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Guerra na Ucrânia mostra "fim da globalização como a conhecemos", diz comissário da UE

21/04/2022 14h53

Por Jan Strupczewski

WASHINGTON (Reuters) - A guerra na Ucrânia mostrou as limitações da abordagem alemã de décadas de tentar mudar a Rússia por meio do comércio e significa o fim da globalização como a conhecemos, disse o comissário europeu de Economia, Paolo Gentiloni, nesta quinta-feira.

Falando no Instituto Peterson em Washington, Gentiloni disse que a invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro também reformulará alianças globais e pressionará ainda mais as cadeias de suprimentos globais, já frágeis após dois anos da pandemia.

"A noção de 'Wandel durch Handel', de trazer mudanças por meio do comércio, mostrou suas limitações", disse Gentiloni, referindo-se à política da Alemanha em relação aos países do Leste Europeu iniciada no início dos anos 1970.

"Precisamos repensar nossas relações com regimes autocráticos e fortalecer nossos laços com parceiros que pensam da mesma forma", acrescentou.

Durante décadas, a Alemanha manteve laços econômicos estreitos com Moscou, tornando-se fortemente dependente do gás, petróleo e carvão russos em uma política que agora torna difícil para a Europa parar de comprar energia russa e, portanto, parar de financiar indiretamente a invasão russa da Ucrânia.

"Esta crise também significará o fim da globalização como a conhecemos e vai rearranjar as alianças globais", disse Gentiloni.

"A guerra e suas consequências --incluindo as sucessivas rodadas de sanções que a UE e os EUA têm imposto à Rússia-- estão exacerbando as pressões sobre as já tensas cadeias de suprimentos globais", disse ele.

Gentiloni disse que a invasão também forçou os 27 países da União Europeia a aumentar drasticamente os gastos com defesa, além do já grande investimento planejado para combater as mudanças climáticas e adaptar a economia à era digital.

Esses gastos podem precisar ser refletidos nas regras fiscais da UE que estão agora em revisão, disse ele, e possivelmente em alguns novos empréstimos conjuntos, possivelmente modelados no fundo de recuperação pós-pandemia da UE de 800 bilhões de euros de dívida conjunta.

"Estamos falando em mobilizar centenas de bilhões de investimentos adicionais a cada ano. Embora a maioria desses investimentos precise vir do setor privado, financiá-los exigirá uma estrutura mais favorável de regras fiscais e potencialmente novas ferramentas em nível europeu", disse.

A Alemanha e vários outros países do norte da Europa se opõem fortemente a esse novo empréstimo conjunto.

Gentiloni disse que o custo da guerra da Ucrânia para a Europa dependerá de quanto tempo ela durar, mas que o apoio econômico e material à Ucrânia, a assistência aos refugiados, bem como o apoio contínuo à economia da UE para lidar com os altos preços da energia e interrupções na produção aumentará o déficit orçamentário agregado da UE em pelo menos 0,6% do PIB este ano.

(Reportagem de Jan Strupczewski)

((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447702)) REUTERS AC