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Powell reforça visão de corte de juros por preocupação com comércio e crescimento global

10/07/2019 09h48

Por Howard Schneider

WASHINGTON (Reuters) - O chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, abriu caminho nesta quarta-feira para o primeiro corte de juros nos Estados Unidos em uma década neste mês, ao prometer "agir conforme apropriado" para defender a expansão econômica ameaçada pelas disputas comerciais e desaceleração global.

Em depoimento para um comitê do Congresso, Powell apontou para uma fraqueza "ampla" que vem pesando sobre a perspectiva econômica dos EUA em meio à incerteza sobre as consequências das disputas comerciais do governo do presidente Donald Trump com a China e outras nações.

Embora os EUA tenham mostrado um forte ganho de empregos em junho, dados de outras grandes economias "continuam a decepcionar. Isso vem ocorrendo na Europa e na Ásia e continua a pesar", disse Powell.

"Indústria, comércio e investimento estão fracos em todo o mundo... nós concordamos em retomar as negociações com a China, e isso é um passo construtivo. Mas não anula a incerteza."

Diante da sugestão de que a atual taxa de desemprego baixa nos EUA pode levar a uma inflação fraca, Powell observou que o ritmo geral de aumento de preços continua "fraco" e os ganhos salariais permanecem modestos, sinais de que o Fed pode reduzir os juros sem o risco de superaquecer a economia.

"Não temos nenhuma evidência para chamar isso de mercado de trabalho aquecido", disse Powell ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados dos EUA. "Para chamar algo de aquecido, precisamos ver sinais de aquecimento."

A audiência, parte do depoimento semestral do chairman do Fed sobre política monetária ao Congresso, ocorre tendo como pano de fundo as frequentes críticas do presidente norte-americano, Donald Trump, exigindo que o banco central reduza a taxa de juros do país.

Powell, escolhido por Trump para liderar o Fed, mas que agora é alvo de suas críticas, trabalhou duro para construir relações entre parlamentares, e até mesmo em um comitê controlado pelos democratas recebeu aplausos e incentivo para continuar no cargo.

Questionado pela deputada Maxine Waters, que presidente o comitê, se "arrumaria suas coisas e iria embora" se o presidente exigir, Powell respondeu com um curto "não senhora..a lei claramente me dá um mandato de quatro anos e eu pretendo totalmente cumpri-lo".

Em comentários preparados divulgados antes do depoimento, Powell comparou o "cenário básico do Fed de um crescimento contínuo com um conjunto considerável de riscos -- incluindo a inflação persistentemente fraca, o crescimento mais lento em outras economias importantes e uma desaceleração no investimento empresarial impulsionada por riscos comerciais.

As autoridades do Fed em sua reunião de política monetária de junho sinalizaram que essas preocupações podem justificar juros mais baixos e "desde então, com base em dados e outros acontecimentos, parece que incertezas em torno das tensões comerciais e preocupações sobre a força da economia global continuam pesando sobre as perspectivas dos EUA", disse Powell.

"O progresso aparente no comércio se transformou em maior incerteza, e nossos contatos nas empresas e na agricultura relataram maiores preocupações sobre os acontecimentos comerciais", disse Powell, observando que o investimento empresarial, um importante componente do crescimento econômico, "parece ter desacelerado notavelmente" nos últimos meses.

AMEAÇAS DE TARIFAS

O Fed, que elevou sua taxa básica de juros quatro vezes no ano passado, manteve-a em um intervalo entre 2,25% e 2,50% desde dezembro.

Desde uma série de publicações de Trump no Twitter sobre comércio no final de maio, tanto os investidores quanto o Fed começaram a mudar suas posições, com os mercados agora esperando um corte de pelo menos 0,25 ponto percentual quando as autoridades do Fed se reunirem no final do mês.

A economia dos EUA não mudou muito nos dias que se seguiram aos comentários de Trump em 30 de maio no Twitter, ameaçando impor tarifas ao México a menos que o país atendesse às suas demandas por controles mais rígidos sobre os imigrantes que cruzam a fronteira norte.

Mas as declarações de Trump assustaram os mercados financeiros de forma tão decisiva e as ameaças à economia global tornaram-se tão palpáveis que um corte de pelo menos 0,25 ponto parece agora quase certo, com uma redução de 0,50 ponto também considerada possível como proteção extra.