Aumento de preço pedido pela Petrobras atrasa venda de refinarias, dizem fontes
A Petrobras aumentou o preço pedido por pelo menos uma das refinarias no meio do processo de venda, frustrando alguns compradores e atrasando a prometida quebra de monopólio no refino, segundo quatro fontes com conhecimento do assunto.
Compradores se frustraram com o que descrevem como mudanças de última hora no processo de venda tocado pela Petrobras, segundo as fontes, que pediram anonimato para descrever as interações com a maior estatal brasileira.
A Petrobras, que controlava quase 100% do refino no Brasil, comprometeu-se a reduzir sua capacidade em 50%, vendendo oito de suas 13 refinarias, após um acordo em junho de 2019 com o órgão antitruste Cade para introduzir concorrência no preço dos combustíveis. Mas até agora a empresa vendeu apenas três, e uma diminuição nas pressões políticas para definir artificialmente os preços dos combustíveis parece remota.
Pedidos de preços mais altos e uma redução de interesse dos compradores, pressionados por investidores pedindo compromissos com metas de ESG, estão prejudicando a venda de duas grandes refinarias, Refap e Repar.
A Petrobras deve relançar o processo de venda da Refap e Repar, com capacidades produtivas para 201.280 barris por dia e 207.563 bpd, respectivamente, cerca de 17,8% do total do país, segundo a dados da reguladora ANP.
Em julho, o órgão de defesa da concorrência Cade estendeu o prazo para que a Petrobras venda suas oito refinarias para 31 de dezembro, mas a empresa já admitiu publicamente que o prazo não será cumprido.
Em 30 de novembro, o CFO Rodrigo Araujo disse que dificilmente a Petrobras venderá a Repar e Refap antes das eleições presidenciais de 2022.
Em resposta a Reuters, a Petrobras afirmou que "segue plenamente comprometida com a venda de oito refinarias... em alinhamento ao compromisso firmado com o Cade para vender 50% de sua capacidade de refino".
A empresa disse que tentará novamente vender três refinarias que tiveram seus processos cancelados: a Refap, Repar e Rnest.
A empresa prossegue com a venda da Lubnor, refinaria no Nordeste que produz asfalto e lubrificantes (com capacidade de 8 mil bpd), e Regap, localizada em Minas Gerais, com 150 mil bpd, ou 7,1% capacidade de refino, segundo dados da ANP.
Fim das negociações
O conglomerado Ultrapar Participações estava em negociações com a Petrobras desde janeiro para comprar a gaúcha Refap, que responde por 7,7% da capacidade de refino.
Mas em setembro a Petrobras decidiu exigir um preço mais alto, segundo duas fontes com conhecimento do assunto.
Representantes da Ultrapar, que acreditavam já ter acertado o valor e estar na fase de negociação de contrato, rejeitaram a exigência e deixaram a mesa de negociações.
A Petrobras anunciou o fracasso das negociações no dia 1 de outubro.
Desde o início das negociações, a Petrobras indicava que gostaria de um preço mais alto, mas prosseguia conversando. Petrobras e Ultrapar não comentaram o assunto.
Uma situação diferente aconteceu com a Repar, localizada no Paraná, que detém 10,1% da capacidade de refino brasileira. A Raízen, joint venture da Shell e Cosan, entregou uma oferta ligeiramente acima do preço mínimo inicial, mas a Petrobras pediu um preço maior.
A Raízen rejeitou o pedido para aumentar o preço e a Petrobras anunciou em fevereiro que não havia obtido propostas satisfatórias. A Raízen não quis comentar.
"Não houve qualquer mudança de regra durante o andamento dos processos de venda", afirmou a Petrobras em comunicado enviado à Reuters.
Mas uma quinta fonte com conhecimento dos processos disse que "várias variáveis são avaliadas para definir o valor e isso é atualizado dentro da metodologia". Desde o lançamento da venda das refinarias, o preço do barril de petróleo Brent subiu cerca de 10 dólares para 73 dólares nesta terça-feira.
A Rnest, no estado de Pernambuco, não teve interessados.
A negociação para a venda da Regap também parece estar paralisada. A Petrobras pediu ofertas não vinculantes, que foram entregues em novembro de 2019.
Ao menos um interessado, o fundo de private equity EIG Global Energy Partners, entregou proposta, mas nas negociações não prosseguiram, segundo uma sexta fonte. O EIG não comentou o assunto.
Lentidão
Até agora, a Petrobras vendeu três refinarias: Rlam, na Bahia, que detém capacidade de 330 mil bpd do país, para o Mubadala Investment Co por 1,8 bilhão de dólares.
Outras pequenas refinarias na região Norte também foram vendidas: a Reman (com 46 mil bpd) para o grupo brasileiro Atem, e a SIX (com 6 mil bpd) para a Forbes & Manhattan Resources.
Mas os ativos vendidos até agora são insuficientes para formar preços de combustível, afirmam as fontes.
Com a lentidão dos processos, a demanda pelas refinarias tende a diminuir, já que as empresas de energia estão sob pressão de investidores para reduzir a presença em combustíveis fósseis e cumprir metas ESG (sigla para responsabilidade social, ambiental e governança corporativa).
Após o fracasso da venda, a Petrobras anunciou que investirá na refinaria Rnest, de 115 mil bpd, para aumentar sua capacidade.
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