EXCLUSIVO-Desmatamento no Cerrado aumenta cerca de 25% em um ano, dizem fontes
Por Jake Spring
SÃO PAULO (Reuters) - O desmatamento no Cerrado brasileiro aumentou cerca de 25% nos 12 meses até o mês de julho em relação ao período anterior, disseram à Reuters duas pessoas familiarizadas com os dados do Inpe, que ainda não foram divulgados pelo governo.
O Brasil ainda não publicou seus números anuais oficiais para o desmatamento no Cerrado, que tem base em análises de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As fontes pediram anonimato porque os dados ainda não são públicos.
O Inpe não quis comentar. Uma terceira fonte, que não está autorizada a falar com a mídia, disse que os dados devem ser divulgados na quarta-feira.
Tal aumento significa que mais de 10 mil quilômetros quadrados de floresta e outras vegetações nativas foram destruídos em 12 meses no Cerrado, a maior quantidade desde 2015.
"Mais de 10.000 quilômetros quadrados é um número assustador para o Cerrado", disse Mercedes Bustamante, pesquisadora e professora da Universidade de Brasília.
Ela disse que os dados podem levar a União Europeia a reconsiderar sua lei recentemente aprovada que proíbe empresas de comprar produtos ligados ao desmatamento, o que não se aplica à maior parte do Cerrado.
Bustamante disse que as políticas do presidente Jair Bolsonaro para enfraquecer a proteção ambiental contribuíram para mais destruição no Cerrado, assim como na floresta amazônica. O Cerrado faz fronteira com a Amazônia, ocupando mais de 2 milhões de quilômetros quadrados na região central do Brasil -- uma área maior que o México.
O Palácio do Planalto não respondeu de imediato a pedido de comentário.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que toma posse em 1º de janeiro, prometeu acabar com o desmatamento no país até 2030, com planos de reverter as políticas de Bolsonaro e fortalecer a aplicação da lei ambiental.
Pesquisadores comparam o Cerrado a uma floresta de cabeça para baixo, porque suas plantas fincam raízes profundas no solo para sobreviver às intensas estações secas. A destruição desse habitat rico em espécies vegetais e animais também envia grandes quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera, impulsionando as mudanças climáticas.
Com o avanço da fronteira agrícola do Brasil desde a década de 1970, grande parte do Cerrado foi derrubada para criação de gado e cultivo de soja e milho, destruindo cerca de metade da vegetação nativa do Cerrado.
"O Cerrado possui uma riqueza de espécies ímpar, é a caixa d’água do Brasil e tem sido devastado em um ritmo assustador nas últimas décadas”, disse Mariana Napolitano, gerente de ciências do WWF-Brasil.
O Cerrado se tornou uma grande preocupação para os principais negociadores de grãos, que se comprometeram amplamente a eliminar o desmatamento de suas cadeias de abastecimento até 2025.
De acordo com o código florestal do Brasil, os proprietários de terras no Cerrado podem desmatar até 80% de suas terras legalmente, dependendo da localização, em comparação com 20% na Amazônia. Mas a maior parte do desmatamento continua ilegal, pois muitos agricultores ignoram o processo burocrático de obtenção de licenças para sua cota legal.
Assessores de Lula se reuniram com representantes do setor da soja para discutir um novo acordo para impedir o desmatamento no Cerrado, nos moldes de um acordo semelhante para a Amazônia.
"Aquele consumidor de produtos agropecuários, em especial a carne ou a soja, ele tem muita dificuldade de saber a origem do produto dele", disse Yuri Salmona, diretor do Instituto Cerrados.
As fontes abordaram os dados de desmatamento do bioma do Prodes, que produz dados anuais muito mais precisos do que os dados de alerta rápido publicados semanal e mensalmente. O programa mede o desmatamento na região de agosto a julho para minimizar o efeito das nuvens, que escondem a destruição.
Um funcionário do Inpe disse neste ano que o Brasil em breve deixaria de publicar os dados do Prodes Cerrado devido à falta de financiamento. Na quarta-feira, a agência de pesquisa espacial informou em comunicado que recebeu 15 milhões de reais de um fundo científico do governo para continuar monitorando o Cerrado por três anos.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília)
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