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Varejo do Brasil cresce mais que o esperado em setembro, mas termina 3º tri com perdas

Pessoas com máscara de proteção caminham em rua de comércio popular em São Paulo - Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
Pessoas com máscara de proteção caminham em rua de comércio popular em São Paulo Imagem: Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

Camila Moreira

09/11/2022 09h02

As vendas no varejo do Brasil cresceram bem mais do que o esperado em setembro, marcando o ritmo mensal mais forte desde março, mas ainda assim encerraram o terceiro trimestre com perdas em meio à dificuldade do setor de deslanchar diante do aperto do crédito.

Dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que em setembro as vendas varejistas tiveram avanço de 1,1% em relação ao mês anterior.

A leitura ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters de ganho de 0,2%. O IBGE ainda revisou o dado de agosto para um ganho de 0,1%, contra queda de 0,1% informada antes.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, as vendas aumentaram 3,2%, contra expectativa de alta de 1,4%..

Com esses resultados, o setor varejista no Brasil está 3,6% abaixo do nível recorde de outubro de 2020, mas 2,8% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020.

Ainda assim, terminou o terceiro trimestre com recuo de 1,1% das vendas na comparação com os três meses anteriores, depois de altas nos primeiro e segundo trimestres, mostrando que ainda sofre em meio aos juros altos que encarecem o crédito e ao elevado endividamento das famílias.

A expectativa é de que a recuperação do mercado de trabalho e estímulos fiscais ajudem o setor, em meio a medidas adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) antes da derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial. No entanto, analistas ainda não veem o varejo deslanchar com força.

"O desempenho do comércio em setembro foi beneficiado em grande medida pelo efeito das políticas de recomposição e ampliação de renda, que, combinadas com um nível de inflação mais baixo e, consequentemente, uma renda disponível mais elevada, permitiu que os gastos no comércio sofressem elevação significativa. Apesar de já serem tratadas como definitivas, tais políticas não devem ser capazes de produzir o mesmo efeito ao longo dos próximos períodos", avaliou Matheus Pizzani, economista da CM Capital

Deflação

O comércio varejista foi favorecido em setembro principalmente pela queda nos preços dos combustíveis, enquanto o setor de supermercados, que perdeu fôlego nos últimos meses, mostrou recuperação.

Entre as oito atividades pesquisadas, seis apresentaram aumento nas vendas. Os principais impactos vieram de Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que tem o maior peso e apresentou aumento de 1,2% no mês; e Combustíveis e lubrificantes, com alta de 1,3%.

"Essa alta desses dois grupos tem a ver com movimento de deflação e também com queda de alimentos", explicou Cristiano Santos, gerente da pesquisa."Essas são atividades que representam quase 50% do peso total e exercem um efeito âncora."

O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, teve por sua vez alta de 1,5% nas vendas frente a agosto.

"Em termos setoriais, poucas atividades estão acima do patamar pré-pandemia. Contando com o varejo ampliado, das dez atividades, apenas quatro estão acima do patamar pré-pandemia: Artigos farmacêuticos, Combustíveis e lubrificantes, Hiper e supermercados e Material de construção", completou Santos.

O desempenho do varejo no país contrasta com o da produção industrial, que em setembro caiu 0,7% e encerrou o terceiro trimestre com perda de ritmo, em um segundo semestre marcado por dificuldades em meio a condições de crédito mais apertadas.