IPCA tem leve queda pela 1ª vez em um ano antes de reunião do BC
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - As quedas nos preços de energia elétrica e alimentação levaram o IPCA a ficar praticamente estável em agosto, registrando sinal negativo pela primeira vez em pouco mais de um ano e com a taxa em 12 meses mostrando algum alívio a uma semana da próxima reunião de política monetária do Banco Central.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve recuo de 0,02%, depois de subir 0,38% em julho, na primeira taxa negativa desde junho de 2023 (-0,08%).
O resultado divulgado nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,01%.
Os dados apontaram ainda que o IPCA passou a acumular nos 12 meses até agosto alta de 4,24%, de 4,50% em julho e expectativa de 4,29%. Assim a leitura se distancia um pouco do teto da meta para a inflação, de 4,5% medida pelo IPCA.
Os dados do IPCA ajudarão a moldar o cenário para a decisão do BC na quarta-feira sobre a taxa de juros Selic, atualmente em 10,5%. As perspectivas inflacionárias entraram ainda mais no foco diante de uma economia que vem apresentando forte desempenho e do emprego em alta.
Também entram no foco a desvalorização do real, que pressiona as matérias-primas e os combustíveis, e as queimadas que vêm assolando o país, já que tendem a encarecer os preços dos alimentos.
Segundo a pesquisa Focus do BC junto ao mercado, a expectativa é de aumentos de 0,25 ponto percentual na Selic em cada uma das últimas três reuniões neste ano.
Nesta manhã, a curva de juros no Brasil precificava praticamente 100% de probabilidade de alta de 0,25 ponto percentual na Selic na semana que vem. O relatório Focus do Banco Central, que compila projeções de economistas, também já passou a apontar na segunda-feira expectativa de alta de 0,25 ponto este mês.
No entanto, alguns analistas divergiam sobre a possibilidade de alta após o dado do IPCA.
"Números muito bons, não sei se vai dar tempo para consolidar a visão de manutenção da Selic na próxima reunião, mas vai ser bem estranho o Copom subir juros com essa melhora no IPCA", disse Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
Já Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, vê alta de 0,25 ponto na próxima semana. "Diante de uma atividade econômica mais forte do que esperado, de uma inflação que, apesar do dado benigno em agosto, deve terminar o ano próximo da banda superior da meta, de expectativas de inflação desancoradas e uma taxa de câmbio acima de 5,50 reais, o BC deverá iniciar um ciclo de ajuste gradual da taxa de juros na próxima reunião", disse ele.
QUEDAS
Em agosto, o resultado do IPCA foi influenciado pelas quedas de 0,51% em Habitação e de 0,44% em Alimentação e bebidas --somados, os dois grupos responderam por 36,53% do índice. No primeiro grupo, o recuo de 2,77% nos preços da energia elétrica residencial foi o principal fator.
"A principal influência veio de energia elétrica residencial, com o retorno à bandeira tarifária verde em agosto, onde não há cobrança adicional nas contas de luz, após a mudança para a bandeira amarela em julho", disse o gerente da pesquisa, André Almeida.
No entanto esse cenário deve mudar em setembro, já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adotou a bandeira vermelha 1 para o mês, com uma cobrança de 4,463 reais a cada 100 quilowatts-hora (kWh).
No grupo de Alimentação e bebidas, a alimentação no domicílio teve queda de 0,73% e marcou o segundo recuo consecutivo, após queda de 1,51% em julho. Foram registrados preços menores de batata inglesa (-19,04%), tomate (-16,89%) e cebola (-16,85%).
"O principal fator que contribuiu para a queda nos preços foi uma maior oferta desses produtos no mercado por conta de um clima mais ameno no meio do ano, que favorece a produção desses alimentos, com maior ritmo de colheita e intensificação de safra", disse Almeida.
Já o grupo Transportes teve estabilidade dos preços em agosto, e entre as altas destacaram-se os avanços de 0,73% nos custos de Educação e de 0,74% em Artigos de residência.
Por sua vez, a inflação de serviços passou a subir 0,24% em agosto, de 0,75% no mês anterior, acumulando em 12 meses alta de 5,18%, para a inflação como um todo, acima do teto da meta.
"(O BC) ficará preocupado com outro aumento na inflação de serviços. Isso provavelmente fecha um aumento de juros...na próxima semana" destacou Jason Tuvey, vice-economista-chefe de Mercados Emergentes da Capital Economics, calculando avanço de 5,2% dos serviços subjacentes em agosto na base anual, de 5,0% em julho.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, saltou a 56% em agosto, de 47% no mês anterior.
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