Governo retira convite a representante de Guaidó para apresentar credenciais a Bolsonaro
Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - O governo do presidente Jair Bolsonaro desconvidou a representante no Brasil do líder da oposição venezuelana e autoproclamado presidente interino do país, Juan Guaidó, da cerimônia de entrega de credenciais diplomáticas na semana que vem, disse ela nesta sexta-feira, minimizando a ideia de que a atitude demonstra descrença dos assessores militares da reserva de Bolsonaro.
Os militares --que compõem cerca de um terço do gabinete de Bolsonaro-- têm sido cautelosos em provocar o presidente venezuelano Nicolás Maduro, alertando contra medidas que podem transformar uma crise econômica e política em violência por toda a fronteira norte do Brasil.
A representante de Guaidó, María Teresa Belandria, rejeitou a sugestão de que sua ausência na cerimônia com outros embaixadores em Brasília refletisse um apoio mais moderado.
"Haverá outra oportunidade", ela disse à Reuters. "O apoio do Brasil continua sendo sólido, forte e decisivo. É meramente uma questão técnica."
O Ministério das Relações Exteriores não respondeu de imediato a um pedido por comentários.
Os jornais Folha de S. Paulo e O Globo noticiaram que o governo de Bolsonaro retirou o convite a Belandria porque os auxiliares militares do presidente querem buscar um diálogo com Maduro, também detentor de um representante oficial em Brasília.
O Brasil, ao lado dos Estados Unidos e da maioria dos países da América Latina, reconheceu Guaidó como presidente interino da Venezuela depois que o líder de oposição se autodeclarou chefe de Estado interino alegando que a reeleição de Maduro no ano passado foi obtida em uma eleição fraudulenta.
Segundo o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, "a embaixadora não foi desconvidada".
"A recepção ou não das cartas credenciais dela será avaliada futuramente, em um momento mais oportuno. Independentemente disso, ela é a representante do Presidente Encarregado Juan Guaidó, que o Brasil segue reconhecendo como presidente legítimo da Venezuela."
Embora o governo brasileiro tenha concedido credenciais diplomáticas a Belandria, não revogou as credenciais dadas aos representantes de Maduro.
A Venezuela recentemente reabriu a fronteira com o Brasil após cerca de três meses de fechamento, e os assessores de Bolsonaro estão trabalhando para restaurar a regularidade do fornecimento de energia ao Estado de Roraima, que depende da rede venezuelana.
Bolsonaro, assim como muitos chefes de Estado, tem sido forte crítico do governo de Maduro, e assessores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm pressionado para que adote um posicionamento mais enfático.
Há duas semanas, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general da reserva Augusto Heleno, disse à Reuters que as Forças Armadas da Venezuela vão decidir o futuro de Maduro e poderiam derrubá-lo, levando a uma transição com eleições democráticas.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)
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