Produção industrial do Brasil cai mais que o esperado e segue patinando em fevereiro
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O setor industrial brasileiro seguiu patinando em fevereiro, com o terceiro mês seguido de perdas de produção e mais do que o esperado, em meio aos impactos da política monetária mais contracionista no país.
A produção registrou em fevereiro retração de 0,2% na comparação com o mês anterior, de acordo com os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Foi o pior resultado para o mês de fevereiro desde 2021 e nesses três meses a indústria acumula queda de 0,6%, numa sequência de perdas que não era vista também desde 2021, de acordo com o IBGE.
O setor ainda está 2,6% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 19% abaixo do nível recorde da série, alcançado em maio de 2011.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior, o setor apresentou queda de 2,4% na produção.
Os resultados foram piores do que as expectativas em pesquisa da Reuters de recuos de 0,1% na comparação mensal e de 1,9% na base anual.
A indústria brasileira já sente os impactos do aperto da política monetária, com a taxa básica Selic em 13,75%. Segundo analistas, o ano de 2023 deve ser marcado por contínua perda de fôlego do setor, em meio ainda a um cenário de fraqueza econômica global, que prejudica a demanda externa.
"Embora a produção industrial tenha mostrado alguma melhora no fim do ano passado, este início de 2023 apresenta perda na produção, permanecendo longe de recuperar as perdas do passado recente”, disse o gerente da pesquisa, André Macedo.
"Temos juros elevados, com efeitos sobre endividamento e crédito. A indústria automobilística acaba tendo dificuldade, assim como bens de maior valor, e ainda temos uma inflação elevada e muita gente fora do mercado", completou.
Em fevereiro, nove das 25 atividades pesquisadas apresentaram recuo na produção. As principais influências vieram das retrações de 1,1% de produtos alimentícios, 1,8% de produtos químicos e 4,5% de produtos farmoquímicos e farmacêuticos.
“Entre os alimentos, alguns dos destaques negativos vieram da menor produção de carnes de bovinos, aves e suínos, sucos e derivados da soja. A queda observada na produção de carne bovina teve a influência da suspensão das exportações para a China por conta do mal da vaca louca no final do mês de fevereiro”, explicou Macedo.
O destaque entre os resultados positivos, por outro lado, foi o aumento de 4,6% nas indústrias extrativas, seguido de alta de 3,6% no setor de bebidas.
Entre as categorias econômicas, a maior queda foi registrada por bens de consumo duráveis, de 1,4%. Já a fabricação de bens de consumo semi e não duráveis caiu 0,1% em fevereiro e interrompeu quatro meses consecutivos de crescimento.
Os setores de bens de capital e bens intermediários apresentaram respectivamente aumentos de 0,1% e 0,5% na produção.
"O resultado de hoje corrobora nossa visão de que a indústria é o setor que sente mais fortemente o impacto dos juros altos, que encarecem o crédito e inibem investimentos no setor. Além disso, a indústria é afetada pela queda do preço das commodities e desaceleração da economia global", afirmou em nota Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
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