Governo e BNDES discutem com bancos socorro a grandes empresas atingidas pela crise
Por Marcela Ayres e Carolina Mandl
BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está discutindo com bancos privados os detalhes operacionais de resgates para setores duramente atingidos pela crise do coronavírus, como companhias aéreas, montadoras, empresas de energia e grandes varejistas não essenciais, disseram três fontes com conhecimento do assunto.
O BNDES está organizando uma espécie de sindicato com os bancos para que soluções de mercado sejam estruturadas, envolvendo emissão, pelas empresas em dificuldades, de instrumentos financeiros como debêntures conversíveis, na parte de renda fixa, e bônus de substituição e opções de compra, na parte de renda variável.
Os maiores credores brasileiros —Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil— estão participando das conversas desde já porque a ideia é que eles ajudem na escolha do instrumento mais adequado para atração de investidores. Muitas instituições, inclusive, têm exposição a essas empresas, razão pela qual têm interesse direto na estabilização dos negócios.
O BNDES atuará como comprador dos instrumentos emitidos, tendo hoje um espaço de cerca de 80 bilhões de reais para atuar, segundo uma das fontes, que é próxima do governo.
"Se a debênture sair, o bônus sair, você vai ter investidores privados e o BNDES que vão ser titulares dessas debêntures e bônus. As características deles (instrumentos) são uma só para todos", pontuou.
De acordo com a fonte, o BNDES não quer tomar todo o risco sozinho porque, na prática, isso limitaria seu poder de socorrer outras companhias. Ao dividir o risco com outros bancos e investidores, o BNDES mira um universo maior de empresas.
Segundo a Reuters apurou, os bancos querem que o governo assuma o risco de inadimplência de parte das operações, mas a equipe econômica busca estruturar, neste momento, uma saída que não envolva recursos públicos pela avaliação de que o Tesouro já está sob forte pressão de gastos em meio à pandemia do coronavírus.
O mecanismo em estudo para eventual participação direta do Tesouro seria o "first loss", com a União garantindo aos bancos até um determinado limite de inadimplência caso as empresas socorridas não pagassem a dívida no futuro, segundo as discussões.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, participou na segunda-feira de videconferência com os presidentes-executivos dos maiores bancos do país para discutir quais instrumentos seriam necessários. Os presidente do BNDES, Gustavo Montezano, e do Banco Central, Roberto Campos Neto, também participaram do encontro.
Desde o fim de semana a equipe de Guedes está debruçada sobre o tema.
Uma segunda fonte disse que as negociações ainda estão em andamento, pois os bancos entendem que poderiam cooperar, mas a maior quantidade de recursos para esses setores deve vir do governo, uma vez que os riscos são considerados altos.
Procurados, BNDES e Ministério da Economia não se manifestaram imediatamente.
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