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Garimpeiros buscam ouro em minas ilegais na Amazônia

14/09/2017 14h14

Por Nacho Doce

CREPORIZÃO, Pará (Reuters) - A mineração ilegal no Brasil é vista por muitos como um mal que polui a Amazônia, envenena tribos indígenas e rouba a nação de sua riqueza. Para outros, é um modo de vida.

Os garimpos irregulares são operados por pequenos grupos de homens, muitas vezes cobertos de lama e trabalhando com bacias, pás e calhas rudimentares usadas há séculos.

Operações mais sofisticadas usam canhões de água e barcos que sugam lama do fundo de rios. Independentemente do método, garimpar ouro e outros minerais como cassiterita e nióbio é sujo, perigoso e, muitas vezes, ilegal.

"Procurar ouro é como jogar em um cassino", disse um garimpeiro, de 48 anos.

Os garimpeiros pediram para não ser identificados, dizendo ter medo da polícia, já que grande parte de seu trabalho é ilegal.

Um deles começou nos garimpos informais quando adolescente nos arredores de Creporizão -- um pequeno e pobre distrito de Itaituba, no Pará, com 5 mil habitantes e uma pista de pouso que funciona como porta de entrada para a mineração ilegal na região.

Os garimpos ilegais estão no foco das atenções uma vez que o governo debate a abertura de uma área de reserva conhecida como Renca, no norte da Amazônia, para mineração, o que foi duramente criticado por ambientalistas.

O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, argumenta que a mineração licenciada seria uma melhoria se comparada com as estimadas 1 mil pessoas que trabalham atualmente na reserva de maneira ilegal.

Creporizão está a quilômetros de distância da Renca, mas é uma janela para a vida dos garimpos ilegais.

Vivendo em casas improvisadas de madeira e plástico, garimpeiros na área negociam cerca de 60 quilos de ouro por mês, de acordo com comerciantes.

Tamanha quantidade de ouro puro vale milhões de dólares no mercado global, mas os altos custos e a sobreposição de intermediários no mercado local deixam a maior parte dos garimpeiros à beira da pobreza.

Suprimentos básicos podem custar quatro ou cinco vezes mais do que na cidade mais próxima, que fica a oito horas de distância de ônibus.

Postos de gasolina, um armazém, um bar, uma igreja evangélica e prostitutas disputam a renda e a atenção dos garimpeiros, quando eles não estão trabalhando ou descansando em redes.

MAIORIA IRREGULAR

Há 2.113 locais de garimpo licenciados no Brasil, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, mas especialistas ambientais e duas autoridades do governo, que pediram para não ser identificadas, disseram que muitos pequenos garimpos escapam do processo de licenciamento e ignoram totalmente as regulamentações.

Em Creporizão, onde as minas são normalmente muito próximas, não ficou claro quais operações eram licenciadas.

Acredita-se que a área total explorada por garimpeiros no Brasil seja pequena. Entretanto, elementos químicos como o mercúrio, que garimpeiros em Creporizão usam para separar ouro de areia, podem deixar uma grande marca de contaminação.

Em março do ano passado, um estudo revelou níveis alarmantes de mercúrio em aldeias indígenas no Estado de Roraima.

Um grupo de indígenas teve mais do que o dobro do nível de mercúrio considerado grave risco para a saúde --como danos no sistema nervoso central, rins, coração e sistema reprodutivo-- encontrado em seus fios de cabelos.

O ministro de Minas e Energia disse que uma nova agência de fiscalização proposta pelo governo do presidente Michel Temer, que aguarda aprovação do Congresso, permitiria uma coordenação governamental mais efetiva e inspeções para restringir a mineração ilegal.

O deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), que faz parte do comitê que avalia a criação da nova agência, disse que o órgão será capaz de arrecadar mais recursos para a fiscalização. Segundo ele, as regulamentações visam mineiros licenciados, enquanto a mineração ilegal continua sendo uma questão para a polícia.

Entretanto, um funcionário do Ibama, que não estava autorizado a falar com a imprensa, disse que o governo deixou garimpeiros como os de Creporizão em um limbo precário.

"Você não pode simplesmente tirá-los dos garimpos e das cidades que estão sobrevivendo do ouro. E o governo não os oferece estrutura e condições decentes", disse. "Então eles estão presos lá sem as condições mínimas para sobrevivência".

(Reportagem adicional de Jake Spring, em Brasília)