EUA suspendem compra de carne in natura do Brasil por preocupação sanitária
CHICAGO (Reuters) - Os Estados Unidos suspenderam todas as importações de carne bovina in natura do Brasil nesta quinta-feira, devido a recorrentes preocupações sobre sanidade de produtos, afirmou o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
A medida ocorre após o USDA ter aumentado em março a realização de testes para a carne fresca e produtos prontos de carne do Brasil, como precaução após a operação policial Carne Fraca, que revelou um esquema ilegal de fornecimento de produtos alimentícios alterados ou adulterados com a participação de empresários e fiscais do Ministério da Agricultura.
A suspensão se deu após o Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, ter conseguido apenas no segundo semestre do ano passado acesso ao cobiçado mercado norte-americano do produto in natura.
O Brasil ainda exporta pequenos volumes aos EUA, comparativamente ao total que embarca, mas a suspensão norte-americana é representativa, e pode levantar preocupações, porque os critérios do país costumam ser observados por outros importadores.
De janeiro a maio, as exportações de carne bovina in natura do Brasil aos EUA somaram 4,68 mil toneladas, o equivalente a 18,9 milhões de dólares, de acordo com dados da Abiec, associação de exportadores.
A título de comparação, os embarques à China, um dos maiores importadores, somaram no mesmo período 52,8 mil toneladas, enquanto as vendas para Hong Kong atingiram 42,9 mil toneladas.
Segundo o USDA, um número elevado de embarques não foi aprovado nas checagens realizadas pelo governo dos EUA.
Desde que as checagens foram intensificadas, a agência do governo dos EUA rejeitou 11 por cento dos produtos de carne fresca do Brasil, acima da taxa de rejeição de 1 por cento para embarques do restante do mundo.
Ao todo, a agência rejeitou a entrada de 1,9 milhão de libras-peso de carne bovina do Brasil, devido a preocupações de saúde, sanitárias e questões relacionadas à saúde animal.
O USDA acrescentou que nenhum dos lotes rejeitados entrou no mercado dos EUA.
"O produto que já está na água não vai poder entrar", afirmou o analista de pecuária dos EUA da Steiner Consulting Group, referindo-se às cargas que já estão a caminho dos EUA.
A suspensão do USDA vai continuar até que o Ministério da Agricultura do Brasil "tome medidas corretivas, as quais o USDA considere satisfatórias", de acordo com comunicado.
O Brasil conseguiu acordo para exportar o produto in natura para os norte-americanos em agosto do ano passado.
Quando obteve a entrada nos EUA, o setor privado brasileiro viu também o processo como uma possibilidade de ganhar outros mercados importantes, como o do Japão e Coreia do Sul, já que os EUA têm altos critérios de sanidade.
O Palácio do Planalto informou que não vai se manifestar sobre o assunto.
Não foi possível falar imediatamente com representantes do Ministério da Agricultura do Brasil.
A Abiec, associação que representa os exportadores no país, não tinha um comentário imediato sobre o assunto.
A brasileira JBS, maior produtora de carnes do mundo, negou-se a comentar a suspensão dos EUA, onde tem grande parte de suas operações.
(Por Tom Polansek, com reportagem adicional de Roberto Samora e Tatiana Bautzer, em São Paulo, em Lisandra Paraguassu, em Brasília)
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