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Venda de fatia na Cemig pela AGC ressalta saída de empreiteiras do setor elétrico

27/12/2017 17h14

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - A venda pela Andrade Gutierrez de sua fatia na elétrica mineira Cemig marca mais um capítulo em uma série de transações recentes em que empreiteiras envolvidas em escândalos de corrupção têm se desfeito de negócios em energia no Brasil após anos de avanço sobre o setor, disseram especialistas à Reuters.

A Cemig informou na véspera que a AGC Energia vendeu 53.403.756 ações ordinárias que detinha na companhia, ou 12,7 por cento do capital social da empresa, o que representaria mais de 340 milhões de reais pelo valor dos papéis ao final do pregão da terça-feira.

"As construtoras estão todas se desfazendo de ativos para tentar sobreviver, após estarem envolvidas em problemas de Lava Jato e afins", disse à Reuters o consultor na área de energia elétrica Ricardo Lima.

No final do ano passado, a chinesa State Grid aproveitou esse movimento para se tornar a controladora da CPFL Energia, maior elétrica privada do país, após comprar a participação da Camargo Corrêa e de outros acionistas no negócio.

A Odebrecht também já se desfez no final do ano passado de um complexo de usinas eólicas no Rio Grande do Sul, adquirido pelo Grupo NC, da farmacêutica EMS. Além disso, a construtora disse que quer se desfazer de sua fatia na hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia.

Mas a saída da Andrade Gutierrez não deve alterar significativamente a realidade da Cemig, uma vez que o controle da companhia é do governo mineiro, que continuará com a necessidade de avançar com um ambicioso programa de venda de ativos, adicionou Lima.

Em julho, a Cemig disse que os ativos listados em seu plano de desinvestimentos somam valor de mais de 8 bilhões de reais. [nL1N1JY1VO

O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ), Nivalde de Castro, ressaltou que o governo de Minas Gerais precisará tomar as rédeas da companhia para viabilizar essas prometidas vendas e recuperar a combalida saúde financeira da Cemig.

"A saída da Andrade não vai mudar muito. A Cemig tem que tomar algumas decisões de venda de ativos e é um processo muito doloroso para a cultura interna da companhia, uma empresa estatal, que não tem muito essa cultura de venda", apontou.

Para Castro, da UFRJ, um aspecto positivo no movimento da Andrade Gutierrez é o fim de interferências sobre algumas transações da Cemig --a empreiteira tinha por estatuto a força de indicar o diretor de novos negócios da elétrica mineira, responsável por estruturar fusões e aquisições.

Castro disse que a influência da Andrade Gutierrez nessa diretoria muitas vezes levou a Cemig a entrar em negócios mais vantajosos para a construtora do que para a elétrica, uma crítica frequentemente levantada por sindicatos de trabalhadores do setor elétrico de Minas Gerais.

"A Andrade sempre teve uma atuação muito prejudicial para a Cemig... a saída agora é um sinal positivo para a empresa, mesmo ela enfrentando essa situação tão complicada", afirmou o coordenador do Gesel-UFRJ.

Procurada pela Reuters, a Andrade Gutierrez disse que não iria comentar o assunto. A Cemig não respondeu a um pedido de comentário.

Fundada em 1952, a Cemig atua em geração, transmissão, distribuição e comercialização de eletricidade e é uma das maiores elétricas do Brasil.

A Andrade Gutierrez passou a ser acionista da companhia em 2010 e, após dificuldades decorrentes das investigações da Operação Lava Jato, que apura um enorme escândalo de corrupção no Brasil, anunciou em meados deste ano que buscaria vender sua fatia na companhia.