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André Esteves diz que BC não deveria adotar "doses homeopáticas" para cortes na Selic

28/06/2023 11h06

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do conselho de administração e sócio do BTG Pactual, André Esteves, afirmou nesta quarta-feira que está claro ou muito encaminhado que haverá uma queda da taxa Selic em agosto e avalia que o Banco Central poderia adotar um ritmo mais rápido do que apontam as expectativas no mercado.

"Como a taxa está muito alta, eu não acho que a gente deveria vir com doses homeopáticas... para começar o movimento com a taxa em 13,75% eu prefiro 0,5 (ponto percentual) que 0,25 (ponto)", disse o executivo no evento online BTG Talks realizado pelo banco.

"Obviamente é uma escolha do Banco Central, nós vamos ver as variáveis como elas vão estar até lá... está precificado 0,25 (ponto), acho difícil o juro ser menos do que isso, se o juro não cair em agosto", acrescentou, referindo-se à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) prevista para 2 de agosto.

Na véspera, a ata da última reunião do Copom, na semana passada, quando a Selic foi mantida em 13,75% ao ano, mostrou que a maioria dos membros do colegiado vê chance de iniciar um afrouxamento monetário "parcimonioso" em agosto, desde que um cenário de inflação mais benigno se consolide.

Esteves ponderou que o BC corretamente está dando sinais de comedimento nos cortes, para evitar que o mercado saia do controle, mas acrescentou que ainda faltam cinco semanas para a próxima decisão e que os números de inflação devem continuar vindo tranquilos e os de atividade, um pouco mais fracos.

Para o banqueiro, mesmo o ritmo dos cortes subsequentes pode eventualmente ser mais rápido se a atividade de fato desacelerar e se as economias centrais começarem uma trajetória de queda de juros. "Acho que tem espaço para essa nossa trajetória precificada (no mercado) ser ainda mais rápida."

Na pesquisa Focus divulgada na segunda-feira, antes da ata do Copom, a mediana das projeções apontava a Selic em 12,25% no final de 2023 e em 9,50% no término de 2024.

Esteves acrescentou que, mesmo com os cortes esperados na Selic, o diferencial de juros com os Estados Unidos permanecerá elevado, o que tende a beneficiar o real.

Mas ele avalia que o comportamento dólar/real tem mais a ver com o cenário envolvendo a moeda norte-americana, com o Federal Reserve terminando o ciclo de aperto monetário, provavelmente com mais uma alta e depois sinalização de constância, além de uma disciplina fiscal muito frouxa nos Estados Unidos.

De acordo com o executivo, o real já deu uma movimentada e a taxa já se afastou dos níveis de maior estresse, então pode ser que o ganho de capital seja limitado nos atuais patamares. "Mas ainda vejo valor intrínseco no real, e principalmente o diferencial da taxa de juros positivo para o real."

Nesta quarta-feira, o dólar era negociado em torno de 4,85 reais, após ter chegado a 5,4535 na máxima de fechamento do ano, em janeiro.

ARCABOUÇO FISCAL

O chairman do maior banco de investimentos da América Latina pontuou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se mostrado mais à esquerda do que se esperava, pelo menos nas palavras da sua principal liderança, e que houve certa "cacofonia" na economia, mas que a situação está se acomodando.

De acordo com o executivo, houve do final do ano passado ao começo de 2023 um período em que as políticas ainda não estavam muito claras, um ministro falava uma coisa, outro falava outra, o próprio presidente não necessariamente concordava com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o que teve efeito na volatilidade dos mercados.

Não bastassem os desafios externos, acrescentou Esteves, o país também começou o ano com um ambiente "um pouco complicado".

"Mas eu considero esse período um pouco natural de adaptação ou de readaptação do governo, e à medida que o tempo foi passando, as coisas estão se acomodando e trazendo uma direção econômica de responsabilidade", afirmou, citando como o sinal mais concreto disso o arcabouço fiscal.

Na semana passada, o plenário do Senado aprovou o projeto do novo marco fiscal, que, após ser alterado pelos senadores, terá de passar por uma nova análise da Câmara dos Deputados, o que deve ocorrer na primeira semana de julho.

Esteves ponderou que o arcabouço garante uma trajetória razoável da dívida. "Aquele potencial risco de cauda do Brasil passar por algum estresse econômico, uma direção, vamos dizer, mais negativa, tipo uma argentinização, ele vai morrendo com esse arcabouço."

"Em todos os principais indicadores econômicos o Brasil segue muito bem. O Brasil não apresenta uma complexidade econômica ou um desafio macroeconômico relevante daqueles que a gente viu em todas as décadas recentes passadas", afirmou.