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Aposta em corte da Selic ganha corpo e juros futuros fecham em queda

27/09/2016 19h10

Os juros futuros fecharam a terça-feira em queda firme, consolidando a aposta em uma queda da taxa Selic já a partir de outubro. A redução de 0,25 ponto parece como mais provável, mas parte do mercado não descarta um corte maior, de 0,5 ponto. No fechamento, o DI janeiro/2018 caía de 12,22% para 12,15%; e o DI janeiro/2019 recuava a 11,64% para 11,56%. E o DI janeiro/2021 tinha taxa de 11,58%, ante 11,62% ontem.

O Relatório Trimestral de Inflação, divulgado hoje pelo Banco Central, foi entendido como a peça final de uma história que começou a se formar na semana passada a favor do corte de juros em outubro. O IPCA-15 de setembro, que subiu 0,23%, abaixo das expectativas, detonou um forte movimento de queda das taxas, com investidores enxergando no expressivo alívio dos preços dos alimentos um argumento a favor de uma redução da Selic.

Depois, declarações do presidente do BC, Ilan Goldfajn, lembrando ao mercado de que o horizonte relevante da política monetária não é estático - e que passa a incluir também a inflação de 2018 como foco - corroboraram a leitura de o banco estar preparando o início do ciclo. Primeiramente, porque essa teria sido uma oportunidade de o BC corrigir o mercado, se tivesse visto exageros na queda dos DIs e nas projeções dos analistas. Ao contrário, ele lembrou que a decisão de outubro teria impacto também sobre a inflação de 2018, período para o qual as projeções já estavam abaixo da meta.

Por fim, o relatório fortaleceu esse cenário de queda da Selic ao mostrar projeções ainda mais otimistas do que as esperadas pelo mercado: no cenário de referência, a estimativa para o IPCA em 2017 está em 4,4%, abaixo, portanto, da meta de 4,5%. Para 2018, a perspectiva é de 3,8%. Já no cenário do mercado, a projeção para 2017 está em 4,9% e, para 2018, em 4,6%.

Para o chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, após o relatório, "não tem espaço para o Banco Central não cortar os juros em outubro". "Quando o Banco Central mostra um cenário de referência chegando em 3,80% em 2018, não tem como manter a Selic estável", afirma Beker. O economista espera um corte de 0,5 ponto da Selic em outubro, o primeiro de um ciclo que deve levar a taxa a 11,25% no ano que vem.

Esse já era o cenário traçado por ele desde junho, quando a nova diretoria do BC assumiu o posto. E a evolução das projeções apresentadas pelo documento confirma que o BC abriu as portas para concretizar essa expectativa. "Muita coisa mudou desde então e o BC foi bem-sucedido em fazer reancoragem das expectativas", afirma. "Até a última reunião, as portas para um corte estavam trancadas; na ata, o BC tirou os cadeados; e, agora, no relatório, ele abriu a porta para a queda dos juros."

O economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, que esperava que o ciclo de alívio monetário fosse iniciado em novembro, alterou seu cenário e, desde a fala de Ilan, passou a considerar um corte já em outubro. "Depois de ler o relatório, estou mais propenso a acreditar em um corte de 0,5 ponto, e não apenas de 0,25 ponto", afirma.

Weeks observa que, ao tratar da evolução das três condições estabelecidas para corte de juros, o BC dá elementos mais positivos. Além de reconhecer uma desinflação importante nos preços dos alimentos, ele explica, num box do relatório, que a inflação de serviços é influencida por fatores pontuais, como preços de turismo (pressionados pela Olimpíada), de Educação e de comunicação, que devem perder força daqui para frente. "Na visão do BC, a inflação subjacente de serviços está com uma cara melhor e, por isso, caminha para autorizar também um corte de juros", afirma.

Por fim, no cenário fiscal, o BC identifica "sinais positivos" sobre o encaminhamento e apreciação das reformas fiscais, embora ainda considere que haja incertezas. "Houve uma melhora substantiva nesse cenário fiscal" , diz Weeks.

O Bradesco também espera um corte de 0,5 ponto em outubro. Em relatório distribuído na manhã desta terça-feira, os economistas da instituição afirmam que a melhora das expectativas de inflação para 2017 e a queda das projeções nos diversos cenários elaborados pelo BC e a melhora da composição da inflação de curto prazo são elementos suficientes para que o BC inicie o ciclo de queda de juros na próxima reunião, em outubro. "Entendemos, adicionalmente, que à medida em que a incerteza sobre o ajuste fiscal diminuir, o ciclo de queda de juros poderá ser mais intenso do que o previsto pelo mercado", diz o relatório. O cenário do Bradesco prevê uma Selic de 13,25% ao final de 2016 e de 10,25% ao final de 2017.