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Bolsonaro defende democracia após discursar em ato pró-intervenção militar e diz que espera fim de quarentena nesta semana

20/04/2020 09h55

Por Eduardo Simões

(Reuters) - Um dia depois de discursar em um ato em Brasília que pediu uma intervenção militar no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro negou que a manifestação tivesse viés antidemocrático e repreendeu um apoiador que pediu o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF), ao mesmo tempo que disse esperar que esta seja a última semana de medidas de isolamento para conter o coronavírus.

Bolsonaro disse que as reivindicações do protesto eram povo na rua e volta ao trabalho e alegou que todo movimento tem "infiltrados", apesar de manifestantes que estavam no ato em que ele discursou na véspera carregarem faixas pedindo intervenção militar, o fechamento do Supremo e do Congresso Nacional e um novo Ato Institucional número 5, editado na ditadura militar e que marcou o endurecimento do regime.

O presidente chegou a repreender um apoiador que gritou pelo fechamento do Supremo.

"Deixa essa conversa aí, dá licença aí. Aqui não tem fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia. Aqui é respeito à Constituição brasileira, e aqui é a minha casa e a sua casa, então peço, por favor, que não se fale isso aqui. Supremo aberto, transparente! Congresso aberto, transparente! Nós o povo estamos no governo", disse ele em resposta ao apoiador.

Em um outro momento, o presidente disse que ele é a Constituição.

"Eu sou realmente a Constituição", disse Bolsonaro no que foi aplaudido por apoiadores. "E mais, eu tenho conduzido o Brasil orientado e fiel aos interesses do povo brasileiro. Nada eu faço que não esteja de acordo com eles."

A ida de Bolsonaro à manifestação em frente ao Quartel General do Exército provocou reação de membros do Legislativo, do Judiciário, de governadores e prefeitos. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que além do coronavírus, o Brasil precisa combater o vírus do autoritarismo.

Em nota, a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) repudiou o que chamou de "atentado a democracia" e disse que Bolsonaro "não pode tergiversar sobre a democracia" e que o inimigo do país é o coronavírus, que já matou 2.462 pessoas no Brasil.

"É lastimável que em meio a milhares de velórios trágicos e rápidos, o iminente colapso do sistema de saúde e a incerteza diante da pandemia que apavora, o Brasil siga esse torpe caminho, siga nessa encruzilhada."

"TEM GENTE QUE VAI MORRER"

Bolsonaro voltou a defender o fim do isolamento e criticar medidas de distanciamento social adotadas por governadores e prefeitos, como o fechamento do comércio não essencial, uma ferramenta recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a propagação da Covid-19, doença respiratória provocada pelo coronavírus que já matou 2.462 pessoas no Brasil, com 38.654 casos confirmados.

"Eu espero que essa seja a última semana dessa quarentena, dessa maneira de combater o vírus todo mundo em casa", disse o presidente.

Em conversa com apoiadores antes de falar com jornalistas, Bolsonaro disse lamentar as mortes, mas voltou a afirmar que elas fazem parte da vida e a minimizar a doença.

"Houve uma potencialização da consequência do vírus. Levaram pavor, histeria e não é verdade, estão vendo que não é verdade", disse. "Lamentamos as mortes, lamentamos, mas é vida. Tem gente que vai morrer."

A postura do presidente no domingo também foi criticada por entidades de defesa dos direitos humanos. Para a Human Rights Watch, Bolsonaro "continua a agir de forma irresponsável e perigosa, colocando em risco a vida e a saúde dos brasileiros, em flagrante desrespeito às recomendações do seu próprio Ministério de Saúde e da Organização Mundial da Saúde".

"Além disso, ao participar de ato com ostensivo apoio à ditadura, Bolsonaro celebra um regime que causou sofrimento indescritível a dezenas de milhares de brasileiros, e resultou em 4.841 representantes eleitos destituídos do cargo, aproximadamente 20.000 pessoas torturadas e pelo menos 434 pessoas mortas ou desaparecidas", afirmou a HRW.

Para a diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, a participação de Bolsonaro em manifestação a favor de intervenção militar, é "inaceitável".

Bolsonaro também voltou a atacar nesta segunda-feira a imprensa e os jornalistas presentes na saída do Alvorada.

"Quem vai falar sou eu. Quem não quiser ouvir está dispensado", disse o presidente ao chegar ao local onde os jornalistas o aguardavam, ao anunciar que não responderia perguntas.

"Você é da Folha, não quero responder para a Folha", afirmou a um repórter, que disse não ser da Folha de S.Paulo e, indagado mais de uma vez de qual veículo era, disse ser de O Globo.

"Não quero papo com o Globo também. O Globo nem devia estar aqui", respondeu.