Abiove defende recompensa a sojicultores para preservação do Cerrado
Por Ana Mano e Jake Spring
SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) está propondo a criação de um fundo para recompensar produtores de soja que preservarem a vegetação nativa em suas fazendas na região do Cerrado.
A iniciativa é a resposta do Brasil aos compradores europeus da oleaginosa, cada vez mais sensíveis à questão do desmatamento, disse Bernardo Pires, gerente de sustentabilidade da Abiove, em uma coletiva de imprensa na quinta-feira.
O Cerrado ocupa quase um quarto do território brasileiro, com cerca de metade de sua vegetação nativa já destruída, uma vez que a região foi transformada no coração agrícola do Brasil. Proteger a vegetação nativa, que absorve enormes quantidades de carbono, é visto como importante na redução do aquecimento global.
Os agricultores do Cerrado estão sujeitos a limites de desmatamento muito menos rigorosos do que aqueles na Floresta Amazônica, sendo obrigados a preservar entre 20 e 35 por cento da cobertura natural, dependendo da área.
A proposta pagaria aos agricultores elegíveis do Cerrado uma média de 150 dólares por hectare por ano pela preservação de áreas que poderiam ser legalmente desmatadas, disse Pires. O cálculo foi feito com base no valor do arrendamento da terra.
"O plano daria aos agricultores um incentivo financeiro para a preservação de áreas nativas na fazenda", disse Pires. Desta forma, o produtor poderia escolher entre "legalmente expandir a área ou ser compensado pelo fundo".
A proposta da Abiove está sendo discutida pelo chamado Grupo de Trabalho do Cerrado, que reúne produtores de soja, tradings e grandes varejistas, disse Leandro Baumgarten, cientista-chefe da The Nature Conservancy, uma das ONGs envolvidas.
O fundo seria custeado pela cadeia de fornecimento de soja, incluindo grandes marcas estrangeiras e empresas de trading atuando no Brasil, disse Baumgarten.
As companhias estão entre as mais de 100 que assinaram uma declaração de apoio ao Manifesto do Cerrado, um documento pedindo ação imediata para deter o desmatamento na região, de acordo com Baumgarten e Pires. O grupo inclui gigantes como Unilever, Marks & Spencer e Tesco.
"O mecanismo de compensação é algo que estamos acompanhando para ver se é viável, (se) vai ser muito complicado e caro de implementar. Mas se isso garantir o compromisso (de não desmatar), tudo bem", disse Baumgarten.
Um estudo da Universidade de Wisconsin descobriu que quase 1 milhão de hectares em fazendas de soja ainda poderiam ser legalmente desmatadas no Cerrado. Mas apenas 13 por cento dessas propriedades têm entre 10 e 100 hectares que podem ser legalmente convertidos em áreas voltadas à commodity.
(Por Ana Mano e Jake Spring)
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