Pânico global sobre coronavírus leva dólar a fechar acima de R$5 pela 1ª vez; Copom segue no radar
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar começou a semana em disparada, fechando acima de 5 reais pela primeira vez na história e registrando a maior alta percentual diária em quase três anos, com o real entre os piores desempenhos globais seguindo um dia de fortes perdas nos mercados financeiros diante das dúvidas sobre a capacidade de bancos centrais e governos de lidar com a crise do coronavírus.
O câmbio doméstico foi afetado adicionalmente pelo salto nas apostas de corte mais agressivo de juros pelo Banco Central brasileiro na próxima quarta-feira, depois de o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) em novo movimento emergencial derrubar o juro norte-americano para perto de zero no domingo.
Operadores --que poucos dias atrás quase zeraram apostas de corte de 0,25 ponto percentual da Selic nesta semana-- não apenas retomaram essas posições como as intensificaram, com a curva de DI chegando a mostrar probabilidade de redução de 0,75 ponto percentual do juro básico.
Já o UBS vê corte ainda mais agressivo, de 1 ponto percentual, e diz que não há razão para o BC esperar até quarta-feira para anunciar sua decisão, que pode ser antecipada até para esta segunda, segundo o banco privado.
"Também devemos esperar o anúncio de um programa de intervenção cambial mais estruturado", disse o banco em relatório nesta segunda-feira, assinado por Tony Volpon e Fabio Ramos.
Os sucessivos cortes de juros dos últimos vários meses reduziram a diferença entre as taxas pagas pelos títulos brasileiros e os papéis norte-americanos --considerados os mais seguros do mundo. Assim, o investidor estrangeiro tem tido menos estímulo para aplicar na renda fixa local, o que tem prejudicado o fluxo cambial e jogado contra melhora na oferta de dólar no país.
Apesar do salto do dólar e da depreciação mais forte do real que a de outras moedas nesta sessão, o Banco Central não atuou no mercado com venda de swaps, dólar à vista ou leilões de linha, diferentemente dos últimos dias, ao longo dos quais utilizou as três ferramentas.
A inação do BC foi citada como componente para a alta mais forte do dólar nesta sessão.
"Talvez o BC possa carregar a mão nas intervenções diárias", disse Rafael Panonko, chefe da área de research da Toro Investimentos. "A inflação por ora está tranquila, mas pode subir agora com a corrida das pessoas aos supermercados, e esse movimento do câmbio definitivamente não ajuda. O BC deve fazer as duas coisas: cortar juro e defender o câmbio", acrescentou.
O dólar disparou nesta sessão frente a várias divisas emergentes, com destaque negativo para o peso mexicano, e perdia 1,8% ante o iene, considerado porto seguro, num movimento típico de um mercado avesso a risco diante dos temores sobre os efeitos econômicos do coronavírus.
A alta da moeda dos EUA acelerou no fim da tarde conforme as bolsas de valores em Wall Street aprofundaram as perdas. O S&P 500, índice de referência do mercado acionário dos EUA, desabou quase 12%, enquanto o índice visto como um "termômetro do medo" em Nova York fechou em máxima histórica.
No Brasil, o dólar à vista saltou 4,86% no fechamento, a 5,0467 reais na venda, nova máxima recorde nominal para um encerramento de sessão.
No pico intradiário, a cotação foi a 5,0700 reais.
A alta percentual é a mais intensa desde a disparada de 8,15% de 18 de maio de 2017, data que ficou conhecida como "Joesley Day", depois de o empresário Joesley Batista ter divulgado áudios do então presidente da República Michel Temer.
Em março, o dólar acumula alta de 12,62%, enquanto em 2020 a moeda se valoriza 25,76%.
O dólar futuro da B3 --em que os negócios se encerram às 18h-- tinha alta de 3,95%, a 5,0235 reais.
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