Congresso critica demissão de Mandetta e cobra alinhamento científico de novo ministro
BRASÍLIA (Reuters) - O Congresso recebeu com críticas a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde, e creditou sua saída ao fato de seguir critérios científicos para a atuação no combate à crise do coronavírus.
Parlamentares manifestaram temor e pediram que o novo ministro siga as diretrizes médicas e científicas para conduzir a pasta.
Mandetta entrou em linha de choque com o presidente Jair Bolsonaro ao defender o isolamento social para retardar o avanço da doença, medida criticada pelo presidente, que deseja a ampla retomada da atividade econômica.
Deputados e senadores apontaram ainda que Bolsoanro teria ficado incomodado com a popularidade de Mandetta.
Veja, a seguir, manifestações de parlamentares.
RODRIGO MAIA (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados:
"Tenho certeza que falo em nome da maioria da Câmara dos Deputados num momento em que o ministro Mandetta anuncia que foi demitido. A nossa homenagem ao ministro Mandetta, à sua dedicação, ao seu trabalho, à sua competência", disse o presidente da Câmara, acrescentando que o ministro deixou um "legado" e uma "estrutura" para o combate à crise do coronavírus.
ANTONIO ANASTASIA (PSD-MG), primeiro vice-presidente do Senado:
"É muito positivo quando um servidor realiza com galhardia e eficiência seu trabalho... O ministro Luiz Henrique Mandetta, com muito esforço e dedicação, honrou nossa nação e seu trabalho como médico, servindo à nação com base nos seus conhecimentos técnicos e científicos. Merece nossos agradecimentos e nosso melhor reconhecimento."
"Ao novo ministro Nelson Teich desejo sucesso e um bom trabalho. O Brasil necessita e espera isso, especialmente nesse momento."
MAJOR OLIMPIO (SP), líder do PSL no Senado:
"Mandetta foi demitido porque não abriu mão de princípios científicos e médicos em nome da saúde do povo brasileiro. Nelson Teich assume o lugar de ministro. Eu vi artigos dele defendendo o isolamento horizontal para todos. Se ele persistir nesse fundamento, vai ter problemas sérios com o presidente Bolsonaro e não vai durar 30 dias no cargo. Ou terá que rasgar o seu diploma e contrariar toda a comunidade científica mundial. Sorte ao novo ministro. Mais sorte ainda ao povo brasileiro e à saúde pública."
EFRAIM FILHO (PB), líder do DEM na Câmara:
"A saída de Mandetta é uma notícia lamentada em boa parte do Brasil, pois conquistou a confiança e o respeito da família brasileira com sua postura técnica. Íntegro, permaneceu até o último minuto servindo ao país. Sai com sentimento de dever cumprido, salvou muitas vidas enquanto prevaleceram suas orientações. Obrigado Mandetta, você deixa exemplo para o Brasil e orgulho para o Democratas, de quem tem total apoio e solidariedade."
CARLOS SAMPAIO (SP), líder do PSDB na Câmara:
"É lamentável a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no momento em que o país caminha para a fase mais aguda da pandemia. Mandetta se tornou alvo de críticas e intrigas dentro do governo nos últimos dias, justamente por estar fazendo um bom trabalho, alinhado à ciência, aos organismos e às autoridades internacionais."
"O que se espera, neste momento, é que seu substituto mantenha a linha de atuação que os países, na sua grande maioria, estão adotando. Não é possível que o mundo inteiro esteja errado. São vidas que estão em jogo e o esforço para preservá-las deve estar acima de disputas políticas e ideológicas."
ELIZIANE GAMA (MA), líder do Cidadania no Senado:
"O Brasil recebe com temor a demissão do ministro Mandetta. Como médico, mostrou apreço pela vida. No ofício de ministro, teve coragem ao não se submeter às loucuras de um presidente que se mostrou tantas vezes irresponsável."
"Ao novo ministro, que mantenha o perfil técnico. Critérios econômicos e ideológicos não podem ser maiores que o respeito à vida. As instituições estão atentas e não vão permitir qualquer medida que traga riscos à saúde pública."
ALESSANDRO MOLON (RJ), líder do PSB na Câmara:
"Desde o começo desta crise, Bolsonaro escolheu o caminho da negação e guiou suas decisões pelo achismo, politizando o que deveriam ser ações técnicas com critérios científicos."
"A demissão de Mandetta não passa de um acerto de contas por parte de um chefe que, no auge de sua mediocridade, não tolera um auxiliar se destacando mais do que ele. Um comportamento irresponsável de quem está mais preocupado com sua reeleição do que em salvar as vidas dos brasileiros."
ARNALDO JARDIM (SP), líder do Cidadania na Câmara:
"É ciência, ciência e ciência. Esperamos que esse seja o parâmetro do novo titular da Saúde. Com a saída de Mandetta, torcemos para que não seja demitida a política do isolamento social, a transparência na divulgação de dados sobre o novo coronavírus, a integração da pasta com municípios e Estados, ou seja, tudo aquilo que era uma política pública bem desenvolvida até então."
"É claro que é prerrogativa do chefe do Executivo nomear e demitir seus ministros, mas Câmara e Senado deverão redobrar a atenção no sentido de zelarem por tudo aquilo que já foi deliberado. Ou seja, o Parlamento não poderá tolerar qualquer medida palaciana que ponha em risco a saúde dos brasileiros."
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)
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