BC indica novas altas nos juros para manter inflação dentro da meta
O Banco Central indicou que apertos seguidos e sem interrupção nos juros básicos são necessários para levar a taxa Selic para patamar acima do neutro, para que assim as projeções de inflação fiquem na meta, conforme ata do Copom (Comitê de Política Monetária) publicada hoje.
"Levando em conta o cenário básico e o balanço de riscos, o Comitê observou que, caso não haja mudança nos condicionantes de inflação, são necessárias elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até patamar acima do neutro para que se obtenha projeções em torno das metas de inflação no horizonte relevante", mostrou o documento, em referência aos anos de 2022 e 2023.
"Sendo assim, tornou-se apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar consistente com política monetária contracionista", acrescentou.
De acordo com indicações do próprio BC, a taxa neutra estaria por volta de 6,5%.
Na semana passada, o BC havia subido a dose do aperto monetário ao adotar uma alta de 1 ponto percentual na Selic, a 5,5% ao ano, já indicando outro aumento de igual magnitude na próxima reunião do colegiado, em setembro.
A decisão veio em meio à leitura de que houve piora recente em componentes inerciais da inflação com a reabertura do setor de serviços, mensagem que o BC repetiu nesta terça-feira, reiterando sua visão sobre a continuidade da pressão sobre bens industriais, e mencionando a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos.
Já no comunicado da semana passada, o BC tinha destacado que, pelas suas projeções, a inflação estava na meta para 2022 e 2023, com o IPCA calculado em 3,5% e 3,2%, respectivamente. Para este ano, em contrapartida, o BC elevou a estimativa de inflação a 6,5%, sobre 5,8% antes.
Na ata, o BC justificou que os riscos fiscais é que estão imprimindo um viés de alta nas suas contas.
"Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário, justificando assim uma trajetória para a política monetária mais contracionista do que a utilizada no cenário básico", disse.
O centro da meta de inflação é de 3,75% para 2021, de 3,5% para o ano que vem e de 3,25% para 2023, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
No Focus da semana passada, utilizado como base comparativa pelo BC, as perspectivas eram piores, com IPCA em 6,79% este ano, 3,81% em 2022 e 3,25% em 2023. No boletim mais recente, os números para 2021 e 2022 foram piorados a 6,88% e 3,84%, sendo mantida a projeção de 3,25% para 2023. Ao contrário do BC, portanto, o mercado já enxerga a inflação acima do centro da meta no ano que vem.
Segundo a ata, os membros do Copom debateram as explicações para essa diferença nas projeções, aventando três possibilidades diferentes.
"Primeiro, as expectativas podem incorporar diferentes hipóteses sobre os fatores determinantes da inflação, tais como os preços administrados e o crescimento econômico, além de conter diferentes percepções sobre cenários de risco ou alternativos", disse o BC.
"Segundo, a longa sequência de choques e revisões unidirecionais das expectativas pode gerar um aumento da percepção da inércia inflacionária. Finalmente, pode haver, entre os participantes de mercado, diferentes premissas sobre a função de reação da política monetária", completou.
Sobre a economia doméstica, o BC pontuou que deve haver retomada robusta no segundo semestre conforme os efeitos da vacinação contra a Covid-19 sejam sentidos de maneira mais ampla.
Também neste caso o BC discutiu por qual razão suas estimativas para a atividade eram mais modestas que as do mercado. Em seu último Relatório Trimestral de Inflação, do final de junho, o BC estimou alta de 4,6% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. No boletim Focus mais recente, a projeção é de um crescimento de 5,3%.
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