Taxas de juros longas voltam a cair ainda sob influência do Copom e com dados favoráveis nos EUA

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs de longo prazo fecharam a quarta-feira novamente em baixa, repercutindo a queda dos yields dos Treasuries após dados de inflação favoráveis nos EUA e ainda sob influência da ata do Copom, enquanto as taxas curtas sustentaram ganhos, com o mercado precificando chances maiores de a Selic parar de cair em junho.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,35%, ante 10,331% do ajuste anterior (alta de 2 pontos-base). Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,57%, ante 10,562% do ajuste anterior (alta de 1 ponto-base).

Entre os vértices mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,88%, ante 10,903%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,15%, ante 11,195%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,55%, ante 11,607%.

O movimento dos juros futuros nesta quarta-feira foi muito semelhante ao visto na véspera, quando foi publicada a ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

As taxas cederam na ponta longa ainda repercutindo o alívio dos investidores com as explicações trazidas na ata sobre a divisão entre os integrantes do Copom. Além disso, a queda dos prêmios acompanhou o recuo dos rendimentos dos Treasuries, após a divulgação de dados favoráveis de inflação nos EUA.

O Departamento do Trabalho informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em abril, depois de avançar 0,4% em março e fevereiro. Nos 12 meses até abril, o índice teve alta de 3,4%, ante 3,5% em março. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,4% no mês e de 3,4% no comparativo anual.

Os números reforçaram apostas de que o Federal Reserve terá espaço para efetuar dois cortes de sua taxa básica ainda em 2024, o que trouxe alívio para a curva de juros norte-americana, com reflexos no Brasil.

“Aqui houve uma acalmada grande no juro longo, que já caiu quase 30 pontos-base após a ata do Copom”, pontuou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior. “A mediana do CPI também caiu, o que é uma notícia boa. O mercado melhorou.”

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O efeito combinado da ata do Copom e do CPI favorável foi percebido entre os vértices mais longos, mas na ponta curta as taxas ainda sustentaram altas, em meio à leitura de que o Copom deve, de fato, parar de cortar a taxa básica Selic já em junho.

Perto do fechamento desta quarta-feira a precificação da curva a termo refletia 68% de chances de a Selic seguir em 10,50% em junho, contra 32% de probabilidade de corte de 25 pontos-base. Durante a tarde, estes percentuais chegaram a 72% e 28%, respectivamente. Na segunda-feira, antes da ata do Copom, a relação era de 47% para manutenção contra 53% para corte.

Para além da precificação, as instituições financeiras também seguem alterando suas projeções na esteira das últimas comunicações do Copom. Nesta quarta-feira, a equipe da Santander Asset Management Brasil alterou de 9,5% para 10,25% a estimativa para a Selic no fim de 2024, citando tom mais cauteloso do Copom.

“A ata reforçou essa leitura, com uma avaliação geral de conjuntura mais cautelosa, considerando o ambiente global mais adverso, a atividade doméstica com maior dinamismo e o cenário prospectivo mais desafiador para a inflação local, com um Copom particularmente atento ao comportamento das expectativas inflacionárias”, afirmou em nota a clientes o chefe de economia e estratégia da Santander Asset, Eduardo Jarra.

Pela manhã, em eventos diferentes, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Monetária da autarquia, Gabriel Galípolo, procuraram enfatizar o compromisso em atingir o centro da meta de inflação, de 3%.

“Cabe aos diretores (do BC) colocar a taxa de juros em um patamar restritivo suficiente e pelo tempo necessário para que a inflação convirja para a meta. Essa é a função do Copom e não há qualquer tipo de tergiversação sobre esse tema", disse Galípolo.

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No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em baixa firme, com investidores avaliando de forma favorável os dados do CPI.

Às 16h39, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 9 pontos-base, a 4,359%.

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