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Reino Unido estuda tabelar preços para conter inflação

Rishi Sunak, primeiro-ministro da Grã-Bretanha - 18.jan.2023 - Carlos Jasso/AFP
Rishi Sunak, primeiro-ministro da Grã-Bretanha Imagem: 18.jan.2023 - Carlos Jasso/AFP

Correspondente da RFI em Londres

02/06/2023 09h08

A insistente alta dos preços dos alimentos, que se mantém na casa de dois dígitos há meses, levou o Reino Unido a colocar sobre a mesa uma ideia que até bem pouco tempo seria inconcebível em um país europeu: o tabelamento de alguns itens de primeira necessidade. A possibilidade foi recebida com críticas. Desagrada produtores e atacadistas, oposição e até mesmo uma ala do partido conservador do primeiro-ministro Rishi Sunak. A meta de inflação no país, que era de 2%, foi temporariamente suspensa.

O governo admite estar em conversas com os setores responsáveis para que eles o façam de maneira voluntária, mas nega a intenção de impor limites de preços. Os alimentos já são o principal fator de pressão sobre os índices de inflação. Mais do que os combustíveis.

O que se discute é a criação de um teto para produtos-chave de maneira voluntária. Mas já há quem defenda que, se isso não funcionar, o governo deve ser mais enérgico e estabelecer ele os limites máximos. A proposta foi ventilada pelo periódico britânico The Sunday Telegraph e foi parar nas primeiras páginas dos principais jornais do país.

Alguns economistas defendem que um aumento nos subsídios concedidos à população mais pobre pode ser uma saída mais eficiente para atacar o problema do impacto do custo de vida das famílias até que as leis de oferta e demanda se encarreguem de baixar os preços.

Opiniões se dividem

A discussão divide os conservadores, tradicionalmente fervorosos defensores do liberalismo e da mínima interferência às leis de mercado. Para os supermercados, por trás da inflação de alimentos está a disparada dos preços de energia, transporte e os custos de mão-de-obra, o que significa que estabelecer limites para o que se cobra do consumidor, voluntariamente, ou não, é medida que não resolverá o problema. Eles dizem que isso pode até mesmo causar desabastecimento.

O chamado núcleo da inflação, que não inclui a volatilidade dos preços de alimentos e energia, medida usada pelos economistas para avaliar as tendências para o futuro bateu os 6,8% ao ano em abril, o mais alto patamar desde 1992. Depois de chegar a 11,1% ao ano em outubro de 2022, o índice geral de preços ao consumidor caiu para 8,7% em abril deste ano. O indicador para alimentos e bebidas não-alcoólicas manteve-se em 19,1% ao ano no mesmo período. É a segunda maior alta em nada menos que 45 anos.

Em restaurantes e bares, os índices de refletem em uma alta de quase 10% da conta dos clientes, o que reduz o movimento e espreme ainda mais as margens de lucro do setor, um dos mais atingidos pela pandemia, que ainda tenta se reerguer.

A pressão inflacionária é uma das principais preocupações da população, que vem perdendo o poder de compra nos últimos anos e está por trás de movimentos de greve em diversos segmentos da sociedade, como não se viam desde a década de 1970. Esta semana, nova paralisação de trens interrompeu os serviços por todo o país. Os funcionários prometem novas greves, assim como médicos e enfermeiros.

A questão inflacionária é um dos maiores problemas da equipe econômica de Sunak. É pior do que a dos Estados Unidos e do que toda a zona do euro. Esta é uma avaliação do próprio Banco da Inglaterra, o Banco Central britânico, que vem mantendo as taxas de juros do país no nível mais alto dos últimos 40 anos.

Para Catherine Mann, executiva da instituição, as pressões inflacionárias ainda não cederam. A economia do país ainda não conseguiu deslanchar como queriam os conservadores, que devem enfrentar uma eleição geral no ano que vem. Se fosse hoje, o partido da situação teria derrota expressiva nas urnas.

A última vez que o governo britânico tentou tabelar preços na economia foi nos anos 1970, durante o governo do primeiro-ministro trabalhista Edward Heath.