Lula defende diálogo com oposição diante de minoria da esquerda no Congresso
Por Eduardo Simões e Lisandra Paraguassu
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou nesta sexta-feira a necessidade de melhorar a articulação com os parlamentares, citando a situação minoritária da esquerda na atual conjuntura do Congresso Nacional e a necessidade de o governo dialogar com a oposição para aprovar matérias de seu interesse.
Em cerimônia na Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo (SP), Lula disse que não basta ganhar a eleição, é preciso diálogo constante inclusive com aqueles que não gostam do governo e que não votaram nele.
"É importante vocês saberem a correlação de forças no Congresso Nacional. A esquerda toda tem no máximo 136 votos, isso se ninguém faltar. Mas nós, para aprovar uma coisa simples, precisamos de 257. Então de 136, façam a conta aí e vejam quanto falta. Para aprovar uma emenda constitucional é maior ainda o número de deputados que nós precisamos", disse Lula em seu discurso. Para aprovar uma PEC na Câmara são necessários 308 votos.
"É importante que vocês saibam que não é só ganhar uma eleição. Você ganha uma eleição e depois precisa passar o tempo inteiro conversando para ver se consegue aprovar alguma coisa", acrescentou.
A fala do presidente ocorre em meio a críticas sobre a articulação política do governo e depois de o Executivo sofrer para ver aprovada no Legislativo a medida provisória que reformulou a estrutura de governo.
EM PESSOA
De acordo com um dos auxiliares próximos do presidente, Lula deve dedicar a semana depois do feriado de Corpus Christi para azeitar a articulação política do governo. A intenção é ter encontros com líderes partidários e ouvir as principais queixas do Congresso, disse a fonte.
O presidente tem sido cobrado para entrar pessoalmente na conversa com a Câmara, já que as reclamações se acumulam e os ministros e líderes do governo não estariam sendo capazes de resolver.
Nesta semana, a MP da reestrutuação só foi aprovada nos últimos instantes de seu prazo de validade e após a entrada em campo de Lula.
Sob o risco de sofrer um revés em plenário, o presidente buscou pessoalmente alguns líderes, como Elmar Nascimento (BA), do União Brasil. O governo conseguiu um respiro e a aprovação da MP, mas foi avisado de que seria uma "última chance".
Na tramitação da medida, deputados e senadores alteraram o texto original do governo para retirar atribuições e competências do Ministério do Meio Ambiente e da pasta de Povos Indígenas e, ainda assim, como reconheceu Lula em seu discurso, houve o risco de a MP não ser votada e a estrutura montada pelo presidente perder a validade.
Se isso acontecesse, pastas como Fazenda, Planejamento, Gestão e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços seriam novamente agrupadas em um Ministério da Economia, e pastas recriadas como Cultura, Esportes e Igualdade Racial deixariam de existir.
A MP foi aprovada no plenário da Câmara dos Deputados na madrugada de quinta após idas e vindas e muitas negociações, e depois de o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), alertar que poderia não ser votada. A proposta foi chancelada pelo Senado no mesmo dia, apenas algumas horas antes de perder a vigência.
"Ontem a gente corria o risco de não ter aprovado o sistema de organização do governo que nós fizemos. E aí você não tem que procurar o amigo, você tem que conversar com quem não gosta da gente, tem que conversar com quem não votou na gente", disse Lula no discurso em São Bernardo, seu berço político e onde tornou-se nacionalmente conhecido como líder sindical no final da década de 1970.
ESTABILIZAR A ECONOMIA
Lula também aproveitou o discurso para criticar novamente o atual patamar da taxa básica de juros estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de 13,75% ao ano, e voltou a dizer que colocar recursos nas áreas de saúde e educação não pode ser encarado como gasto, mas sim como investimentos.
"Gasto é a gente pagar 13,75% de juro para o sistema financeiro deste país", disse. "Isso é gasto, o restante é investimento", afirmou.
No mesmo palco que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que era ministro da Educação à época da criação da UFABC, Lula também prometeu que o governo fará esforços para estabilizar a economia brasileira e gerar crescimento.
"Pode ter certeza disso, esse país vai voltar a crescer, a gente vai estabilizar a economia desse país, a gente vai fazer crescer a massa salarial desse país, a gente vai assentar as pessoas que tiver que assentar para produzir alimento nesse país, a gente vai fazer o que tiver que fazer para melhorar a educação", disse.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)
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