Economia do Chile, afetada por protestos em 2019, enfrenta coronavírus
SANTIAGO (Reuters) - A economia do Chile, que já foi alvo da inveja na América Latina, sofrerá uma recuperação dolorosamente lenta depois de ter sido afetada pelo golpe duplo dos protestos em massa do final de 2019 e da crise do coronavírus, disseram observadores do mercado.
A nação andina, entre as regiões mais dependentes das exportações de mineração e agricultura, viu o valor de seus embarques para o exterior despencar quase 9% apenas no primeiro trimestre, segundo dados da Alfândega chilena divulgados no início de abril.
A queda acentuada nas exportações e o aumento do desemprego vêm na esteira de meses de protestos contra as desigualdades econômicas e sociais, que deixaram bilhões em prejuízos para as empresas e destruíram a infraestrutura pública de todo o país.
Enquanto o importante setor de mineração do Chile escapou do pior dos protestos e do coronavírus até agora, o valor das principais exportações de frutas, vegetais, salmão e produtos florestais despencou no primeiro trimestre, mostram dados da Alfândega. Os setores de serviços e turismo também caíram.
"A normalização, especialmente no setor de comércio e serviços, será muito gradual", disse Hernán Frigolett, economista da Universidade de Santiago. "As pessoas têm medo e a crise da saúde provavelmente continuará até setembro."
O país confirmou mais de 8 mil casos de coronavírus desde o início do surto no país, seis semanas atrás, entre os números mais altos de contágio da América Latina.
O Chile fechou suas fronteiras no início de março, e grandes áreas da capital Santiago, cidade de 6 milhões de habitantes, foram isoladas para impedir a propagação do vírus. Centros comerciais, escolas, cinemas e a maioria dos serviços não essenciais foram fechados.
O banco central do Chile, que já tinha uma perspectiva de crescimento morno de 0,5% a 1,5% em 2020, reduziu sua previsão. Agora, projeta que a economia recuará de 1,5% a 2,5% em 2020.
Embora as autoridades do banco central prevejam uma lenta recuperação no terceiro trimestre, analistas econômicos em uma pesquisa recente do banco previram uma contração de 4,9% no segundo trimestre, tornando menos provável uma recuperação tão cedo.
Alguns analistas disseram que o agravamento das condições econômicas poderia atiçar as chamas do movimento de protestos depois que o surto diminuir.
"O ritmo da recuperação dependerá (...) do ressurgimento de eventos como os observados no final de 2019", disse a corretora BanChile em nota.
(Por Fabian Cambero, Dave Sherwood e Reuters TV)
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