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Vendas no varejo e produção fabril nos EUA afundam com economia abalada por coronavírus

15/04/2020 15h45

Por Lucia Mutikani

WASHINGTON (Reuters) - As vendas no varejo dos Estados Unidos sofreram uma queda recorde em março, e a produção nas fábricas teve o maior recuo desde 1946, reforçando a visão de analistas de que a economia se contraiu no primeiro trimestre no ritmo mais acentuado em décadas, com medidas extraordinárias para controlar a propagação do novo coronavírus paralisando o país.

Os relatórios desta quarta-feira foram divulgados em um momento no qual milhões de norte-americanos têm sido dispensados dos empregos e, até o momento, foram as evidências mais sólidas de que a economia está em uma profunda recessão e, potencialmente, em risco de depressão.

Estados e governos locais emitiram ordens de "fiquem em casa" ou "abriguem-se em algum local", as quais afetam mais de 90% dos norte-americanos, a fim de conter a disseminação do Covid-19, a doença respiratória causada pelo vírus, o que interrompeu abruptamente a atividade econômica no país.

"Os economistas há muito imaginam ao longo dos anos como seria uma nova Grande Depressão, mas hoje eles podem parar de pensar nisso", disse Chris Rupkey, economista-chefe do MUFG em Nova York. "Claramente, as coisas nunca mais serão as mesmas para consumidores e fábricas, onde todos no país terão que se contentar com menos."

As vendas do varejo despencaram 8,7% no mês passado, maior declínio desde que o governo começou a monitorar a série, em 1992, informou o Departamento de Comércio. Os dados de fevereiro sofreram ligeira revisão para mostrarem que as vendas do varejo caíram 0,4% em vez de recuo de 0,5% relatado anteriormente.

Economistas consultados pela Reuters previam que as vendas no varejo cairiam 8% em março. Em relação a março do ano passado, as vendas tiveram queda de 6,2%.

A redução em 46,2 bilhões de dólares nas vendas em março foi quase igual, em um único mês, ao declínio de 49,1 bilhões de dólares --entre o pico e o fundo do poço-- ocorrido ao longo de 16 meses durante a Grande Recessão.

A queda das vendas do varejo no mês passado refletiu receitas fracas nas concessionárias, com as vendas de automóveis caindo 25,6%. Com milhões em casa e os preços do petróleo em colapso, em meio a preocupações com uma profunda recessão global, os preços da gasolina caíram, o que levou a um declínio de 17,2% nas vendas em postos de combustíveis.

Além disso, o fechamento de varejistas de serviços não essenciais reduziu as vendas de roupas em 50,5% no mês passado. As receitas nas lojas de móveis caíram 26,8%, e os gastos com artigos esportivos, hobby, instrumentos musicais e livrarias caíram 23,3%. As vendas nas lojas de eletrônicos e eletrodomésticos caíram 15,1%.

Também houve declínios acentuados nas receitas de restaurantes e bares, que interromperam o atendimento presencial e passaram para o serviço de retirada e delivery. Embora algumas empresas, incluindo restaurantes, tenham migrado para as vendas online, os volumes foram insuficientes para compensar a diminuição nos volumes decorrente das medidas de distanciamento social.

As vendas em restaurantes e bares caíram 26,5% no mês passado.

FORTES VENDAS EM SUPERMERCADOS

A queda nas vendas devido à restrição social sobrepujou em muito o aumento de 3,1% das receitas de varejistas online como Amazon, além de supermercados e farmácias, já que os consumidores estocaram itens essenciais, como alimentos, papel higiênico, material de limpeza e medicamentos.

As vendas nas chamadas "grocery stores" --que incluem mercadinhos e supermercados-- dispararam 26,9%, e as receitas em lojas de produtos de saúde saltaram 4,3%. As vendas nas lojas de material de construção aumentaram 1,3%.

Excluindo automóveis, gasolina, materiais de construção e serviços de alimentação, as vendas no varejo aumentaram 1,7% em março, após queda de 0,2% (número revisto para baixo) em fevereiro.

Esse é o chamado núcleo das vendas no varejo. Antes, os dados haviam mostrado estabilidade em fevereiro. O núcleo das vendas no varejo corresponde mais de perto ao componente de gastos do consumidor do Produto Interno Bruto (PIB).

Apesar do aumento de março no núcleo do índice de vendas no varejo, economistas estão prevendo que os gastos do consumidor recuem a uma taxa anualizada de pelo menos 17% no primeiro trimestre, o que seria o desempenho mais fraco desde que os registros começaram, em 1947.

Um relatório separado do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) nesta quarta-feira mostrou que a produção manufatureira despencou 6,3% no mês passado, maior queda desde fevereiro de 1946.

Outro relatório, mas do Fed de Nova York, mostrou que a atividade fabril no estado de Nova York caiu para uma mínima recorde em abril.

Com os dados de março severamente fracos, economistas estão estimando que a economia tenha recuado a uma taxa de até 10,8% no primeiro trimestre, o que seria a maior contração desde 1947.