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Brasil não vê saída a curto prazo para Venezuela, mas reforça presença diplomática para tentar diálogo

21/08/2017 18h17

Por Lisandra Paraguassu e Anthony Boadle

BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro está pessimista e não vê saída a curto prazo para a situação na Venezuela, mas mandou de volta a Caracas seu embaixador, Ruy Nogueira, e vai reforçar a presença diplomática no país na expectativa de ser capaz de mediar um diálogo entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição, disseram à Reuters fontes diplomáticas.

"O Brasil ainda tem a capacidade de conversar com os dois lados. Outros países só falam com a oposição, o que não vai resolver", afirmou um diplomata.

Indicado embaixador ainda no governo de Dilma Rousseff, Ruy Nogueira passou vários meses no Brasil, enquanto coordenava a campanha da ex-secretaria de Direitos Humanos Flavia Piovesan para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Nogueira tem ainda bom trânsito no governo de Maduro e, na avaliação do Itamaraty, pode ser capaz de abrir um diálogo com o governo venezuelano mesmo que as atuais relações com o Brasil sejam ruins.

Há três semanas, o Mercosul acionou a cláusula democrática e suspendeu a Venezuela até que haja uma mudança na situação política. Na semana passada, um grupo de chanceleres da América do Sul divulgou uma nota condenando a eleição da Assembleia Constituinte e declarando não reconhecê-la.

Para além das ações políticas, no entanto, os diplomatas brasileiros não veem a possibilidade de ações mais efetivas, como sanções econômicas. O Mercosul teria a possibilidade de elevar tarifas comerciais, mas não deve fazê-lo. A Organização dos Estados Americanos, nem isso.

"Além do mais, é difícil sancionar um país que já se autoboicota desse jeito. Qualquer sanção traria mais dificuldade para a população, e isso o Brasil não quer", disse o diplomata.

Do lado brasileiro, sanções comerciais teriam pouco efeito. O Brasil compra petróleo e vende basicamente alimentos aos venezuelanos. Um corte nessa relação teria efeito imediato na população, o que o governo quer evitar.

"Isso atingiria diretamente as pessoas, que precisam de comida, e enriqueceria os membros do regime que controlam a importação", afirmou uma outra fonte.

Além disso, empresas brasileiras continuam fazendo negócios na Venezuela --uma estimativa aponta que ainda teriam cerca de 2 bilhões de dólares a receber-- e cerca de 20 mil brasileiros ainda moram no país.

A legislação brasileira também só prevê que o país possa fazer sanções dentro do que for aprovado pelas Organização das Nações Unidas, e o Conselho de Segurança não avançou em nenhuma discussão sobre esse tema. "E se discutir, dificilmente vai avançar. China e Rússia possivelmente bloqueariam", disse.

Para um terceiro diplomata, há pouca possibilidade de avanço também na OEA. Tem havido dificuldade de formar uma maioria até mesmo para uma advertência mais dura, já que um grupo de pequenos países caribenhos --muitos deles dependentes da venda de petróleo subsidiado da Venezuela-- tem se mantido ao lado de Maduro.

Durante a visita de Estado do presidente do Paraguai, Horacio Cartes, a Brasília, a Venezuela foi tema do encontro privado com o presidente Michel Temer, mas sem avanços.

De acordo com uma fonte presente no encontro, discutiu-se a possibilidade de ajuda humanitária, mas Temer lembrou o fracasso da tentativa brasileira de enviar alimentos e remédios para o país. Carter teria então comentado que era "difícil ajudar quem não quer ser ajudado".