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Queda do consumo de combustíveis na América Latina reduz demanda por refino dos EUA

27/03/2020 10h29

Por Marianna Parraga e Devika Krishna Kumar

CIDADE DO MÉXICO/NOVA YORK (Reuters) - A demanda por produtos refinados na América Latina está secando rapidamente à medida que a pandemia de coronavírus piora, deixando as refinarias norte-americanas sem seu principal destino de exportação à medida que o vírus se espalha.

A crise quase interrompeu as viagens aéreas em todo o mundo e está destruindo a demanda por combustível, que pode cair de 15% a 20% globalmente nos próximos meses.

O vírus não atingiu a América Latina com a mesma intensidade que a Europa ou os Estados Unidos, mas está se espalhando cada vez mais pela região, e um número crescente de nações está impondo restrições de viagem.

Os maiores importadores da região nos últimos dias começaram a cortar pedidos de cargas de combustível, que são executados principalmente no mercado spot volátil, à medida que o consumo cai, de acordo com fontes de empresas de trading e refino.

Os dois maiores importadores de combustíveis da América Latina, a Petroleos Mexicanos e a Petrobras, reduziram o número de cargas de gasolina e diesel a serem importadas nas próximas semanas, segundo traders.

Os Estados Unidos exportaram 2,9 milhões de barris por dia de combustível para a América Latina e o Caribe no ano passado, de acordo com a Administração de Informação de Energia (AIE) dos EUA, tornando a região o maior comprador de produtos refinados norte-americanos e um cliente constante de refinarias dos EUA.

No México, que comprou 1,19 milhão de bpd de combustível dos Estados Unidos em 2019, a demanda do varejo contraiu 15% nas últimas duas semanas, de acordo com sua associação de vendedores de combustíveis, Onexpo, enquanto os preços começaram a cair nos postos de gasolina.

As exportações de combustíveis dos EUA para a América Latina foram afetadas por um "super bloqueio", disse um comerciante de produtos refinados de uma companhia global. Outro disse que as exportações foram atingidas enquanto o "mundo está parando".

"A maioria das compras oportunistas motivadas pela queda dos preços desapareceu, pois os maiores importadores da região não têm grande capacidade de armazenar gasolina ou diesel", disse outro trader.

O maior importador do México, a Pemex, já havia reduzido as importações de combustível em 14% em janeiro para 733.600 bpd, segundo dados oficiais.

No Brasil, maior comprador latino-americano de diesel, as vendas domésticas de combustíveis caíram recentemente em média 50% nas bombas nas cidades com mais de 300.000 habitantes, disse na quarta-feira um sindicato que representa mais de 40.000 postos de gasolina.

As autoridades locais brasileiras estão tentando restringir as viagens para combater o vírus, mesmo quando o presidente Jair Bolsonaro se opôs às paralisações.

A Venezuela, importadora regular de nafta diluente, gasolina e diesel, reduziu as compras neste mês para cerca da metade, principalmente devido às sanções dos EUA que limitam os fornecedores que podem trabalhar com a estatal PDVSA, mas também por causa da queda na demanda após o fechamento de postos de gasolina.

Na Colômbia, a Ecopetrol controlada pelo Estado, notou uma queda na demanda doméstica de combustível, o que já motivou cortes de processamento nas refinarias de Cartagena e Barrancabermeja.

A Pemex e a PDVSA não responderam aos pedidos de comentário. A Petrobras não quis comentar.

(Reportagem de Marianna Parraga na Cidade do México e Devika Krishna Kumar e Laura Sanicola em Nova York, reportagem adicional de Marta Nogueira no Rio de Janeiro, Olivier Griffin em Bogotá e Adriana Barrera e Ana Isabel Martinez na Cidade do México)