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Juros futuros longos sobem na véspera de votação da TLP

21/08/2017 16h44

O mercado de juros futuros da B3 teve uma segunda-feira mais agitada que a média. O volume negociado caminha para ser o maior para um começo de semana desde o fim de julho. E as taxas longas registraram alta, afetadas pelo aumento da percepção de risco.


A postura mais conservadora dos agentes se deu na véspera da votação da TLP, prevista para esta terça-feira. Com a reforma da Previdência neste ano fora do radar e o noticiário fiscal recente dando motivos para preocupação, investidores miram a aprovação pelo menos de medidas paralelas que ajudem a conter a piora de expectativas para a dívida pública. A TLP entra nessa lista por potencialmente reduzir o subsídio implícito nos financiamentos concedidos pelo BNDES - hoje corrigidos pela TJLP. Isso daria maior potência à política monetária e permitiria juros estruturalmente mais baixos no futuro.


Joaquim Kokudai, gestor da JPP Capital, diz que o fato de a votação da TLP ser por maioria simples ampara perspectiva de aprovação. Por outro lado, qualquer revés nesse sentido teria potencial de gerar estresse claro nos mercados, justamente porque a ideia é que se trata se uma matéria de fácil negociação do governo com o Congresso.


Uma amostra do risco potencial ao mercado em relação à TLP veio no fim da sessão do último dia 11, uma sexta-feira. Às 17h27, já na negociação estendida, o DI janeiro/2021 estava em 9,410% ao ano. Às 17h30, no entanto, a taxa havia saltado para 9,550%, empurrada por rumores de que o governo teria desistido de negociar a TLP com parlamentares. Os boatos foram desmentidos posteriormente, mas ficou a sensação de que a equipe econômica tem enfrentado mais dificuldade para avançar com a agenda de reequilíbrio fiscal e poderia estar sofrendo pressão de grupos políticos dentro do próprio governo.


Isso pode explicar a alta persistente da diferença entre DIs longos e curtos. O spread entre as taxas com vencimento em janeiro/2023 e janeiro/2019, por exemplo, alcançou hoje 202 pontos-base, de 197 pontos no pregão de sexta-feira. É o maior patamar desde dezembro de 2013, considerando taxas de seis e dois anos.


Mesmo os DIs curtos - mais sensíveis às expectativas para a política monetária - têm experimentado "steepening" (aumento de inclinação). Nesta segunda-feira, a diferença entre os DIs janeiro/2019 e janeiro/2018 - que captura apostas para a Selic ao fim de 2018 - subiu a 3,5 pontos-base, voltando a ficar positiva. É o maior nível em dez semanas.


O profissional da área de gestão de uma asset no Rio de Janeiro lembra que esse trecho da curva captura o risco em torno das eleições presidenciais do ano que vem. E que o noticiário recente continua inspirando cautela.


Hoje, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o Democratas terá candidato próprio à Presidência. Nos últimos meses, os mercados acompanharam notícias sobre ruídos entre Maia e o governo, o que piorou a percepção a respeito da capacidade do governo de aprovar reformas econômicas.


Ao fim do pregão regular, às 16h, o DI janeiro/2023 ia a 10,090% (10,010% no último ajuste). O DI janeiro/2021 avançava a 9,500% (9,420% no ajuste anterior). O DI janeiro/2019 subia para 8,070% (8,050% no último ajuste). E o DI janeiro/2018 caía a 8,035% (8,060% no ajuste anterior).