Dólar flerta com R$5,68, mas fecha perto da estabilidade enquanto mercado avalia risco fiscal
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou perto da estabilidade ante o real nesta terça-feira, depois de oscilar entre altas e baixas, com o mercado mostrando indefinição diante de contínua apreensão do lado fiscal, intensificada na véspera pela proposta apresentada para financiar o Renda Cidadã.
A moeda norte-americana teve variação positiva de 0,14%, a 5,6428 reais na venda, nova máxima desde 20 de maio (5,6902 reais).
A cotação atingiu a mínima do dia ainda na primeira hora de pregão --de 5,6064 reais, queda de 0,51%--, depois ganhou força antes de voltar a recuar.
Em torno de 11h30 as compras voltaram ao mercado, e o dólar foi à máxima do dia por volta de 13h (de 5,6795 reais, valorização de 0,79%). A moeda desacelerou os ganhos até 14h31, a partir de quando se estabilizou até o fechamento.
De forma geral, o mercado mostrou cerca "ressaca" da turbulência da véspera, quando o dólar disparou após notícia de que os recursos que bancariam o programa Renda Cidadã não viriam de cortes de gastos, mas sim de dinheiro de precatórios, do Bolsa Família (que será extinto) e do Fundeb.
O dólar subiu 1,46% na segunda, a 5,6351 reais.
O presidente Jair Bolsonaro se defendeu das avaliações de que o governo estaria usando atalhos para burlar o teto de gastos e criar o programa e afirmou que a responsabilidade fiscal e o teto são os "trilhos da economia", mas reclamou que precisa de sugestões, e não de críticas.
Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos, acredita que após a "forte reação contrária" de várias entidades, parte da proposta será abandonada.
"Contudo, o problema não acaba por aqui. Fica clara a incapacidade deste governo e deste Congresso em avançar com medidas de ajuste fiscal focadas na contenção de custos. Todas as propostas, até aqui, incluem aumento de impostos ou medidas que buscam tergiversar a Constituição", afirmou.
Outros mercados brasileiros voltaram a mostrar desempenho negativo nesta sessão, mesmo depois de na véspera já terem mostrado expressivas perdas. A taxa do contrato de juros futuros da B3 para janeiro 2023 saltou 12 pontos-base, e o principal índice da bolsa de valores de São Paulo fechou em queda de 1,22%, a 93.510,46 pontos, mínima desde meados de junho, segundo dados preliminares.
O secretário do Tesouro, Bruno Funchal, afirmou nesta terça-feira que o mercado deu um "sinal muito claro" sobre a forma de financiamento do Renda Cidadã.
Em relatório, analistas do Citi afirmaram que os "riscos fiscais continuam aumentando", o que os levou a reafirmar sua previsão de que o gasto público total ultrapassará os limites fixados pelo teto de gastos no próximo ano.
"A escalada adicional dos riscos fiscais para o próximo ano são consistentes com nossa previsão de dólar a 5,38 reais ao final de 2020 apenas se as condições globais continuarem a melhorar e se o gasto público ultrapassar o limite do teto de gastos apenas em 2021 e em um montante limitado de 1,0% do PIB", afirmaram.
No exterior, o dólar tinha desempenho misto ante moedas de risco, mas com viés de alta, com as atenções de investidores voltadas para o debate entre o presidente norte-americano Donald Trump, um republicano, e seu rival democrata na corrida presidencial, Joe Biden.
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