Ar condicionado portátil funciona? Como evitar o calorão sem quebradeira

Com as altas temperaturas dos últimos dias, muita gente vem considerando comprar um ar condicionado. O problema é que nem todo mundo pode fazer a quebradeira que a instalação do aparelho exige. Por isso, o ar condicionado portátil pode ser uma solução.

Mas vale a pena?

Para descobrir, consultamos o professor Luiz Antonio de Campos Mariani. Ele é uma das maiores autoridades em ar condicionado no país e pesquisa e leciona na Poli (Escola Politécnica) da USP, além de ser responsável pelo Laboratório de Qualidade do Ar Interno na Universidade de São Paulo.

Dentre os três tipos de ar condicionados disponíveis no mercado - o de janela, o portátil e o split - o mais eficaz, segundo o especialista, é o split. O de janela e o portátil são mais barulhentos e menos eficazes que o split. "Um ar condicionado nada mais é que um transportador de calor, do ambiente interno para o externo. Por isso, é preciso que a unidade que expulsa o ar quente esteja do lado de fora do ambiente para que o aparelho seja eficaz", explica o professor.

Esse é o calcanhar de Aquiles dos modelos portáteis. Geralmente, eles expulsam o ar quente por meio de uma mangueira cuja saída é colocada numa janela. O problema é que a mangueira acaba esquentando e competindo com o ar resfriado pelo aparelho.

Para evitar que isso aconteça, uma solução é usar um duto flexível de alumínio. Por ele, o ar passa mais rápido e a troca de calor com o ambiente pode ser menor. Mas o ideal é que a saída do ar do aparelho portátil tenha o menor contato possível com o ambiente que será refrigerado. O barulho, entretanto, não tem solução, já que o condensador de ar fica dentro do aparelho.

Cuidado na hora de comprar

As buscas por ar condicionado portátil no Google aumentaram nove vezes desde que essa onda de calor começou na semana passada. Como os aparelhos disponíveis no mercado são todos importados, tiveram alta de, a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, a Eletros, não tem dados sobre a demanda de vendas ou produção dos aparelhos.

Eles não custam barato. Os preços variam de R$ 3 mil a R$ 5 mil. Sua capacidade varia de 4 mil a de 18 mil BTUs, ou seja, atendem à necessidade de um cômodo de até 10 metros quadrados — dependendo, claro, da exposição ao ambiente da mangueira de saída de ar.

Mas há uma cilada no mercado. São os climatizadores de ar - que muitas vezes são erroneamente anunciados como ar condicionado. O mesmo acontece com os mini ar-condicionado portáteis ou até os de pescoço. Todos têm eficácia limitada. Eles geralmente são um ventilador com um compartimento para colocar água. E só umidificam e ventilam o ambiente, sem retirar o calor. "Esse tipo de aparelho só fornece algum conforto climático efetivo se o ambiente tiver uma umidade relativa do ar muito baixa, tanto de dia, quanto de noite", diz Gustavo Martins, gerente de marketing de produto Midea Carrier, fabricante de condicionadores de ar.

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Que opções há em outros países?

No exterior, a Midea lançou novos modelos de ar condicionado que podem ser colocados na janela, sem quebradeira. Eles são encaixados quando necessário e retirados caso faça frio. São uma espécie de modelo que mistura o ar condicionado portátil com a versão de janela.

O Midea U-shaped Air Conditioner é um sucesso de vendas em cidades como Chicago e Nova York, onde boa parte dos prédios antigos não têm estrutura para o aparelho. O vidro da janela - que fecha de baixo para cima - separa a unidade externa da interna.

Avaliamos a possibilidade de trazer esse modelo para o Brasil. Mas como a maioria das janelas fecha de lado, seria preciso fazer um novo desenho do aparelho. O problema é que o encaixe não seria tão seguro quanto é nas janelas tipo guilhotina. Seria arriscado o aparelho cair e por isso deixamos esse projeto de lado

Gustavo Martins, gerente de marketing de produto Midea Carrier

Além disso, o U Shaped poderia custar bem caro no Brasil. Aqui, 20% das residências têm pelo menos um aparelho em operação, de acordo com a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava). No Rio de Janeiro e em outras cidades mais quentes, esse número pode até triplicar.

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Mas em cidades como São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte muitos prédios não têm estrutura ou regulamentação para a instalação da refrigeração. Esse parece ser um grande mercado, mas na realidade não é. Mesmo com muita gente morando em apartamentos, essa parcela não formaria um grande mercado consumidor, o que torna o preço do produto inviável. Em São Paulo, por exemplo, a cidade tem 1,435 milhão de apartamentos e 2,764 milhões de casas, de acordo com o Censo de 2022.

Para muitos, fica a impressão de que os aparelhos de ar condicionado - inventados em 1902 - não evoluíram no tempo. Na verdade, a última grande mudança no formato aconteceu há várias décadas. Foi a invenção do split, que separou a unidade condensadora do ar, no fim dos anos 80. "Mas de maneira nenhuma pode-se falar que os aparelhos não evoluíram. Eles são muito mais eficientes e com menos emissões e filtram melhor o ar", diz o professor da Poli.

Foi por isso que paquistanês naturalizado americano Muhammad Saigol criou o July, outra sensação nos EUA. O aparelho é um portátil que não tem mangueira, ele se encaixa na janela, vertical ou horizontal. "Não revelamos números exatos, mas vendemos milhares de unidades em todos os Estados Unidos, da Califórnia a Nova York. Nosso objetivo é aumentar nossos volumes a cada ano", disse o empresário.

A fábrica do July fica no Paquistão. E a empresa tem planos de vender o aparelho para outros países. "Acreditamos que há um mercado para o July em muitas partes do mundo. À medida que continuamos a escalar, começaremos a olhar para diferentes mercados nas Américas e na Europa. A expansão internacional deve se iniciar em 2026, segundo Saigol. E dentre os novos mercados que estão na mira da companhia, o Brasil pode ser um deles.

Mas enquanto o novo modelo não desembarca aqui, a indústria segue quebrando a cabeça para desenvolver melhores produtos. Já foram testados, por exemplo, modelos sem o compressor de ar, com a chamada Placa de Peltier, que é o sistema de geração de ar frio magnético das adegas domésticas. "Mas para resfriar um ambiente inteiro, até agora, seria preciso placas do tamanho de duas paredes, o que inviabiliza ideia", diz Martins, da Midea.

Quanto custa a instalação de um split?

A instalação, incluindo a parte de alvenaria e de elétrica (é preciso ter fios dimensionados para os aparelhos) pode custar de R$ 1,5 mil a R$ 3,5 mil, conforme o tamanho do imóvel. Os dados são de Marcos Ortolani, da Multiplic Instalações e não levam em conta o custo do aparelho, que gira em torno de R$ 2 a R$ 4 mil - no mínimo.

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Por isso, a melhor saída, é mudar o regulamento e a infraestrutura dos prédios, aponta Paulo D'Assumpção Zaniol, professor de design da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). "Na verdade, as novas construções precisam ser mais sustentáveis do ponto de vista da climatização, com materiais que isolam do calor e ventilação cruzada", diz ele.

Em relação a edifícios menos preparados, a solução é fazer as adaptações necessárias. Além de definir onde a unidade condensadora vai ficar, é preciso ter instalação elétrica dimensionada para o aparelho. Ligar o ar - mesmo que o portátil - na mesma tomada que é projetada para a TV ou o liquidificador - gera risco altíssimo de incêndio.

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