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Crise da Venezuela amplia blecautes em Roraima e governo acelera busca por solução

20/08/2018 17h53

Por Luciano Costa e Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O acirramento da crise econômica da Venezuela tem ampliado a ocorrência de blecautes em Roraima, que recebe parte do suprimento de energia por meio do país vizinho, o que levou o governo federal a agilizar tentativas de destravar o projeto de um linhão de transmissão para conectar a hoje isolada região ao sistema elétrico interligado do Brasil, segundo autoridades.

O projeto do linhão foi licitado em 2011, mas ainda está em processo de licenciamento ambiental e sequer teve as obras iniciadas devido à falta de um entendimento com índios que habitam uma região por onde passaria o empreendimento.

Medidas para liberar as obras foram discutidas em uma ampla reunião do presidente Michel Temer com diversos ministérios e os presidentes do órgão ambiental Ibama e da Fundação Nacional do Índio (Funai) nesta segunda-feira, segundo o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Sérgio Etchegoyen.

A reunião aconteceu em um momento em que a governadora de Roraima, Suely Campos (PP), tenta convencer o Supremo Tribunal Federal (STF) a suspender entrada de venezuelanos no Estado, que teve no final de semana uma onda de violência de moradores locais contra os imigrantes, que segundo o governo local sobrecarregam serviços sociais e causam uma crise humanitária.

"A construção do chamado 'Linhão de Tucuruí' vai tentar resolver o problema da fragilidade e insegurança energética que Roraima vive, porque depende de energia da Venezuela... tem havido várias interrupções e, a qualquer momento, no caminho que vai aquele país, pode colapsar. Nós temos que resolver o problema", disse Etchegoyen a jornalistas.

Após o encontro, o senador Romero Jucá (MDB-RR) escreveu no Twitter que a licença ambiental para a linha de transmissão será liberada pelo Ibama "nos próximos dias".

O órgão ambiental não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre a fala do senador

De acordo com a Eletrobras, responsável pelo fornecimento de eletricidade em Roraima, foram registrados 35 desligamentos entre janeiro e agosto em Boa Vista, capital do Estado, contra 33 interrupções ao longo de todo o ano de 2017.

Quando há falhas no linhão, é preciso acionar termelétricas, que têm capacidade para atender toda a demanda do Estado, mas com uma geração mais poluente e cara, segundo a estatal.

O custo extra de acionamento dessas térmicas é coberto por um encargo cobrado nas tarifas, que subsidia a geração termelétrica em regiões isoladas, a chamada Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), ainda de acordo com a Eletrobras.

O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Marcio Félix, disse à Reuters antes da fala de Jucá que o licenciamento ambiental do linhão depende de um acordo com uma comunidade indígena cujas terras seriam atravessadas pelo empreendimento.

"A ideia é trabalhar para fechar um entendimento com a comunidade indígena e seguir com o projeto", explicou, sem detalhar.

LICENCIAMENTO

Procurada para comentar o estágio das negociações com os indígenas referentes ao licenciamento ambiental do linhão, a Funai não respondeu de imediato.

O Ibama disse que o Plano Básico Ambiental (PBA) do empreendimento "foi apresentado e será submetido a análise técnica".

O projeto da linha de transmissão, que iria de Roraima até o Amazonas, teve a concessão arrematada pela Eletrobras e a privada Alupar no fim de 2011.

Autoridades já disseram, no entanto, que a estatal poderá tocar o empreendimento sozinha caso o parceiro privado desista do negócio devido à demora no licenciamento.

(Por Luciano Costa, em São Paulo; reportagem adicional de Lisandra Paraguassu em Brasília)