Sob comando brasileiro, banco do Brics poderá financiar recuperação da pandemia
O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), mais conhecido como o banco do Brics, poderá ajudar o Brasil a se recuperar do tombo econômico causado pela pandemia de coronavírus. Agora sob a presidência de um brasileiro, o ex-secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Economia Marcos Troyjo, a instituição já acertou uma ajuda de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões) para o país, que financiará programas sociais como a ajuda emergencial para a população mais vulnerável.
No entanto, para além do auge da pandemia, o banco poderá abrir novas frentes de crédito para infraestruturas nos países do bloco de emergentes, que funcionam como motores da retomada da crise.
"Se pensamos mais em longo prazo, existe um potencial gigantesco para a reconstrução da economia, não só do Brasil, no pós-pandemia. Esse é um ponto que o NDB e os multilaterais precisam olhar com bastante atenção, além dos governos", explica Karin Vazquez, professora associada da Jindal Global University, de Nova Délhi (Índia), e pesquisadora do Centro de Estudos dos Brics da Universidade de Fudan, na China.
O professor de Relações Internacionais Fábio Borges fundador do Observatório do Brics da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), concorda que o Brasil ganha com a presidência rotativa do banco nas mãos de um brasileiro: ele frisa que não apenas o governo federal poderá bater nessa porta, como os estados e municípios. Nestes cinco anos de criação do Banco do Brics, do qual fazem parte ainda a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, a instituição soube construir credibilidade junto aos seus pares, como Banco Mundial e FMI (Fundo Monetário Internacional), mas também no mercado.
"As agências de risco avaliam muito bem os cinco primeiros anos do banco do Brics, que ganhou duplo A e, em algumas, até triplo A", frisa. "Ou seja, os projetos são sustentáveis, técnicos, com baixo risco, o que tem criado uma reputação internacional como qualquer banco."
Ampliar o capital do banco
A confiança no banco era uma etapa crucial para o NDB poder ampliar seu capital, um dos principais objetivos da gestão de Marcos Troyjo à frente da instituição, em especial junto a agentes privados. De perfil liberal e ex-pesquisador da Universidade de Columbia sobre as potências emergentes, o novo presidente tem as credenciais para assumir essa frente, na avaliação de Fábio Borges.
"Diferentemente de outras áreas, em que estamos até sem ministro, ou com indicações ideológicas, como na Educação, neste ponto específico se escolheu um personagem que tem uma trajetória e coincidências com os objetivos do banco", sublinha. "É uma mensagem positiva, porém, diante de um contexto maior, não será suficiente para mudar a imagem brasileira, que neste momento, por conta do coronavírus e outras questões, vem sendo muito deteriorada", pondera o pesquisador.
Cerca de dois terços dos projetos financiados pelo NDB são inovadores do ponto de vista da sustentabilidade, como investimentos em energias renováveis e logística limpa. O pesquisador da Unila nota que essa prioridade pode contribuir para o Brasil reforçar o foco nestes temas.
"É interessante porque gera pressões. O Brasil preside um banco internacional que tem como lema a sustentabilidade, a inovação, que preza temas sensíveis como mudanças climáticas, energias renováveis. Fica muito contraditório o Brasil não se preocupar tanto com essas questões e aumenta a pressão para o Brasil dar respostas positivas a essas temáticas ambientais", avalia Borges.
Instituição é ferramenta geopolítica, mesmo se Brics estão enfraquecidos
Num contexto de grave crise mundial pela pandemia, acentuada pelas disputas comerciais e diplomáticas entre Estados Unidos e China, o banco do Brics é uma ferramenta geopolítica importante, em especial para os russos e chineses. A instituição atua como um contraponto também aos nacionalismos em alta em diversos países — que já levaram Brasília a se indispor com o seu maior parceiro comercial, Pequim.
A mudança no cenário internacional se reflete na relevância do Brics, em relação ao momento da criação do grupo, em 2009.
"No Brasil, temos um governo com um direcionamento visivelmente diferente tanto em relação à nossa relação bilateral com a China, quanto na visão para o Brics, do engajamento multilateral com a China e os outros três sócios. Essa ênfase mais tênue em relação aos Brics já vem dos governos anteriores, de Dilma e Temer", destaca Karin. "A gente nota que o Brics, à medida que entra nessa sua segunda década, tem uma articulação muito maior entre os países de forma bilateral do que em grupo."
O próximo encontro dos ministros das Relações Exteriores dos países do Brics está marcado para setembro, na Rússia, se a pandemia de coronavírus permitir. Em julho, foi aprovada a criação de um escritório regional do NDB em São Paulo — a sede da instituição fica em Xangai, na China.
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