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Confiança do comércio sofre com noticiário político, diz FGV

25/04/2018 14h52

O aumento de turbulências no cenário político elevou a cautela do empresariado varejista quanto à retomada na economia, e derrubou a confiança do setor em abril, com recuo de 0,1 ponto no Índice de Confiança do Comércio (ICC) entre março e abril.

Para os próximos meses, não são descartadas novas quedas no indicador, afirmou nesta quarta-feira (25) Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio da fundação, pesquisa do qual o ICC é indicador-síntese.

Na prática, a perspectiva de acirramento da disputa pela corrida presidencial só deve conferir maior volatilidade ao cenário político, o que pode impactar a confiança dos comerciantes quanto ao futuro da economia.

O especialista observou que, de março para abril, as expectativas deram o tom da trajetória negativa do ICC. Entre os dois sub-indicadores componentes do índice, o Índice de Situação Atual (ISA) subiu 0,6 ponto; mas o Índice de Expectativas (IE) caiu 0,8 ponto, no período.

Ele comentou que, em abril, assim como em todos os meses para realização da sondagem, os empresários do setor foram questionados sobre obstáculos para retomada na confiança do setor. Do total entrevistado, 3% citou o ambiente político - sendo que a resposta para esta mesma pergunta mostrava fatia de 1,6% em março.

"Não é o mesmo percentual que encontramos em junho do ano passado, por exemplo, quando foi de 10%", afirmou ele, lembrando as ocorrências de maio de 2017, quando foram divulgadas conversas entre o presidente Michel Temer e o dono da JBS, Joesley Batista, com suspeitas de corrupção. "Mas ainda assim, é quase o dobro do mês anterior", admitiu.

Em abril, além de possíveis suspeitas de problemas com a lei envolvendo políticos como o senador Aécio Neves e o ex-governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin, ambos do PSDB, ocorreu a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. "O [ambiente] político voltou a incomodar [em abril]", afirmou Tobler.

Ao ser questionado se o ICC ainda poderia voltar a atingir 100 pontos, que seria a faixa de equilíbrio do índice, que vai até 200 pontos, o economista foi cauteloso. Ele destacou ser evidente que a recuperação econômica ainda está em curso, embora em velocidade lenta. Mas, ao mesmo tempo, reconheceu que, pelo menos no momento, não há como saber qual será a influência de possíveis problemas na política na recuperação na atividade.

Caso o mercado de trabalho volte a dar sinais de recuperação mais robusta, isto poderia levar a uma recuperação mais intensa do ICC. Mas não é certo que isso ocorra, admitiu. "Não temos como mensurar. Os fatores econômicos, a melhora na economia, tem se consolidado", disse, acrescentando, porém, que a economia não é blindada de fatores políticos.