Protestos na BR-163 afetam carregamentos de barcaças de grãos no Pará, diz Abiove
Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - A programação de embarques de grãos pelo porto fluvial de Miritituba, no Pará, começa a ser prejudicada pelos protestos na BR-163, no sudoeste do Estado, gerando cancelamentos nos despachos de algumas cargas, disse nesta terça-feira um representante da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Com os bloqueios na BR-163 desde a semana passada, os carregamentos de soja e milho estão encontrando dificuldades de chegar ao porto de Miritituba, reduzindo a oferta no terminal, de onde as cargas são levadas em barcaças para os demais terminais do chamado Arco Norte.
"A situação piorou. Uma parte já cancelou os embarques, a outra está para cancelar também. As tradings em Miritituba dizem que estão recebendo caminhões a conta gotas, com os embarques na iminência de parar", disse à Reuters o gerente de economia da Abiove, Daniel Furlan Amaral, em conversa por telefone.
As manifestações na BR-163 acontecem em um momento delicado, já que o Brasil está colhendo uma safra recorde de milho e precisa exportar o cereal para reduzir o seu excedente.
Segundo Amaral, os problemas envolvem principalmente o transporte de milho.
Mas, disse ele, ainda há grãos armazenados nos portos exportadores de Barcarena e Santarém, que recebem as barcaças com produtos de Miritituba, garantindo por ora o fluxo de exportação.
O problema preocupa exportadores de milho.
"Poderia haver queda (na exportação) se perdudar este negócio de bloqueio", disse à Reuters o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, ressaltando que para o país exportar os volumes previstos é preciso que todos os canais de escoamento funcionem bem.
Ele evitou detalhar se há impacto para as exportações no momento.
Os protestos têm levado empresas de transporte rodoviário a evitarem a rota da BR-163, destacou a Abiove.
"As próprias transportadoras não querem fazer frete para essa região. Toda a cadeia produtora perde por causa de um problema que não tem nada a ver com ela", acrescentou o gerente da Abiove, sem quantificar os cancelamentos em Miritituba.
Amaral estimou que os prejuízos diários poderiam chegar a 400 mil dólares, em função dos cancelamentos dos embarques, pagamentos de multas, reordenamento da logística, entre outros fatores.
BLOQUEIOS DIÁRIOS
Desde a semana passada, protestos são realizados na rodovia que corta o sudoeste do Pará por agricultores, comerciantes, pecuaristas e outros segmentos contrários ao veto do presidente Michel Temer à medida provisória 756, que alterava os limites da Floresta Nacional do Jamanxim.
Os manifestantes defendem a utilização comercial de parte da área.
Os bloqueios na BR-163 ocorrem nesta terça-feira em Castelo dos Sonhos, distrito de Altamira, informou a Polícia Rodoviária Federal.
Os protestos devem continuar, segundo a polícia, pelo menos até quarta-feira, prejudicando a logística das empresas.
"Essa situação é uma situação onde a logística não tem como trabalhar. Requer planejamento, contratação, agendamento de fluxo de embarques. Da forma como está hoje, o setor não consegue trabalhar", disse Amaral, da Abiove.
Conforme os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgados nesta terça-feira, o país deve produzir em 2016/17 cerca de 65,6 milhões de toneladas de milho de segunda safra, em fase de colheita, bem acima das 40,77 milhões de toneladas de 2015/16.
(Com reportagem adicional de Marcelo Teixeira e Ana Mano)
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