Emílio Odebrecht: Lula pediu ajuda de R$ 3 milhões à "Carta Capital"
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria solicitado a Emílio Odebrecht uma "ajuda" de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões à revista "Carta Capital". A informação consta em depoimento feito pelo empresário ao Ministério Público.
"Isso foi em 2011 ou 2012, quando o presidente Lula falou comigo: olha, tem um conjunto de empresas que vão ajudar a 'Carta Capital', se você achar que interessa a vocês e que deve ser feito...", diz Emílio. Segundo o depoimento, ele explicou a Lula que já tinha feito no passado e que acreditava que ainda havia um crédito com a revista. "Se o senhor me der a liberdade de eu não ter necessidade de me comprometer, deixa eu analisar."
Segundo Emílio, quem estava coordenando a operação era André Esteves, do BTG Pactual, e o empresário sugeriu que o banqueiro procurasse Marcelo Odebrecht. O pagamento aconteceria na forma de antecipação por espaços publicitários. Emílio explica que era comum fazer contribuições à grupos midiáticos, cita o "Estado de S. Paulo", a "Gazeta Mercantil" e o "Jornal do Brasil", mas diz que a diferença é que em todos os casos a negociação era entre as empresas e que foi a primeira vez que o Lula teria feito um pedido como esse.
"Em nossas ajudas à imprensa eu sempre colocava - você tem que me defender. Não quero que esteja tolido de dar as informações, mas não explore as informações", explica o executivo ao ser questionado pelos procuradores se havia uma contrapartida no lado dos veículos. "Essa sempre foi uma conversa que eu tive com todos. Porque as ajudas sempre existiram. O único que não lembro se houve direto foi a 'Globo'", completa. Ele conta que a ajuda poderia ser feita, por exemplo, com a publicação do balanço em mais de um jornal.
De acordo com um bilhete enviado por Marcelo para o pai, objeto da discussão desse depoimento, Emílio deduz que duas outras empresas que estariam fazendo os pagamentos seriam Andrade Gutierrez e OAS.
A primeira vez que a empresa "ajudou" a revista foi na década de 90 e a segunda em meados dos anos 2000. Essa seria a terceira vez, mas o empresário não sabe se o pagamento foi ou não feito.
Crédito do BNDES para Angola
Em outra parte do depoimento à Justiça, Emílio contou que Marcelo pediu que ele conversasse com Lula para que o governo estendesse a linha de crédito concedida ao governo de Angola, país em que a construtora tinha muitos negócios, concedida pelo BNDES.
Segundo Emílio, na época, houve uma queda do preço do petróleo muito grande e Angola estava com restrições orçamentárias e era importante que houvesse uma ampliação na linha de crédito do BNDES, que o Brasil tinha com Angola. "Pedi ao Lula que ele pudesse prestigiar para que não houvesse dificuldade na extensão da linha de crédito", afirma Emílio.
As negociações aconteceram durante 2008 e 2009 e o pagamento foi liberado em 2010, no valor de US$ 1 bilhão, abaixo do montante de US$ 1,2 bilhão pleiteado pela construtora. O empréstimo foi pago pelo governo de Angola e tinha como garantia a produção de petróleo.
Em depoimento de colaboração premiada, Marcelo Odebrecht contou que foi procurado por Paulo Bernardo, na época ministro do Planejamento, a pedido de Lula, para negociar a extensão da linha de crédito e o ministro teria solicitado o pagamento de 40 milhões (ele não especificou a moeda). Por conta disso, Marcelo procurou Antonio Palocci e acertou o pagamento de US$ 36 milhões, equivalente a R$ 64 milhões na época.
Emílio ainda conta que, em outra situação, no início do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff foi pedido a presidente para que mudasse o início de sua viagem à África e começasse por Angola, e que a solicitação foi atendida.
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