CPI da Covid deve ter mais críticos do que aliados do governo
Por Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - As escolhas iniciais dos partidos de nomes para a CPI da Covid no Senado indicam que o governo não obteve o controle dos rumos do colegiado, com poucos aliados dentre os escolhidos para sua composição, e terá de lidar com críticas tanto da oposição, quanto de senadores com atuação mais independente.
Se confirmada a composição pouco favorável, com um núcleo de 4 aliados mais aguerridos, resta ao governo lutar pelos postos-chave de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI): a relatoria ou a presidência.
Segundo uma fonte do Congresso a par das negociações, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), deve ser o candidato governista à relatoria da CPI. Mas o cargo também pode ser postulado pelo MDB, maior bancada da Casa, e já foi ventilado o nome do senador Renan Calheiros (MDB-AL), um crítico do governo. O líder do partido, Eduardo Braga (MDB-AM), outro que não nutre simpatia pelo governo, também pode acabar com a relatoria, segundo uma segunda fonte do Senado. O MDB pode, também, abrir mão da relatoria para assumir a presidência.
Há ainda uma tradição, não prevista no regimento da Casa, mas muito utilizada, de conferir a relatoria ao autor do requerimento de criação da CPI, no caso, o líder da Oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Uma das fontes avalia que seja difícil o senador obter a relatoria, mas acredita que ele estará na composição de cargos importantes da comissão, seja na presidência ou até mesmo na vice-presidência do colegiado.
DANÇA DAS CADEIRAS
O governo se movimentou para incluir na composição da Covid no Senado nomes de aliados, mas não conseguiu impor uma maioria de peso no colegiado que pretende investigar a gestão federal da saúde frente à pandemia.
Dentre as 11 indicações de titulares disponíveis, apenas 4 devem ser ocupadas por senadores aliados mais aguerridos. As outras 7, por ora --a maioria dos partidos ainda não formalizou as indicações-- ficarão com parlamentares da oposição, críticos ao governo, independentes ou ainda integrantes da bancada do Amazonas, Estado duramente atingido por uma crise no início do ano que culminou com a falta de oxigênio nos hospitais para os doentes com Covid-19.
"No Senado, em assunto nenhum o governo tem unanimidade mais. Então é difícil mesmo. É um tema que não tem jeito, vai ser apurado", disse à Reuters o líder do PSDB, Izalci Lucas (PSDB-DF).
"Mas o governo não vai ter o controle, com certeza não, avaliou.
O líder considera, no entanto, que essa não será uma CPI de "oposição radical", justamente por contar com senadores "independentes".
Integram a tropa de defesa do governo, como aliados mais aguerridos, os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do PP e uma das principais lideranças do chamado centrão; Eduardo Girão (Podemos-CE), autor do pedido de CPI que acabou ampliando o escopo inicial da comissão; e Jorginho Mello (PL-SC), aliado vice-líder do governo no Congresso, além de Marcos Rogério, cotado para a relatoria.
Do lado da oposição, foram indicados nomes como o dos senadores Randolfe Rodrigues e Humberto Costa (PT-PE). O PSDB, que também declarou oposição ao governo, indicou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Braga e Renan Calheiros foram os escolhidos pelo MDB, de postura independente, mas ambos são vistos como críticos ao governo, assim como os indicados pelo PSD, que também se declara independente, Otto Alencar (PSD-BA) e Omar Aziz (PSD-AM).
Na terça-feira, o governo conseguiu uma vitória parcial ao diluir o foco da CPI da Covid ao anexar a seu objetivo principal a investigação de possíveis irregularidades de repasses federais a Estados e municípios.
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