BC eleva Selic em 1 ponto a 13,25% e confirma indicação de mais uma alta equivalente à frente

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira seguir o ritmo de aperto nos juros já previsto ao elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria, e manteve a orientação de mais uma alta equivalente em março, deixando os passos seguintes em aberto.

Em comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que, para além da reunião de março, a magnitude do ciclo de aperto monetário será ditada "pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta" e dependerá de fatores como a evolução dos preços, projeções, expectativas de mercado, nível de ocupação da economia e do balanço de riscos para a inflação.

"Essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante", disse.

O novo patamar dos juros básicos é o mais alto desde setembro de 2023, quando também estava em 13,25% em meio a um ciclo de cortes na Selic.

A decisão de não dar indicações futuras adicionais ao que já estava colocado pelo BC ocorreu na primeira reunião do Copom com Gabriel Galípolo na presidência da autarquia. Neste mês, o colegiado também passou a ser composto majoritariamente por diretores indicados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, com sete dos nove membros.

Para o Copom, os indicadores de atividade e do mercado de trabalho têm apresentado dinamismo e a inflação, cheia e subjacente, se manteve acima da meta da inflação -- e novamente apresentou elevação nas últimas divulgações.

"O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista", afirmou.

Na avaliação do economista-chefe da XP, Caio Megale, o comunicado tem tom duro, o que é positivo para ancorar expectativas. Para ele, no entanto, o BC dá um sinal ao deixar em aberto o cenário para as reuniões a partir de maio.

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"Ao manter as portas abertas em maio, ele deixa espaço para desacelerar (o ritmo de cortes nos juros) caso a economia continue desacelerando", disse, ao acrescentar que a XP projeta uma alta de 0,75 ponto em maio e de 0,50 em junho.

RISCOS

No documento, o Copom ainda fez alterações em seu balanço de riscos para a inflação, apesar de manter a visão de que há uma assimetria altista.

Nesse parágrafo do documento, foi removido o trecho que afirmava em dezembro que o cenário se mostrava “menos incerto e mais adverso”, ponto que foi usado pela diretoria do BC para sustentar a indicação dada naquele momento para os juros à frente.

Nas possibilidades de alta nos preços, o BC manteve o ponto que cita um impacto inflacionário por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada, mas agora menciona nesse tópico um risco “maior que o esperado”.

Nos riscos de baixa, o Copom passou a apontar impactos de uma desaceleração econômica doméstica --e não mais global-- mais forte que a projetada. Além disso, retirou o tópico sobre impacto do aperto monetário no mundo, colocando em seu lugar a chance de um cenário menos inflacionário para países emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.

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Mais cedo nesta quarta-feira, o banco central dos Estados Unidos manteve a taxa básica de juros na faixa de 4,25% a 4,50% e deu poucas informações sobre quando novas reduções nos custos de empréstimos poderão ocorrer, um cenário que pode ampliar desafios para países emergentes.

Em seu comunicado, o BC afirmou que o ambiente externo permanece desafiador e segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Para o Copom, esse ambiente tem origem, principalmente, na conjuntura e na política econômica nos Estados Unidos, o que suscita mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Federal Reserve.

FISCAL

No documento, o BC disse que a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida pública do Brasil segue impactando "de forma relevante" os preços de ativos e as expectativas dos agentes.

O governo apresentou em novembro medidas de contenção de despesas que não foram bem recebidas pelo mercado sob avaliação de que não serão suficientes para estabilizar o endividamento público. O pacote foi aprovado parcialmente pelo Congresso.

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O Copom retomou o ciclo de alta nos juros básicos em setembro do ano passado, quando elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, seguido de uma alta de 0,50 ponto em novembro, até promover uma elevação de 1 ponto em dezembro e já prever mais duas altas equivalente em janeiro e março.

A decisão desta quarta veio em linha com a expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual todos os 38 economistas entrevistados projetavam que o BC elevaria a Selic em 1 ponto.

Desde a última reunião do Copom, as expectativas de mercado para os preços à frente seguiram desancoradas, fator tratado enfaticamente com preocupação pela autarquia, com a previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus passando de 4,59% no início de dezembro para 5,50% nesta semana.

O próprio BC piorou nesta quarta suas projeções de inflação em relação a dezembro, com estimativas passando de 4,5% para 5,2% em 2025, considerando o cenário de referência, que segue as projeções de mercado para a trajetória dos juros. Para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante da política monetária, a projeção ficou em 4,0%.

Para as projeções do cenário de referência divulgadas nesta quarta, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de 6,00 reais, acima dos 5,95 reais usados na reunião de dezembro.

Para o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, o documento traz poucas surpresas, mas é relevante no ponto em que o BC projeta uma inflação de 4% em seu horizonte relevante.

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"De acordo com o modelo do BC, a taxa Selic a 15% parece não ser suficiente para trazer a inflação à meta no horizonte relevante. Isso deixa implícita a possibilidade de altas de juros nas reuniões subsequentes que levem a Selic a um nível acima desse patamar", disse.

O centro da meta contínua para a inflação neste e nos próximos anos é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

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