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Ibovespa zera ganhos no ano e dólar bate R$ 3,72 com tensão no mercado

28/05/2018 14h12

O Ibovespa opera em baixa nesta sessão e zera os ganhos acumulados em 2018. A continuidade da greve dos caminhoneiros, o impacto cada vez maior que as concessões do governo terão sobre as contas do país e a falta de perspectiva de um desfecho para o impasse, que já dura mais de uma semana, fazem com que os investidores locais zerem suas posições.

Por volta das 14 horas o Ibovespa recuava 3,21%, aos 76.360 pontos, após mínima de 75.701 pontos (-4,05%). Com o desempenho, o índice passou a acumular queda de 0,08% em 2018 ? em 26 de fevereiro, quando fechou em 87.652 pontos, o Ibovespa avançava 14,7% no ano.

O giro financeiro do índice soma R$ 5,13 bilhões até o momento, o que implica volume de R$ 9,77 bilhões ao fim do pregão. Vale lembrar que os mercados americanos estão fechados hoje, o que faz com que atividade seja concentrada pelos investidores locais.

Petrobras PN (-8,59%) tem o maior giro do dia, com R$ 1,4 bilhão, enquanto Petrobras ON (-8,64%) movimenta R$ 193 milhões. Os papéis são fortemente influenciados pela percepção de interferência governamental nas atividades da empresa para atender aos pleitos dos caminhoneiros. Além disso, a perspectiva de greve dos petroleiros na quarta-feira cria perspectivas ainda piores para os papéis da estatal.

Com a forte retração de hoje, a Petrobras caiu da segunda para a quarta posição na lista de empresas do Ibovespa com maior valor de mercado ? agora, Ambev, Vale e Itaú Unibanco, nesta ordem, lideram o ranking.

"Até semana passada, o mercado parecia menosprezar os riscos [da greve]", diz Christian Laubenheimer, gestor da Platinum Investimentos. "Ninguém sabe qual vai ser a dimensão e os impactos no PIB e o mercado não trabalha com falta de previsibilidade. Os fundos estão dando stop, é uma bola de neve".

O gestor ainda ressalta que, além dos impactos na economia, as paralisações também podem gerar efeito nas eleições, uma vez que ainda é incerto quais candidatos conseguirão capitalizar o clima generalizado de insatisfação.

A incerteza em relação ao comportamento do governo penaliza especialmente as empresas estatais, como Eletrobras ON (-6,44%), Eletrobras PNB (-7,14%) e Banco do Brasil ON (-5,15%), uma vez que há a percepção que a independência de tais companhias não é mais garantida.

O setor de siderurgia é fortemente impactado pela possibilidade de interrupção nas atividades, com CSN ON (-7,59%), Usiminas PNA (-5,33%) e Gerdau PN (-4,73%) entre as quedas. Já Ecorodovias ON (-5,92%) e CCR ON (-4,15%) caem na esteira da suspensão da cobrança de pedágio para caminhões com eixo suspenso, uma das reivindicações dos grevistas que foi atendida pelo governo.

Por fim, destaque negativo para o setor de varejo, com Magazine Luiza ON (-3,46%), Lojas Renner ON (-3,61%) e Lojas Americanas PN (-4,21%) reagindo aos temores quanto ao estado dos estoques em meio ao desabastecimento gerado pelas greves.

Câmbio

O mercado de câmbio brasileiro começa a semana sob o peso da deterioração da percepção de risco em relação ao Brasil. O dólar subia mais de 1%, acima de R$ 3,72. De longe, o real é a moeda de pior desempenho nesta segunda-feira e caminha a passos largos para o quarto mês consecutivo de perdas.

Às 14h04, o dólar comercial subia 1,51%, a R$ 3,7206. Na máxima, foi a R$ 3,7271, pico desde o último dia 21 (R$ 3,7275).

A forte demanda por dólares se dá em meio ao entendimento de que a paralisação dos caminhoneiros representa um duro golpe não só ao governo do presidente Michel Temer, mas também à política econômica que protegia a Petrobras de ingerência política. A isso se soma a preocupação do mercado com o fato de candidatos considerados mais de centro - e teoricamente mais favoráveis às reformas econômicas - já estarem patinando em pesquisas de intenção de votos à Presidência da República.

Além disso, os investidores colocam na conta riscos de, com o governo enfraquecido, mais categorias passarem a exigir benefícios fiscais, o que ampliaria o rombo fiscal cuja solução (para o mercado, a reforma da Previdência) parece cada vez mais distante.

"A falta de disposição de várias esferas da sociedade neste evento, assim como no debate da reforma da Previdência no ano passado, mostra que será extremamente complicado para que o próximo governo, o próximo presidente e o próximo Congresso Nacional consigam avançar nas reformas econômicas, imperativas para o bom funcionamento econômico do país em um cenário externo mais desafiador", diz em nota um gestor de fundos multimercados.

A piora da percepção de risco é tamanha que nem os leilões de vendas de swaps cambiais pelo Banco Central (BC) - que ao longo da semana passada conseguiram aliviar o câmbio - impedem o dólar de retomar o nível de R$ 3,70. Com a venda dos 15 mil contratos de swap ocorrida pela manhã, o BC aumentou para US$ 5,75 bilhões o volume de dinheiro "novo" já colocado no mercado neste mês. A expectativa é que a operação de amanhã eleve o total de maio para US$ 6,5 bilhões.

Amanhã será realizado o último leilão de rolagem dos contratos de swap cambial a vencer em 1º de junho. E o BC deve concluir na terça a rolagem de todos os US$ 5,65 bilhões que deixariam o mercado no começo do mês que mês. Com os mercados nervosos, porém, espera-se que o BC já sinalize na semana que vem o início das rolagens dos contratos que expiram em julho, que somam US$ 8,562 bilhões.

"Mantido o padrão recente, se o real continuar com desempenho pior pode ser que o BC volte a elevar as ofertas [líquidas] de swap. Mas ainda não acho que é o caso. O volume de 15 mil contratos já é considerável", diz Roberto Campos, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos. A Absolute adicionou recentemente posição comprada em dólar em seu portfólio. "De forma geral, estamos de neutros nos mercados a pessimistas", afirma o gestor.

Juros

O mercado de juros não escapa de uma piora generalizada dos ativos brasileiros nesta segunda-feira. As taxas futuras, negociadas na B3, voltam a operar em alta em todos os seus vencimentos. A escalada só não é mais intensa, na avaliação de especialistas, por causa da intervenção do Tesouro Nacional na renda fixa.

O Tesouro começou a executar hoje a sua estratégia para conter o nervosismo no mercado. A instituição se dispôs a comprar 1 milhão de NTN-Fs, que são títulos públicos com rendimento prefixado. Num primeiro momento, operadores consideraram a oferta menor do que seria necessário para acalmar o mercado, o que reforçou pontualmente o movimento de alta das taxas. Mas, na operação, o Tesouro acabou comprando efetivamente apenas 28,25% do lote foi negociado.

Fica a impressão de que os participantes ainda estão se ajustando à operação do Tesouro e o alívio não deve ser imediato, embora ainda seja esperado. Investidores que operam no mercado de DI, por exemplo, teriam de trocar suas posições nos juros futuros por exposição em títulos públicos, de modo a se beneficiar das compras do Tesouro.

A intervenção faz parte da estratégia do Tesouro, anunciada na última sexta-feira, de "fornecer suporte ao mercado de títulos públicos garantindo bom funcionamento desse e de outros mercados correlatos". Ainda conforme o comunicado do fim da semana passada, a atuação ocorrerá com leilões diários de compra, ou de compra e venda, de NTN-F nos dias 28, 29 e 30 de maio de 2018.

Para o sócio e gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella, a atuação da instituição está ajudando a atenuar uma piora maior. "Os juros longos poderiam ter 20 pontos-base de alta hoje", exemplifica. A intervenção do Tesouro "ajudou a segurar a piora do mercado, mas não o suficiente para diminuir o nível das taxas por enquanto", aponta.

A semana está começando com turbulência nos mercados já que, mesmo com as concessões oferecidas pelo governo, a greve dos caminhoneiros ainda persiste em várias partes do país. O foco segue na crise dos combustíveis e seus desdobramentos. A depender de uma resolução para o problema, Portella vê espaço para alguma melhora dos ativos financeiros. "O mercado está assimétrico: se vier uma notícia boa, pode ter uma acalmada mais ampla."

Às 14h07, o DI janeiro/2019 subia a 6,725% (6,675% no ajuste anterior);

O DI janeiro/2020 avançava a 7,670% (7,590% no ajuste anterior);

E o DI janeiro/2021 operava a 8,780% (8,760% no ajuste anterior)

Entre as taxas ainda mais longas, o DI janeiro/2023 aumentava a 10,330% (10,290% no ajuste anterior); e oDI janeiro/2025 marcava 10,950% (10,900% no ajuste anterior);

O DI janeiro/2027 se situava a 11,310% (11,270% no ajuste anterior).