Surpresas negativas acendem alerta para leilões de petróleo do Brasil, diz Wood Mack
O Brasil teve um "boom" de leilões de áreas de petróleo e gás desde 2017, antes de a pandemia adiar novas licitações, mas os primeiros poços perfurados pelos vencedores dessas disputas têm decepcionado, o que acende alertas para o governo em relação às próximas rodadas, disseram à Reuters analistas da Wood Mackenzie.
Os resultados iniciais considerados "desapontadores" ainda vêm em momento em que petroleiras por todo o mundo têm cortado investimentos em exploração e produção devido aos impactos do coronavírus sobre a indústria, dada a forte retração no consumo de combustíveis, destacaram os especialistas da consultoria.
"Até agora há cinco blocos em que começaram (as perfurações) nesses leiloados desde 2017. Tem aí um apanhado de várias regiões no polígono do pré-sal e um bloco já fora do polígono... estamos em cinco perfurações e nenhum grande caso de sucesso", disse o chefe de análise em "upstream" da Wood Mackenzie para América Latina, Marcelo de Assis.
Ele citou as áreas de Peroba, Alto do Cabo Frio Oeste, Uirapuru e Saturno, todas licitadas em regime de partilha no pré-sal, além de Naru, em regime de concessão.
Em Peroba, as informações são de que o primeiro poço encontrou "uma mistura de gás com gás carbônico", o que faz com que o ativo não seja considerado muito atrativo, disse Assis, ainda mais dado o elevado excedente em óleo prometido ao governo no leilão (77%).
Em Alto de Cabo Frio Oeste os resultados apontam para "quantidade pequena de óleo", enquanto em Uirapuru há relatos de que o reservatório encontrado foi "menor que o esperado", e o lance pela área também foi agressivo, acrescentou Assis.
Em Saturno, os indícios são de que o primeiro poço perfurado foi "seco", ou seja, não encontrou petróleo, disse o analista da Wood Mackenzie, e em Naru os resultados apontam para reservas de gás, "o que não é um resultado animador", segundo ele.
A Petrobras lidera os consórcios responsáveis pela exploração de Uirapuru— junto a Petrogal, Equinor e Exxon — e Peroba, com CNODC e BP, além de Naru, em associação com Equinor e Exxon.
A Shell é a operadora em Alto de Cabo Frio Oeste, com CNOOC e QPI, e em Saturno, junto à Chevron.
Os desafios são maiores para os blocos do pré-sal em que os consórcios ofereceram parcelas superiores a 70% do chamado "excedente em óleo" ao governo para vencer a concorrência, apontou a gerente de análises em upstream da Wood Mackenzie, Juliana Miguez.
São os casos de Saturno, Uirapuru e Peroba, que poderiam ter dificuldades para viabilizar produção economicamente atrativa.
"Considerando esses lances agressivos que vimos desde 2017, só seria justificável o desenvolvimento do campo, de fato, se for uma descoberta gigantesca", destacou a executiva.
"A expectativa era muito alta em relação ao pré-sal e o que estamos vendo agora é que na verdade, apesar de todo esse sucesso na última década, ainda é uma área de fronteira, ainda tem muitas incertezas, muitos desafios."
Próximos leilões
Com o coronavírus, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) adiou para 2021 e 2022 os leilões previstos de novas áreas em regime de concessão, enquanto certames de pré-sal em regime de partilha ainda não tiveram nova data definida.
Esses certames do Brasil devem ocorrer em ambiente em que muitas petroleiras têm cortado investimentos em torno de 30% em meio à deterioração dos mercados de petróleo devido à pandemia.
"A expectativa é de que você já tenha orçamentos menores para áreas exploratórias, com menos gente para avaliar essas áreas. E, depois, esses resultados negativos (dos primeiros poços) também esfriam o interesse", disse Assis, da Wood Mackenzie.
Ele acrescentou ainda que as próximas áreas a serem ofertadas são estruturas menores ou próximas de regiões já vistas como complexas, o que também deve gerar desafios ao governo para atrair investidores e alcançar os resultados esperados com as licitações.
Renegociar
Para os analistas da Wood Mackenzie, a continuidade do atual cenário de poços sem grandes descobertas pode levar petroleiras a pressionarem pela revisão de termos das licitações, como o excedente em óleo prometido ao governo, de forma a permitir a exploração dos ativos ao invés de apenas devolvê-los.
A questão é delicada, porque a oferta do excedente era um critério de desempate nas disputas, mas o Brasil já permitiu antes a renegociação dos termos de conteúdo local, que também influenciavam nos leilões, apontaram.
"Não vai ser uma discussão fácil, ainda mais que teve outros participantes. Mas já teve uma discussão semelhante com conteúdo local e acabou se revisando", afirmou Assis.
Em paralelo, o governo do presidente Jair Bolsonaro tem discutido uma revisão de regras no setor de petróleo para fomentar o interesse pelos próximos leilões.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou em diversas ocasiões recentes que está em avaliação no governo a licitação de novas áreas no pré-sal em modelo de concessão, e não de partilha, uma mudança que foi defendida por empresas de petróleo e gás no ano passado.
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