Guedes faz críticas a "ministro fura-teto" em negociação do Orçamento
Por Gabriel Ponte
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou nesta sexta-feira a atuação de "ministro fura-teto" nas articulações em torno do Orçamento de 2021, indicando que isso teria sido determinante para o desequilíbrio das contas aprovadas pelo Congresso.
"Tem sempre um ministro mais ousado, né? Tem ministro fura-teto, tem de tudo aqui, né? Tem ministro que não desiste, volta toda hora e bate no mesmo lugar, bota em risco a viagem do grupo todo até", acusou Guedes, sem citar nomes, em evento virtual promovido pelo Bradesco BBI.
"Isso acontece, volta e meia, e é natural. 'Bota mais um pouquinho de dinheiro ali, bota um pouco mais aqui, bota um pouco mais ali'. Esquece de combinar com os outros, né? Quando vai combinar com os outros, a conta não fecha", completou Guedes.
Ele destacou, ainda, que é possível que as despesas com a Previdência este ano não sejam tão altas como o estimado inicialmente pelo governo na proposta orçamentária, mas que o problema é se ter uma "subestimativa irrealista" e sistemática das despesas obrigatórias.
O Orçamento foi aprovado pelo Congresso há duas semanas com uma redução de 26,5 bilhões na projeção das despesas obrigatórias do governo (dos quais 13,5 bilhões de reais em despesas previdenciárias) e uma elevação dos recursos direcionados a emendas parlamentares. O ministério do Desenvolvimento Regional, comandado por Rogério Marinho, foi um dos mais beneficiados pelo remanejamento.
Guedes disse que "certamente" pode ter havido erro da equipe econômica no processo, mas continuou com suas críticas: "Certamente tem erro quando um ministro pula a cerca e vai combinar um negócio que não está combinado com a Segov (Secretaria de Governo), que é quem está conduzindo o acordo político."
"Deve ter tido erro para todo lado. Quem errou menos, que foi o (Arthur) Lira (presidente da Câmara dos Deputados), está aborrecido com isso e falou: 'espera aí, vamos fazer o acordo valer, direito, tudo que foi combinado'."
"Quero crer que no caso do Orçamento, a coisa vai funcionar direito, nós vamos chegar lá", disse o ministro.
Em mais uma participação em videoconferências nesta semana, Guedes voltou a afirmar que é a primeira vez na qual o governo elabora em conjunto com o Congresso o Orçamento, e que a atual discussão gira em torno de como comportar os acordos políticos na proposta.
BEm
Na esteira do recrudescimento da pandemia da Covid-19 no país, o ministro voltou a garantir que o Benefício Emergencial (BEm), programa de manutenção de emprego e renda lançado no ano passado, será renovado. Ele também estendeu sua fala sobre a renovação de medidas emergenciais ao Pronampe, programa de crédito emergencial para micro e pequenas empresas lançado em meados do ano passado.
"Nós estamos na cauda da pandemia, ou seja (...) se tiver que gastar 0,5%, 1% do PIB com o BEm, com o Pronampe, com alguma coisa desse tipo, não é isso que vai derrubar o Brasil", afirmou, apesar de alertar que um novo "cheque em branco" de gastos "acaba" com o país.
Guedes também reiterou que haverá também antecipação do 13º de aposentados, tão logo o Orçamento seja sancionado.
CÂMBIO
Pelo segundo dia consecutivo, o ministro da Economia voltou a fazer considerações sobre o câmbio, dizendo acreditar que a taxa já tenha sofrido um "overshooting" --ou seja, se desvalorizado mais do que seria sugerido pelos fundamentos.
Na quinta-feira, Guedes afirmou que a taxa de câmbio de equilíbrio deve estar girando atualmente em torno de 4,50 reais e que houve um "overshooting" do câmbio, mas que sua expectativa é que a moeda brasileira valorize à medida que o país prossiga com as reformas estruturais e vacinação em massa.
Ao comentar a vacinação em massa da população, o ministro instou as empresas do setor privado a entrarem no processo de compras de imunizantes. Ele também garantiu que o governo está comprometido com a imunização da população.
"Estamos partindo para vacinação em massa. A melhor política fiscal que pode ter hoje para fazer é a vacinação em massa."
"Agora é uma questão de execução, de mergulhar todo mundo nisso. Acho que setor privado também pode ir, deve ir, vai se envolver nisso, tem capacidade de negociação, financeira, de ajudar o retorno seguro ao trabalho", completou.
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