Ibovespa descola de NY e recua com receio sobre plano para indústria

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira, renovando mínimas desde meados de dezembro, em movimento descolado de Wall Street, com a sessão marcada pelo anúncio de um plano industrial do governo com subsídios, crédito e exigência de conteúdo local.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,81%, a 126.601,55 pontos., menor patamar de fechamento desde 12 de dezembro. Na máxima do dia, chegou a 127.842,59 pontos. Na mínima, a 125.875,65 pontos.

O volume financeiro somou 18,5 bilhões de reais.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou nesta segunda-feira um plano de desenvolvimento para a indústria, que prevê subsídios, exigências de conteúdo local nos produtos e 300 bilhões de reais em linhas de crédito.

A chamada "Nova Indústria Brasil" coloca o Estado como agente indutor da atividade e tem características similares a políticas já adotadas anteriormente por governos do PT.

De acordo com o analista Alex Carvalho, da CM Capital, o anúncio adicionou um pouco de volatilidade e pessismo aos negócios, uma vez que evocou estratégias passadas adotadas por governos petistas que não necessariamente foram bem-sucedidas.

"Algo semelhante já foi testado (anteriormente) e não foi muito para frente", observou, acrescentando que o mercado descontou nesta sessão o receio "de o passado se repetir".

A queda na B3 ocorreu mesmo com o avanço nas bolsas norte-americana, onde o S&P 500 renovou máxima histórica, fechando em alta de 0,22%. O começo da semana também foi de recuo nos rendimentos dos Treasuries.

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A bolsa paulista vem sofrendo uma correção nas últimas semanas desencadeada por mudanças nas expectativas atreladas aos próximos passos de política monetária do Federal Reserve, que têm afetado principalmente mercados emergentes.

Após o otimismo do final de 2023, houve uma reprecificação das apostas sobre quando o banco central dos Estados Unidos começará a reduzir o juros naquele país, com dados esfriando as previsões de um corte já em março.

Após um último bimestre forte no ano passado, quando o Ibovespa acumulou uma alta de 18,6%, esses ajustes endossaram movimentos de realização de lucros no pregão brasileiro. Em 2024, Ibovespa já contabiliza uma perda de mais de 5%.

O Ibovespa ainda está "em processo de realização de lucros", afirmaram analistas do Itaú BBA no relatório de análise técnica Diário do Grafista, enviado a clientes nesta segunda-feira.

E parte disso é explicada pela saída de estrangeiros. Dados da B3 mostram o saldo de capital externo na bolsa negativo em 951,1 milhões de reais em janeiro até o dia 18.

DESTAQUES

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- ITAÚ UNIBANCO PN fechou em baixa 1,64%, a 32,40 reais, entre as maiores pressões negativas no Ibovespa, enquanto BRADESCO PN caiu 1,15%, a 15,46 reais.

- LOJAS RENNER ON perdeu 5,44%, a 15,81 reais, tendo de pano de fundo relatório do Citi revisando previsões e cortando a recomendação das ações para "neutra", uma vez que os analistas do banco veem 2024 como mais um ano desafiador.

- VALE ON caiu 0,44%, a 67,80 reais, em dia de desempenho misto dos futuros do minério de ferro na Ásia, conforme agentes financeiros continuam monitorando noticiário sobre planos do governo para colocar o ex-ministro Guido Mantega na mineradora.

- HAPVIDA ON recuou 5,72%, a 3,79 reais, com o papel ainda sensível a notíciário recente sobre bilhões de reais em ações judiciais envolvendo cobertura de tratamentos, erro médico, prazos de cobertura do plano de saúde, entre outros processos.

- TOTVS ON cedeu 4,13%, a 30,41 reais, com analistas do UBS BB reiterando recomendação "neutra" para as ações e reduzindo o preço-alvo de 36 para 35,50 reais.

- BRF ON avançou 4,92%, a 13,64 reais, no segundo dia de recuperação, após tocar na quinta-feia uma mínima intradia desde meados de novembro, o que fez com o que a queda acumulada no mês até aquele momento chegasse a quase 12%.

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- CIELO ON valorizou-se 3,13%, a 4,62 reais, em mais um dia de trégua após cinco baixas seguidas até a última quinta-feira, quando bateu uma mínima intradia desde meados de dezembro. O Goldman Sachs manteve a recomendação "neutra" para os papéis, mas elevou o preço-alvo de 3,80 para 4,50 reais.

- PETROBRAS PN encerrou com variação positiva de 0,45%, a 37,70 reais, conforme os preços do petróleo fecharam em alta no exterior. O CEO da empresa, Jean Paul Prates, afirmou à Reuters que a Petrobras planeja avançar este ano na transição energética com a aquisição de participações em ativos de energia renovável.

- AZUL PN subiu 1,07%, a 13,25 reais, com analistas reforçando seu otimismo em relação à empresa e questionando a queda recente do preço de suas ações. Na contramão, GOL PN recuou 3,13%, a 6,82 reais.

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