Guedes dá razão a Bolsonaro sobre abono salarial, minimiza divergências sobre gastos na Esplanada
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, avaliou nesta sexta-feira que a reação contrária de Jair Bolsonaro à proposta de fim do abono salarial é natural e deriva de instinto político, acrescentando também que o presidente teve razão ao avaliar que isso representaria tirar dos pobres para dar aos mais pobres.
Em conferência promovida pelo Instituto Aço Brasil, o ministro também buscou contemporizar divergências com colegas na Esplanada, afirmando que elas ganham dimensão de crise por má interpretação. Guedes classificou como natural a existência de choques entre os ministros que querem gastar mais e os que defendem a austeridade.
"Quem arbitra é o presidente, quem tem voto e quem decide é o presidente, e o presidente tem decidido sempre na direção da responsabilidade fiscal. Ele tem reafirmado isso sucessivamente", disse.
Numa fala que mexeu com os mercados na semana passada, Bolsonaro afirmou que a proposta do Ministério da Economia para o Renda Brasil estava suspensa e que ele não podia "tirar de pobres para dar para paupérrimos", em referência à canalização dos recursos do abono para o Bolsa Família repaginado.
A extinção do abono representava a espinha dorsal da focalização nos mais pobres pretendida por Guedes no Renda Brasil, já que o direcionamento de recursos para o Bolsa Família com o fim de outros programas teria um impacto muito menor. [nL1N2FS1IH]
Nesta sexta-feira, Guedes afirmou que o presidente reagiu naturalmente e com instinto político.
"O salário de 75% dos brasileiros que estão na CLT é abaixo de 1,5 salário mínimo, então realmente (acabar com abono) é tirar da base de trabalhadores brasileiros e passar pro que está desempregado, que está pior ainda, mas essa era uma das possibilidades que estavam sendo examinadas", acrescentou.
O ministro brincou ter tomado "uma dessa" após a crítica pública do presidente.
"Falei com ele, pô presidente, isso aí é carrinho e uma entrada perigosa, ainda bem que foi fora da área senão era pênalti", disse.
Segundo ele, o Ministério da Economia levou "uma porção de outras propostas" para o Renda Brasil e essa discussão segue em curso, devendo entrar em reta final nos próximos dias.
"A questão é se aterrissamos do auxílio emergencial para um auxílio emergencial um pouco mais baixo até final do ano, ou se já aterrissamos no Renda Brasil, que é uma construção mais robusta, mas que exige alguns ajustes, porque nós temos que fazer tudo dentro do teto, com responsabilidade fiscal e transparência", afirmou ele.
Guedes sinalizou que a solução para o impasse passaria pela desvinculação de recursos que estão hoje carimbados e mal alocados, numa provável referência à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo, que está sendo relatada pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC).
ATIVIDADE
O ministro voltou a avaliar que o país irá surpreender o mundo com sua recuperação econômica e citou o papel importante de dois vetores nesse processo: a aceleração do crédito, em resposta a programas do governo que enfim chegaram à ponta, e a garantia do consumo da baixa renda, seja pela renovação do auxílio emergencial, seja pela instituição do novo Renda Brasil.
Guedes reafirmou que a retomada está ocorrendo em formato de V, em referência a uma volta rápida após queda abrupta, e fez uma série de previsões otimistas. Na visão do ministro, o setor da construção civil, por exemplo, passará por um boom que deve durar de cinco a dez anos.
Ele elogiou a atuação do Congresso durante a crise e afirmou esperar a apreciação de mais regras que modernizem marcos regulatórios para setores como de gás e energia elétrica.
O ministro também repetiu que três ou quatro grandes privatizações ou "tangibilização de ativos" serão anunciadas, embora não tenha dado prazo para tanto.
"Temos conversado sobre o caso de PPSA e temos apoio do Senado pra avançar com isso. Eletrobras, PPSA, estamos olhando para Correios, hoje estamos falando de Docas também", afirmou.
Sobre a regra do teto de gastos, Guedes avaliou que ela funciona como uma promessa de seriedade e que vai existir enquanto for necessária.
"Não estou vendo tão cedo essa dispensa", afirmou.
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