGV IBRE

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Medidas fiscais, no entanto, não acalmaram o mercado. Antes do recesso de final de ano, o Congresso aprovou medidas que poderiam, em tese, controlar as especulações do mercado financeiro. Foram aprovadas a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o pacote de cortes de gastos, por exemplo, mas isso não foi o suficiente. O dólar permanece em alta sem perspectivas de atingir um valor abaixo dos R$ 6.

O valor do dólar está intimamente ligado às expectativas do mercado. Problemas econômicos ou instabilidades aumentam a percepção de risco, incentivando a fuga de capital para mercados mais seguros, elevando o dólar.

Mercado se diz preocupado com dívida pública. Um dos motivos da desconfiança do mercado com a política fiscal do governo é o "descontrole" da dívida pública do país. Para arrecadar mais dinheiro, o governo pode vender títulos públicos, mas posteriormente precisará pagá-los com juros. Isso eleva o valor da dívida pública e com os juros crescendo a dívida vai ficando cada vez maior.

A tentação é baixar juros para conter a dívida, mas isso vem com a inflação e com mais impacto negativo nas classes menor de renda.
Danilo Igliori, Economista-chefe da Nomad Global

Para o dólar baixar é preciso melhorar a confiança. O caso do comunicado do Ministério da Fazenda sobre o corte do orçamento comparado ao comunicado do BC na última reunião do Copom, conforme explicou Igliori, é preciso melhorar a comunicação para que os investidores se sintam seguros para investir ainda mais no país e, assim, ir derrubando, aos poucos o valor do câmbio.

Então, o que fazer agora?

É preciso focar nos objetivos. A compra ou venda de dólar deve estar alinhada ao objetivo que cada pessoa tem. Por exemplo: se seu objetivo é fazer uma viagem internacional no curto prazo, o ideal, segundo os economistas ouvidos pela reportagem, é distribuir a compra e até a venda de dólar ao longo do tempo até que você consiga o valor desejado.

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Pessoa física: fique longe das especulações de câmbio. A dica do economista da Nomad Global é que caso você não tenha experiência no mercado de moeda não entre nesse tipo de "aposta". "Para a pessoa física o ideal é não tentar operar no mercado de moeda. Não tem como saber como vai abrir o mercado amanhã ou depois. Não tente fazer esse jogo, é um jogo para profissionais que tomam muito risco. E até especialistas em mercado de moeda erram muito", diz.

Ao investir, aposte em investimentos pós-fixados. Um investimento pós-fixado é aquele cujo rendimento está atrelado a um indicador econômico, como a taxa Selic, o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ou a inflação (medida pelo IPCA). Esse modelo oferece maior segurança em cenários de alta de juros ou inflação, já que o rendimento acompanha essas oscilações, tornando-se uma opção atrativa para quem busca estabilidade e proteção contra perdas do poder de compra.

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