Ação hacker: como funciona a divisão Brasil x Paraguai por Itaipu?
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A Polícia Federal investiga um suposto ataque hacker do governo brasileiro contra autoridades paraguaias, em meio a negociações sobre a energia de Itaipu. A usina, situada na fronteira entre os dois países, é compartilhada e divisão de seus recursos é feita entre Brasil e Paraguai.
Divisão entre Brasil e Paraguai
A usina de Itaipu está localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai e pertence igualmente aos dois países. Seu nome completo é Itaipu Binacional, refletindo essa parceria. De acordo com Isabelle de Castro, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP, "a divisão é de 50% para cada lado".
O Paraguai tem direito a metade da energia gerada, mas consome apenas cerca de 30%. O Brasil utiliza o excedente da parte paraguaia e paga por esse uso.
A Itaipu Binacional tem uma potência instalada de 14 gigawatts (GW) e conta com 20 unidades geradoras. A usina fornece cerca de 8,6% da energia consumida no Brasil e 86,3% do Paraguai.
A maior geradora de energia limpa e renovável do mundo. Desde o início da sua operação, Itaipu já produziu mais de 2,9 milhões de GWh. Apenas em 2022, foram gerados 69.873.095 MWh.
Tão grande quanto usina chinesa, mas maior em energia limpa. Três Gargantas, usina chinesa, é a maior em capacidade instalada mundialmente, com 22.400 MW, enquanto Itaipu conta com 14.000 MW. No entanto, Itaipu se destaca na geração acumulada de energia limpa. O recorde mundial anual de geração pertence a Três Gargantas, com 111,8 mil GWh em 2020. O melhor desempenho de Itaipu foi em 2016, com 103,1 mil GWh.
Vida útil superior a dois séculos. Estudos indicam que a usina tem vida útil de pelo menos 200 anos, considerando o assoreamento do lago.
As negociações para construir a usina começaram na década de 1960. Em 1973, foi assinado o Tratado de Itaipu. A empresa Itaipu Binacional foi criada em 1974 e, no mesmo ano, as primeiras máquinas chegaram ao canteiro de obras. A geração de energia começou em maio de 1984.
Como Itaipu transforma água em eletricidade? A água do reservatório é conduzida sob pressão até as turbinas. Essas turbinas transformam a energia hidráulica em mecânica, fazendo girar os geradores, que convertem essa energia em eletricidade.
Itaipu paga pelo uso dos recursos hídricos do Brasil e do Paraguai. Entre 1985 e 2018, foram mais de US$ 11 bilhões em royalties, usados para melhorar a educação, saúde, moradia e saneamento básico. No Brasil, os recursos beneficiam 16 municípios, sendo 15 no Paraná e um no Mato Grosso do Sul.
Em 2023, as dívidas da construção da usina foram quitadas, o que abriu espaço para uma nova renegociação dos termos de comercialização da energia. "Essa renegociação pode ter um impacto significativo nos preços da energia no Brasil", explica Castro. O Paraguai espera obter valores mais altos na venda de seu excedente, algo que vem sendo discutido entre os governos.
Em maio deste ano se espera que um novo anexo seja firmado entre os países dando mais estabilidade a questão, mas Brasil e Paraguai estão negociando quase que ano a ano o preço das tarifas. O que foi anunciado é que o Brasil vai ceder a venda direta da energia excedente ao Paraguai, que antes vendia para Eletrobrás.
Pedro Feliú, Professor de Relações Internacionais da USP
Os paraguaios argumentam que a dívida foi quitada há muito tempo e que deveriam estar recebendo mais pelo excedente de energia. "A renegociação do Anexo C era vista como uma oportunidade para corrigir essa questão", afirma Castro.
O governo anterior, liderado por Jair Bolsonaro, foi inábel na negociação segundo a pesquisadora, "não se preparou adequadamente, deixando essa questão para o futuro". Com isso, o governo Lula herdou um impasse que gera tensões entre os dois países.
Governo Lula nega ação hacker e culpa gestão Bolsonaro
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) é investigada por um ataque hacker contra autoridades paraguaias. A operação teria sido planejada ainda no governo Bolsonaro e envolveu a invasão de computadores para obter informações sobre Itaipu.
O governo Lula nega envolvimento e alega que a operação foi desautorizada assim que tomou conhecimento. "A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023", declarou o governo em nota.
No entanto, servidores da Abin disseram à Polícia Federal que o atual diretor Luiz Fernando Corrêa e o interino Saulo de Cunha Moura também autorizaram a ação. "Saulo, quando estava como diretor da Abin, autorizou uma missão para o exterior; depois, Luiz Fernando autorizou", relatou um agente ouvido pela investigação.
O ataque hacker teria ocorrido meses antes do novo acordo entre Brasil e Paraguai sobre os valores pagos pela energia. Ainda não está claro se as informações obtidas na invasão foram usadas nas negociações.
Para Isabelle de Castro, essa polêmica reforça a desconfiança paraguaia em relação ao Brasil. "Essa notícia reafirma a percepção de muitos paraguaios de que o Brasil é um vizinho pouco confiável", analisa a pesquisadora.
*Com informações da coluna de Aguirre Talento
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