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Mesmo com atuação de militares, início de agosto traz sinais de disparada nas queimadas na Amazônia

04/08/2020 17h27

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - Apesar da operação de Garantia da Lei e da Ordem que está na região amazônica desde maio, as queimadas começam a dar sinais que podem disparar neste mês de agosto, com algumas regiões registrando um crescimento exponencial de focos de incêndio na virada do mês.

Dados do boletim de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, na comparação entre os três primeiros dias de agosto com os três dias de agosto, o número de focos de incêndio aumentou 572% em todo país, chegando 4.279.

No Estado do Amazonas, em que os últimos dias viu um crescimento acelerado de focos entre as cidades de Apuí e Novo Aripuanã, as queimadas passaram de apenas 5 nos primeiros dias de julho para 936 neste início de agosto, um aumento de 18.620%. No Pará, o crescimento foi de 1.774%, chegando a 1.162 focos; No Acre, de 1.564%, com 183 pontos de queimadas.

Coordenador do Programa Queimadas do Inpe, o pesquisador Alfredo Setzer alertar que a comparação de um período de apenas três dias pode não refletir o comportamento no restante do mês, mas confirma que é um crescimento expressivo, especialmente se considerando que agosto é quando as queimadas na Amazônia Legal começam efetivamente a crescer.

"De qualquer forma, os números são muito altos. Mais de mil focos em um só dia com certeza é significativo. O sul do Pará e o sul do Amazonas têm grande atividade de fogo, grandes desmatamentos e grandes queimadas", disse Setzer à Reuters.

Os dados do Inpe mostram que o número de focos de incêndio na Amazônia em julho já estavam acima da média histórica, mas não muito, com 6.803 pontos detectados pelos satélites --a média é de 6.243.

O salto deve ocorrer a partir mesmo de agosto. Segundo o pesquisador, agosto, setembro e outubro costumam ser os piores meses para queimadas na região. Em 2019, depois de um crescimento de mais de 80% no início de agosto e um período de resistência em aceitar os números, o governo iniciou uma GLO para combater as queimadas que levou a uma redução considerável em outubro.

Este ano, no entanto, a GLO já está em ação desde maio, mas não teve um efeito significativo, apesar de o vice-presidente, Hamilton Mourão, também coordenador do Conselho da Amazônia, ter apostado que a ação dos militares teria efeito contra as queimadas, mesmo que fosse tarde para evitar o crescimento do desmatamento este ano.

"Realmente está havendo uma queima acima do que ocorre nessa época. Não estão controladas ou não estaria acontecendo isso. Toda a informação necessária para se controlar está aí, para que se faça a detecção e o controle", disse Setzer.

Dois fatores são apontados como os principais para evitar as queimadas: o clima, que em anos mais úmidos impede a propagação do fogo, e a fiscalização.

Os dados de 2019 mostram que onde a GLO atuou com força, como Amazonas e Pará, houve uma queda das queimadas em outubro. Já no Acre, onde a GLO praticamente não chegou, os focos de incêndio continuaram aumentando.

"Essas imagens recentes são uma prova de que os fazendeiros não estão levando a sério essa GLO. Por que razão, não sei. Mas é uma indicação de que não está tendo controle", afirmou o pesquisador. "Até agora não tem sinais de movimento diferente. Está tudo na média, não tem nada marcante ao ponto de reduzir as detecções."

No acumulado do ano, até início de agosto, o número de focos de incêndio cresceram apenas 5% em todo o país, em relação ao mesmo período do ano passado. No Amazonas e no Pará, no entanto, aumentaram mais de 50%.

As queimadas costumam ser um indicativo do aumento da área desmatada no país. Em várias regiões, como no Pantanal --que sofre com aumento grande de incêndios este ano-- as queimadas são usadas como preparação para lavoura ou pasto. Na Amazônia, isso também acontece, mas esconde também a iniciativa de desmatadores ilegais de queimar o que sobrou da mata nativa depois da retirada das árvores com valor comercial.

A queimada dos troncos que restaram é última etapa para transformar o que sobrou de floresta em pasto.

Philip Fearnside, da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explica que o desmatamento facilita com que áreas ainda de florestas também peguem fogo, ampliando o estrago.

"Quando fogo entra na floresta é enorme o dano, especialmente em anos mais secos. Enormes áreas de floresta ficam fragilizadas pela ação do homem, mesmo com manejo legalizado, porque deixa madeira seca na floresta, aumenta a abertura na copa das árvores. Isso facilita o incêndio", explicou.

Fearnside também é cético em relação à atuação da GLO.

"GLO, por várias razões não tem efeito. É ineficiente comparado com o Ibama, que tem todo um sistema para saber que locais priorizar e que com mesmo esforço e mesmo gasto consegue um resultado melhor", diz.

Além disso, afirma, o discurso do governo não ajuda.

"As pessoas lá não se informam pelos grandes jornais, elas recebem informação por Whatsapp. E lá parece que tudo pode", afirma.