IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Petrobras diz que busca competitividade com política de preços de combustíveis

A questão de reajustes, que levou a uma disparada dos preços, resultou na demissão de Roberto Castello Branco da Petrobras - Por Marta Nogueira e Gram Slattery e Sabrina Valle
A questão de reajustes, que levou a uma disparada dos preços, resultou na demissão de Roberto Castello Branco da Petrobras Imagem: Por Marta Nogueira e Gram Slattery e Sabrina Valle

Marta Nogueira, Gram Slattery, Sabrina Valle

14/05/2021 11h39

Por Marta Nogueira e Gram Slattery e Sabrina Valle

RIO DE JANEIRO (Reuters) -A nova gestão da Petrobras manteve a maneira de gerenciar ajustes de preços do combustíveis e busca praticar valores em níveis competitivos, evitando repassar volatilidade internacional ao mercado interno, disse nesta sexta-feira o diretor-executivo de Comercialização e Logística, Cláudio Mastella.

Ele ressaltou ainda ser "muito importante" que não haja data marcada para que os reajustes sejam realizados e que a companhia busca um meio termo na frequência de alterações de valores em relação aos últimos anos, sem detalhar.

"A gente tem praticado nos últimos anos diversas abordagens de frequência de precificação, desde baixíssima frequência, até altíssima frequência --diária inclusive. Hoje a gente está em um nível intermediário, o que nos parece adequado", afirmou Mastella, em conferência com analistas e investidores.

"Na prática, (isso significa) não repassar imediatamente oscilações do mercado externo ou do câmbio para o consumidor interno, e ao mesmo tempo manter os nossos preços em nível competitivo com os nossos competidores."

O executivo também ressaltou que a petroleira manteve a busca por um alinhamento com a paridade de importação na média anual, "o que não significa que a gente vai deixar de olhar no dia a dia a nossa defasagem de preços em relação a mercado".

Uma forte elevação dos preços dos combustíveis neste ano pela estatal, na esteira da alta do petróleo no mercado internacional, foi o que resultou na decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar Roberto Castello Branco por Joaquim Silva e Luna, que tomou posse em 19 abril na presidência da estatal.

Desde então, a companhia realizou apenas um reajuste de preços, em 30 de abril. Antes disso, neste ano, a Petrobras reajustou os valores duas vezes em janeiro, duas vezes em fevereiro, quatro vezes em março e outras duas vezes em abril.

"Não vejo necessidade hoje de uma alteração nessa frequência, é muito importante para a gente que não seja com data marcada..., mas é muito importante que ela mantenha um alinhamento suficiente para que nosso produto continue seguindo competitivo em um mercado cada vez mais competitivo."

O tema da política de preços tradicionalmente traz bastante polêmica nas discussões sobre Petrobras, uma vez que tem grande potencial para impactar nos resultados da empresa e também na inflação do país.

O presidente Luna não participou da conferência com analistas e apenas gravou um vídeo de cerca de sete minutos, onde apresentou um discurso de continuidade em relação ao que vinha sendo executado na companhia, em um aceno para o mercado financeiro.

Os executivos da Petrobras não responderam a questionamentos de jornalistas sobre falas recentes do presidente Jair Bolsonaro, incluindo declaração de que trabalharia juntamente com a Petrobras para reduzir o valor do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) na origem.

DESINVESTIMENTOS

Durante a conferência, o diretor-executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Rodrigo Araujo, ressaltou que o atual plano estratégico da companhia é sólido, com diretrizes consistentes, e que o time busca acelerar a sua execução.

"Nossa proposta é manter o foco em geração de valor e alocação eficiente de capital, esse é nosso grande direcionamento", afirmou.

"Anualmente, a gente tem nosso processo de revisão do plano estratégico, a gente não tem nenhuma perspectiva de mudança nos nossos pilares fundamentais, especialmente na questão de gestão de portfólio."

Araujo destacou que não houve alteração em ofertas de vendas de ativos e que as negociações de desinvestimentos ocorrem normalmente. Também está mantida meta de reduzir a dívida bruta da companhia para 67 bilhões de dólares em 2021 e 60 bilhões de dólares em 2022.

A Petrobras informou nesta sexta-feira que os desinvestimentos neste ano até 11 de maio somaram 2,5 bilhões de dólares, registrando ainda entrada de caixa das vendas de ativos de 472 milhões de dólares.

A principal venda fechada foi da refinaria Landulpho Alves (Rlam) e seus ativos logísticos associados, para a Mubadala Capital, por 1,65 bilhão de dólares.

EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO

A Petrobras também manteve inalterada meta de produção para 2021 e 2022, apesar do atraso da entrada em operação de plataforma no campo de Mero deste ano para o próximo devido à Covid-19, segundo o diretor-executivo de Desenvolvimento da Produção, João Henrique Rittershaussen.

Para este ano, está prevista ainda a entrada em operação de plataforma no campo de Sépia, no terceiro trimestre.

Sobre novos ativos, o diretor-executivo de Exploração e Produção, Fernando Borges, afirmou que a companhia manterá sua estratégia de buscar parcerias para explorar o pré-sal, quando questionado em coletiva de imprensa se formaria um consórcio para participar do leilão da cessão onerosa em dezembro.

"Nossa estratégia é atuar em parceria... Nunca podemos esquecer que exploração é um negócio de risco."

Do lado da exploração, Borges afirmou que a empresa espera receber no início de 2022 licença para iniciar perfuração na Bacia da Foz do Rio Amazonas, onde passou a deter 100% de participação em seis blocos de águas ultraprofundas - após desistência de outras petroleiras.

"A gente entende como uma fronteira muito interessante, haja visto os resultados na Guiana e no Suriname", disse ele.

"Estamos fazendo um trabalho robusto de estudo e impacto ambiental, temos capacidade de demonstrar mobilização no caso de algum vazamento, com toda a estrutura de monitoramento... o trabalho junto ao Ibama está evoluindo bem."

O executivo disse ainda que a campanha exploratória da companhia prevê pelo menos três poços no fim de 2022, na margem equatorial, nas bacias de Pará-Maranhão, Barreirinhas e Foz do Amazonas.

(Por Marta Nogueira, Gram Slattery, Sabrina Valle; edição de Roberto Samora e Luciano Costa)